Na terça-feira, 01 de agosto de 2023, o Patriarca de Lisboa, Cardeal Manuel José Macário do Nascimento Clemente, presidiu a Missa de abertura da 37º Jornada Mundial da Juventude (JMJ) no Parque Eduardo VII em Lisboa, nomeado para a ocasião como “Colina do Encontro”. Eis sua homilia na ocasião:
Homilia da Missa de Abertura da Jornada Mundial da Juventude
Uma constante visitação
Caríssimos
amigos aqui chegados do mundo inteiro para a Jornada Mundial da Juventude
Lisboa 2023,
Bem-vindos
todos! Bem-vindos também na amplitude ecumênica, interreligiosa e de boa
vontade que estes dias têm e congregam. Desejo que vos sintais “em casa”, nesta
casa comum em que viveremos a Jornada Mundial. Bem-vindos!
A
Missa que celebramos, na expectativa da chegada do nosso querido Papa
Francisco, é a da Visitação de Nossa Senhora, lema geral da Jornada: Maria levantou-se
e partiu apressadamente ao encontro de Isabel. É um passo evangélico que nos
inclui também.
Ouvimo-lo
há pouco: «Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para
a montanha, em direção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e
saudou Isabel» (Lc 1,39-40).
Pôs
se a caminho, dirigiu-se apressadamente para a montanha, entrou em casa de
Zacarias e saudou Isabel. Três pontos em que me deterei brevemente, nesta
palavra inaugural.
Maria
pôs-se a caminho. Um caminho difícil e sem os meios de transporte de que hoje
dispomos. E era uma jovem como vós, que há pouco concebera Jesus, do modo único
que o Evangelho relata.
Também
vós vos pusestes a caminho. Foi para muitos um caminho difícil pela distância,
as ligações e os custos que a viagem envolveu. Foi preciso juntar recursos,
desenvolver atividades para obtê-los e contar com solidariedades que graças a
Deus não faltaram.
De
longe ou mais perto, pusestes-vos a caminho. É muito importante pôr-se a
caminho. Assim devemos encarar a própria vida, como caminho a percorrer,
fazendo de cada dia uma nova etapa.
É
verdade que hoje muita coisa vos pode deter, caros amigos, com a possibilidade
de substituirmos a realidade verdadeira, que só se atinge a caminho dos outros,
como realmente são, pela aparência virtual de um mundo à escolha. Um mundo à
escolha, diante de uma tela e dependente de um clique que o mude por outro.
A
virtualidade mantém-nos sentados, diante de meios que facilmente nos usam
quando julgamos usá-los. Bem pelo contrário, a realidade consistente põe-nos a
caminho, ao encontro dos outros e do mundo como ele é, tanto para admirá-lo
como para fazê-lo melhor.
Agradecemos
aos meios de comunicação a possibilidade de nos conhecermos mais, a nós aos
outros e ao mundo. Vivemos midiaticamente e já não saberíamos viver de outro
modo. Contamos com o seu apoio, mas não nos dispensamos de caminhar por nós
mesmos, de contatar e verificar diretamente a realidade que nos toca, a nós e a
todos.
Valeu
a pena o caminho que percorrestes para chegar aqui e vos encontrardes nestes
dias, na variedade do que sois e na qualidade que trazeis, cada um e cada uma,
de cada terra, língua e cultura. Nada pode substituir este caminho pessoal e de
grupo, ao encontro do caminho de todos.
Maria
levava já no seu ventre o “bendito fruto” que era Jesus. Os cristãos levam-no
também, espiritual mas realmente, porque O recebem na Palavra, nos sacramentos
e na caridade onde Ele se oferece. E como acreditamos em Jesus como caminho
para Deus, caminhamos com Ele para levá-lo aos outros. No mesmo impulso que
levava Maria, no mesmo Espírito que nos leva a nós. A caminho!
Maria
dirigiu-se apressadamente para a montanha, como ouvimos também.
Não
é por acaso que o texto fala da pressa de Maria, como em outros passos
evangélicos se fala da urgência do anúncio, do testemunho e da visitação
permanente aos outros, como havemos de fazer.
