São Cirilo de Alexandria
Comentário ao Evangelho de Lucas
“Os
discípulos são chamados a serem os iniciadores e mestres do mundo inteiro”
Um discípulo não é maior que o seu mestre,
mas quando terminar a aprendizagem será como o mestre. Os bem-aventurados
discípulos estavam chamados a serem os iniciadores e mestres do mundo inteiro.
Por isso era conveniente que se avantajassem aos demais em uma sólida formação
religiosa: necessitavam conhecer o caminho da vida evangélica, serem mestres
consumados em toda boa obra, repartir aos seus alunos uma doutrina clara, sã e
vinculada às regras da verdade; como aqueles que já tinham fixado seu olhar na
Verdade e possuíam uma mente ilustrada pela luz divina. Somente assim evitariam
de se converterem em cegos, guias de
cegos. De fato, aqueles que estão envoltos nas trevas da ignorância não
poderão conduzir ao conhecimento da verdade aqueles que se encontram em
idênticas e calamitosas condições. Pois de tentá-lo, ambos acabarão caindo no
fosso das paixões.
A seguir, e para
cortar pela raiz a tão difundida doença da vanglória, de maneira que em nenhum
momento tentem superar o prestígio dos mestres, acrescenta: Um discípulo não é maior que o seu mestre.
E se alguma vez ocorresse que alguns discípulos alcançassem tais progressos,
que chegassem a se equiparar em mérito aos seus antecessores, mesmo assim devem
permanecer dentro dos limites da modéstia dos mestres e tornarem-se seus
imitadores.
É o que assegura
Paulo, dizendo: Segui o meu exemplo, como
eu sigo o de Cristo. Portanto, se o mestre se abstém de julgar, por que tu
estabeleces sentenças? Realmente, ele não
veio para julgar o mundo, mas para usar de misericórdia com ele. Cujo
sentido é este: Ele diz “se eu não julgo, tu também não julgues, sendo
discípulo como és”. E se por acréscimo és mais culpável que aquele a quem
julgas, como tua cara não se encherá de vergonha? O Senhor esclarece isto mesmo
com outra comparação: Diz: Por que vês o
cisco no olho do teu irmão?
Com silogismos sem
volta trata de persuadir-nos de que nos abstenhamos de julgar aos outros;
examinemos antes nossos corações e tratemos de expulsar as paixões que se
aninham neles, implorando o auxílio divino. O Senhor cura os corações
destroçados e nos liberta das indisposições da alma. Se tu pecas mais e
gravemente que os outros, por que lhes reprovas seus pecados esquecendo-te dos
teus? Assim, este preceito é necessariamente salutar para todo aquele que
deseje viver piedosamente, porém o é sobretudo para aqueles que têm recebido o
encargo de instruir aos demais.
E se forem bons
e capazes, apresentando-se a si mesmos como modelos da vida evangélica, então
sim poderão repreender com liberdade aqueles que não querem imitar sua conduta,
como àqueles que, aderindo aos seus mestres, não demonstram um comportamento
religioso.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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