sábado, 22 de fevereiro de 2025

Homilia: VII Domingo do Tempo Comum - Ano C

São Cesário de Arles
Sermão 25
Dá ao mendigo o que esperas receber de Cristo

Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Doce é o nome da misericórdia, irmãos; e se o nome o é, quanto mais o será a realidade! Ainda que todos os homens queiram possuí-la, por desgraça nem todos agem de maneira que mereçam recebê-la. Todos querem receber misericórdia, mas poucos são os que a querem dar.

Como te atreves a pedir o que não dás? Neste mundo deve dar misericórdia quem deseja recebê-la no céu. Por isso, irmãos, já que todos queremos misericórdia, adotemo-la como protetora nesta vida, para que nos livre do mal no futuro. Com efeito, a misericórdia está no céu e a ela se chega praticando a misericórdia na terra. Assim o afirma a Escritura: Tua misericórdia, Senhor, está no céu.

Portanto, a misericórdia é terrena e celestial, ou seja, humana e divina. Qual é a misericórdia humana? Aquela pela qual socorres as necessidades dos pobres. E qual é a misericórdia divina? Sem dúvida a que concede o perdão dos pecados. Tudo o que a misericórdia humana dá no caminho a misericórdia divina devolve na pátria definitiva.

Deus tem fome e frio em todos os pobres do mundo, como Ele mesmo afirma: Tudo o que fizestes ao menor dos meus irmãos, a mim o fizestes. Deus, que se digna dar desde o céu, quer receber na terra.

Que tipo de homens somos que, quando Deus dá, queremos receber e, quando pede, não queremos dar? Quando um pobre tem fome, Cristo padece necessidade. Ele o afirma: Tive fome e me destes de comer. Não desprezes, portanto, a miséria dos pobres, que queres ter a firme esperança de que teus pecados te serão perdoados; Cristo, em todos os pobres, digna-se ter fome e sede, e o que recebe na terra o devolve no céu.

Pergunto-vos, irmãos, o que quereis ou o que buscais quando vindes à igreja? Que outra coisa senão a misericórdia? Dai, portanto, a terrena e recebereis a celestial. O pobre te pede e tu pedes a Deus; ele pede um bocado, tu a vida eterna. Dá ao mendigo o que esperas receber de Cristo; ouve-o quando te diz: Dai e vos será dado. Não sei como te atreves a receber o que não queres dar. Por isso, quando vindes à igreja, dai esmola aos pobres de acordo com vossas possibilidades. O que puder, dê-lhes dinheiro; o que não puder, ofereça-lhes um pouco de vinho. E se nem isto tiver, sempre poderá oferecer-lhes um bocado de pão: se não inteiro, ao menos um pedaço, para que se cumpra o que o Senhor nos exorta pela boca do profeta: Reparte o teu pão com o que tem fome. Não disse que dês tudo, não aconteça que tu mesmo sejas pobre e acabes sem nada.

Se agimos com generosidade, irmãos, Cristo nos dará aquilo do qual carece nos pobres. Por isso Deus permite que existam pobres no mundo, para que todo homem tenha um modo de pagar por seus pecados. Se não houvesse pobres não poderíamos dar esmola e, portanto, não receberíamos o perdão. Deus pode tornar ricos todos os homens, mas quis aproximar-se de nós na miséria dos pobres: assim o pobre com a paciência e o rico pela esmola podem receber a graça de Deus. Pelo nosso bem existe a carência dos pobres.

Observa e contempla: o dinheiro e o Reino. Podem ser comparados? Tu dás dinheiro aos pobres e recebes o Reino de Cristo; doas alimento e recebes de Cristo a vida eterna; doas roupas e recebes de Cristo o perdão dos pecados. Portanto, não desprezemos os pobres, irmãos, mas cuidemos deles e alegremo-nos de seu bem.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 641-643. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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