Santo Efrém
Diatessaron
Até
o tempo em que daria o seu Corpo e o seu Sangue
Nosso Senhor
multiplicou o pão no deserto, em Caná ele transformou a água em vinho. Assim os
habituava ao seu pão e ao seu vinho, até o momento em que daria o seu Corpo e o
seu Sangue. Ele fez que provassem um vinho e um pão passageiros para ocasionar
neles o desejo do seu Corpo e Sangue vivificantes. Ele deu-lhes com
liberalidade estas pequenas coisas, para que soubessem que o seu dom supremo
seria dado de forma gratuita. Deu-lhes gratuitamente, embora pudessem
comprá-los com o que tinham, para que eles compreendessem que não lhes exigiria
pagamento por uma dádiva que não tem preço; de fato, se pudessem pagar o preço
do pão e do vinho, certamente não poderiam pagar o preço do seu Corpo e do seu Sangue.
Não só os
cumulou gratuitamente com os seus dons, mas ainda os mimou afetuosamente. Na
verdade, ele deu-nos estas coisas gratuitamente para atrair-nos, a fim de que
buscássemos e recebêssemos gratuitamente esse dom imenso que é a Eucaristia.
Aquelas porções do pão e do vinho que nos deu são agradáveis ao paladar, mas a
dádiva de seu Corpo e seu Sangue é proveitoso para o espírito. Ele nos atraiu
através destes dons agradáveis, para atrair-nos ao que dá vida à alma. Ocultou
a doçura no vinho que fez, para revelar aos convidados que tesouro admirável
está oculto em seu Sangue vivificante.
Como primeiro
sinal, ele fez um vinho que alegra aos convidados para mostrar-lhes que o seu
Sangue daria alegria a todos os povos. O vinho é uma parte em todas as alegrias
que se possa imaginar e também toda libertação está diretamente relacionada com
o mistério do seu Sangue. Concedeu aos hóspedes um maravilhoso vinho que
modificou suas mentes para que compreendessem que o ensinamento que revelaria
transformaria os seus corações. O que inicialmente era água foi transformado em
vinho nas talhas; era o símbolo do primeiro mandamento levado à perfeição; a
água tinha se transformado na lei perfeita. Os convidados bebiam água, mas sem
o gosto da água. Da mesma forma, quando escutamos os antigos preceitos, os
desfrutamos com o seu novo sabor. O preceito: olho por olho foi substituído e
elevado à perfeição: Se alguém te atingir
a face direita, oferece-lhe também a esquerda.
A obra do Senhor
tudo alcança; em um cesto, ele multiplicou um pouco de pão. Aquilo que os
homens fazem durante dez meses de trabalho, seus dez dedos fizeram
instantaneamente. Suas mãos eram como terra sob o pão, e a sua Palavra como um
trovão em cima dele; o sussurro dos seus lábios difunde-se sobre eles como o
rocio e sua boca era como o sol; em um breve espaço de tempo ele cumpriu o que
normalmente levaria muito tempo. Daquela pequena quantidade de pão brotaram
vários tipos de pães; como na época da bênção primeva: Sede fecundos e multiplicai-vos. Os pedaços de pão, antes
infecundos e insignificantes, com a bênção de Jesus - como seio fecundo de
mulher - deram frutos dos quais sobraram muitos fragmentos.
O Senhor revelou
a eficácia penetrante da sua Palavra para quem o escutava, e mostrou a rapidez
com a qual distribuía as suas dádivas para aqueles que ele favorecia. Não
multiplicou o pão tanto quanto podia, mas o suficiente para os convidados. O
milagre não alcançou a medida do seu poder, mas foi de acordo com a fome dos
famintos. Realmente, se o milagre fosse medido por seu poder, seria impossível
avaliar-se o fruto. Mesmo com a fome de milhares de pessoas, o milagre
excedeu-lhes em doze cestos. Em todos os artesãos, o poder é abaixo da demanda
dos compradores: eles não podem fazer tudo o que o cliente pede. As coisas que
Deus realiza, porém, transcendem os desejos. E: recolham os pedaços que sobraram, para que nada se perca, e não se
pense que o Senhor agiu apenas em alegoria. Mas, quando os restos forem
guardados um dia ou dois, acreditarão que o Senhor realmente o fez e que não se
trata de uma ilusão infundada.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 435-436. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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