Interessante texto sobre a importância da imagem na evangelização publicado hoje no site Vatican News, fazendo referência inclusive à Liturgia. O texto, porém, possui algumas imprecisões históricas, indicadas nas notas ao final. Segue o artigo na íntegra:
Vivemos em um tempo da busca de uma boa imagem. Fotografias que consigam traduzir emoções, escolhas, perfis, etc. Para refletirmos sobre a importância da imagem, o Vatican News contou com um artigo do Gestor de Design Fernando Nunes (Londrina):
Fotografia, dentre tantos significados etimológicos, um em especial nos chama a atenção: “escrita da luz”. Sabemos que muitos termos utilizados na tecnologia são próximos ou até idênticos aos teológicos, e na fotografia, existe uma vasta riqueza destes termos, aos quais precisamos nos aprofundar, para que toda a sacralidade que captamos com os olhos possa se tornar arte e evangelização.
Há em nossas paróquias muitos fotógrafos que precisam ser verdadeiros “escritores da luz”. Não se escreve um bom texto sem antes conhecer a matéria de estudo, e não se escreve sobre alguém, sem conhecê-lo, e por último não se escreve bem sem regras gramaticais.
Ao criar uma fotografia, estamos gerando uma imagem. Porém, se esta fotografia for pensada, imbuída de sentido e finalidade, faremos um código visual, uma mensagem evangelizadora. Não será somente um fragmento do tempo, uma eternização, mas uma mensagem a ser decifrada, tornando-se uma experiência de fé.
Vamos comparar agora o processo da fotografia com os vitrais. Primeiro é necessária a composição visual, execução, a luz passa por dentro da lente, registra a imagem, depois a imagem é exposta em alguma mídia de comunicação, onde ela revela sua finalidade.
A luz é citada várias vezes nas Sagradas Escrituras; Jesus se identifica como luz: “Eu sou a luz do mundo.” (Jo 8,12). Quando falamos de vitrais, nos recordamos da luz e de seu papel na evangelização por meio da imagem. Um vitral sem a luz não tem como expressar sua beleza, mas antes disso é importante que conheçamos um pouco do contexto em que os vitrais se tornaram fonte de evangelização.
No período medieval, não existiam estruturas nem instituições de ensino catequético [1]. A fé era transmitida no seio familiar, e através do convívio com os ritos e lugares sagrados. Como naquele período, toda a Liturgia e as Sagradas Escrituras não eram traduzidas na linguagem vernácula [2], a paróquia era uma grande catequese. Além de toda a Liturgia, a arte servia de grande amparo catequético, e os vitrais estavam inseridos neste contexto, pois traziam múltiplas histórias bíblicas, do Gênesis ao Apocalipse, e também a vida dos santos como um testemunho.
A beleza translúcida dos vitrais assim como sua composição visual bem elaborada, as cores, encantam todos aqueles que os visualizam. Sem o suporte da arte, a mensagem poderia até ser boa, mas não chamaria a atenção, e não permitiria ver pelos olhos do autor a sua experiência íntima com o sagrado. A mensagem do Evangelho servia de inspiração para o desenvolvimento dos vitrais, através da experiência pessoal e da busca por novas técnicas de evangelização, surgiu um grande tesouro e uma das mais belas formas visuais de se ilustrar a vida de Cristo.
Pensem na lógica dos vitrais. Primeiro existe a composição visual, ou seja, o projeto de como irá ficar o vitral depois de pronto, em seguida, execução, depois ele é colocado no alto das igrejas. A luz passa pelo vitral, e revela sua finalidade, trazendo cor e luz para todos os que frequentam aquele espaço sagrado, servindo para ilustrar e educá-los na fé, além de testemunhar a vida de nossos santos.
Percebe que ambos têm um processo parecido? Ambos precisam de luz para existir. O vitral é colocado no alto das igrejas, que era o meio de evangelização onde se expressava a arte. Da mesma forma, a fotografia é colocada nas mais diversas mídias de comunicação, ela está presente em quase todas, e muitas vezes não percebemos a eficácia desta poderosa ferramenta de evangelização.
Entretanto, temos de pontuar algo muito importante: a finalidade. A exemplo dos vitrais, nossas fotografias precisam ter a finalidade de evangelizar.
A fotografia como código visual precisa despertar em seu espectador experiências de fé. Para isto, precisa ser pensada e composta com essa finalidade, não pode ser somente um clique, deve ser um anúncio. Ao ver uma fotografia gerada com a intenção e finalidade de evangelizar, o espectador deve ser afetado e motivado a ir ao encontro dos códigos visuais ali presentes.
A fotografia está inserida na maioria das mídias de comunicação, seja nas tradicionais, no caso das mídias impressas, até nas mais inovadoras. Os meios de comunicação seculares investem cada vez mais em imagens potentes, capazes de criar novas culturas: somos constantemente bombardeados por informações imagéticas, nem sempre com boas finalidades.
As fotografias, da mesma forma que os vitrais, devem ser “iluminadas”, cheias de vida, e tão belas ao ponto de serem apreciadas, e não somente vistas como uma recordação de uma festividade, ou evento paroquial. É necessário transcender.
A evangelização por meio da fotografia exige preparo, sensibilidade, espiritualidade, pois são as imagens palpáveis que construirão a imagem do invisível e sem a experiência pessoal, elas se tornarão vazias de significado.
Somos chamados hoje a retomar a evangelização por meio da imagem, para que tenhamos conteúdos católicos de qualidade com imagens de qualidade e geradas para evangelizar. Sabemos que uma imagem muitas vezes nos fala mais do que os textos, ou sem ela nem ao menos chegamos até eles.
A fotografia religiosa é um novo convite a evangelizar por meio da imagem e auxiliar a Igreja na produção de conteúdos imagéticos, dando suporte ao trabalho das redes sociais, sites, revistas e as mais vastas mídias de comunicação católica. No Brasil já existem bancos de imagens católicas colaborativos onde os agentes da Pastoral da Comunicação produzem e disponibilizam imagens de boa qualidade para o serviço de comunicação da Igreja.
Somos chamados a ter as câmeras nas mãos e o coração na missão!
Notas do autor deste blog:
[1] É falso afirmar que não haviam instituições de ensino ou catequéticas na Idade Média, uma vez que justamente neste período se desenvolveram as escolas e as universidades junto aos mosteiros e catedrais, apesar das limitações da época (os livros eram muito caros, pois eram copiados à mão).
[2] O latim era praticamente a única língua usada para a escrita neste período, uma vez que as línguas nacionais ainda estavam se formando e não possuíam uma gramática estruturada.
Rosácea norte da Catedral de Chartes (França) |
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