quarta-feira, 27 de março de 2019

Ângelus: III Domingo da Quaresma - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
III Domingo da Quaresma, 24 de março de 2019

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho deste III Domingo de Quaresma (Lc 13,1-9) fala-nos da misericórdia de Deus e da nossa conversão. Jesus conta a parábola da figueira estéril. Um homem plantou uma figueira na sua vinha, e no verão vai muito confiante procurar o seu fruto mas não o encontra, pois aquela árvore é estéril. Levado por aquela desilusão que se repetiu por três anos, pensa em cortar a figueira, para plantar outra árvore. Chama então o camponês que está na vinha e manifesta-lhe a sua insatisfação, intimando-lhe que corte a árvore, para que não ocupe inutilmente o terreno. Mas o vinhateiro pede ao dono que tenha paciência e que conceda um ano de tempo, durante o qual ele mesmo se preocupará por dedicar um cuidado mais atento e delicado à figueira, para estimular a sua produtividade. Esta é a parábola. O que representa esta parábola? O que representam as personagens desta parábola?

O dono representa Deus Pai e o vinhateiro é imagem de Jesus, enquanto a figueira é símbolo da humanidade indiferente e árida. Jesus intercede junto do Pai a favor da humanidade - e fá-lo sempre - pedindo-lhe para aguardar e conceder ainda mais tempo, a fim de que ela possa produzir os frutos do amor e da justiça. A figueira que o dono da parábola quer extirpar representa uma existência estéril, incapaz de doar, incapaz de praticar o bem. É símbolo de quem vive para si mesmo, satisfeito e tranquilo, instalado nas próprias comodidades, incapaz de dirigir o olhar e o coração para quantos estão ao seu lado em condições de sofrimento, pobreza e dificuldade. A esta atitude de egoísmo e de esterilidade espiritual, contrapõe-se o grande amor do vinhateiro em relação à figueira: pede ao dono que espere, ele tem paciência, sabe esperar, dedica-lhe o seu tempo e o seu trabalho. Promete ao dono que terá um cuidado especial para com a árvore infeliz.

E esta similitude do vinhateiro manifesta a misericórdia de Deus, que nos concede um tempo para a conversão. Todos temos necessidade de nos converter, de dar um passo em frente, e a paciência de Deus, a misericórdia, acompanha-nos nisto. Não obstante a esterilidade, que às vezes marca a nossa existência, Deus tem paciência e oferece-nos a possibilidade de mudar e fazer progressos no caminho do bem. Mas a dilação implorada e concedida na expetativa de que a árvore finalmente frutifique indica também a urgência da conversão. O vinhateiro diz ao dono: «Senhor, deixa-a mais este ano» (v. 8). A possibilidade da conversão não é ilimitada; por conseguinte é necessário colhê-la imediatamente; caso contrário perder-se-ia para sempre. Podemos pensar nesta Quaresma: o que devo fazer para me aproximar mais ao Senhor, para me converter, e “cortar” o que não está bem? “Não, esperarei a próxima Quaresma”. Mas estarei vivo na próxima Quaresma? Pensemos hoje, cada um de nós: o que devo fazer face a esta misericórdia de Deus que me espera e perdoa sempre? O que devo fazer? Podemos confiar infinitamente na misericórdia de Deus, mas sem abusar dela. Não devemos justificar a preguiça espiritual, mas aumentar o nosso esforço para corresponder prontamente a esta misericórdia com sinceridade de coração.

No tempo de Quaresma, o Senhor convida-nos à conversão. Cada um de nós deve sentir-se interpelado por esta chamada, corrigindo algo na própria vida, no modo de pensar, de agir e viver as relações com o próximo. Ao mesmo tempo, devemos imitar a paciência de Deus que confia na capacidade que todos têm de se poderem “reerguer” e retomar o caminho. Deus é Pai e não apaga a chama ténue, mas acompanha e ampara quem é débil para que se fortaleça e ofereça o seu contributo de amor à comunidade. A Virgem Maria nos ajude a viver estes dias de preparação para a Páscoa como um tempo de renovação espiritual e de abertura confiante à graça de Deus e à sua misericórdia.


Fonte: Santa Sé.

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