Caros
jovens, sabeis muito bem que quando o coração está cheio, rapidamente
transborda. Como é impossível sufocar o que vos vai alma, quando é realmente
forte e mobilizador.
Maria
levava consigo o próprio Jesus que concebera. E Jesus é “Deus conosco”, para
ser Deus com todos. Daí a pressa de levá-lo a Isabel, mesmo subindo montanhas.
Vós
conheceis esta “pressa”, porque também outros se apressaram a vir ao vosso
encontro para vos levar Jesus e tudo quanto Ele vos oferece de horizontes
largos e vida em abundância.
Nem
precisais perceber sempre as palavras, como acontece agora, entre tantas
línguas aqui reunidas. Porque os próprios olhos falam e vos sentis seguros e
confiantes, na atmosfera cristã que em conjunto criais e nos gestos simples com
que comunicais. Há verdadeiramente uma “pressa no ar”, que circula entre vós e
onde chegareis nestes dias. Um ar em que o próprio Espirito divino circula, com
a prontidão que só Deus tem e comunica.
Quando
disse ao Papa Francisco que era este precisamente o lema da nossa Jornada -
Maria dirigiu-se apressadamente... -, ele logo acrescentou que sim,
apressadamente, mas não ansiosamente.
Na
verdade, a ânsia é do que ainda não temos e pretendemos inquietos. A pressa é
diferente, é partilhar o que já nos leva. Por isso é uma urgência serena e sem
atropelo. Como aqui chegastes e como aqui estareis, levando aos outros o que
vos traz a vós.
Lembro
a propósito um trecho dos primeiros cristãos, mesmo em uma sociedade que
demorava em entendê-los: «No íntimo do vosso coração, confessai Cristo como
Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que
vo-la peça; com mansidão e respeito, mantendo limpa a consciência...» (1Pd
3,15-16).
Assim
estareis vós, nesta pressa sem ansiedade, como quem partilha o que vai tendo. O
que vos trouxe aqui e levareis acrescentado pela graça destes dias!
Finalmente,
dizia o texto que Maria entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.
Caros
amigos, assim também vós chegareis uns aos outros, com verdadeira e alegre
saudação.
O
Evangelho conta-nos a alegria daquele encontro de Maria com Isabel e do
reconhecimento mútuo em que ocorreu. A saudação de Maria foi tal que suscitou
na sua parente a exclamação que tantas vezes repetimos: «Bendita és tu entre as
mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!» (Lc 1,42). E às palavras de
Isabel correspondeu Maria com um dos hinos mais belos que cantamos desde então,
o Magnificat.
É
muito importante que seja assim convosco e com todos. Na verdade, cada encontro
que tivermos deve ser inaugurado com verdadeira saudação, em que troquemos
entre nós palavras de acolhimento sincero e plena partilha.
Lisboa
acolhe-vos de coração inteiro, e assim as outras terras em que já estivestes ou
estareis deste Portugal, também vosso. Acolhem-vos as famílias e as
instituições que disponibilizaram os seus espaços e o seu serviço. Agradecendo
a todas elas, entrevejo em cada uma a casa de Isabel, que acolheu Maria e o Jesus
que lhe trazia!
Falta
muito disto mesmo no mundo em que estamos, quando nem damos bem pelos outros,
nem reparamos como devemos naqueles que encontramos.
Aprendamos
com Maria a saudar a todos e cada um. Pratiquemo-lo intensamente nos dias desta
Jornada Mundial da Juventude. O mundo novo começa na novidade de cada encontro
e na sinceridade da saudação que trocarmos. Para que sejamos pessoas entre
pessoas, em mútua e constante visitação!
Desejo-vos
a todos uma feliz e estimulante Jornada Mundial da Juventude!
Lisboa, Parque Eduardo VII (Colina do Encontro), 01 de agosto de 2023.
Cardeal Manuel Clemente
Patriarca de Lisboa
Fonte: JMJ Lisboa 2023 / Patriarcado de Lisboa.
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