Viagem Apostólica a Portugal
XXXVII Jornada Mundial da Juventude
Cerimônia de Acolhida
Discurso do Papa Francisco
Parque Eduardo VII (Colina do Encontro), Lisboa
Quinta-feira, 03 de agosto de 2023
Queridos jovens, boa tarde!
Bem-vindos! Bem-vindos e obrigado por estardes aqui. Fico
feliz por vos ver! E feliz fico também ao escutar o simpático barulho que
fazeis, contagiando-me com a vossa alegria. É belo estarmos juntos em Lisboa:
para aqui fostes chamados por mim, pelo Patriarca - a quem agradeço as palavras
que me dirigiu -, pelos vossos Bispos, sacerdotes, catequistas, animadores.
Agradeçamos a todos aqueles que vos chamaram e a quantos trabalharam para
tornar possível este encontro: façamo-lo com uma grande salva de palmas! Mas
foi sobretudo Jesus quem vos chamou; agradeçamos, pois, a Jesus com outra
grande salva de palmas!
Vós não estais aqui por acaso. O Senhor chamou-vos, não só
nestes dias, mas desde o início dos vossos dias. Chamou-nos a todos desde o
início da vida. Chamou-vos pelos vossos nomes. Como ouvimos na Palavra de Deus,
Ele chamou-nos pelo próprio nome. Chamados pelo nome: tentai
imaginar estas três palavras escritas em letras grandes e, em seguida, pensai
que estão escritas dentro de vós, nos vossos corações, como que formando o título
da vossa vida, o sentido daquilo que sois. Tu foste chamado pelo teu
nome: tu... além, tu... ali, tu... aqui, e também eu, todos nós fomos
chamados pelo próprio nome. Não fomos chamados automaticamente, fomos chamados
pelo nome. Pensemos nisto: Jesus chamou-me pelo meu nome. São palavras escritas
no coração; pensemos, pois, que estão escritas dentro de cada um de nós, nos
nossos corações, e formam uma espécie de título para a tua vida, o sentido do
que és, o sentido daquilo que cada um é. Foste chamado pelo teu nome.
Nenhum de nós é cristão por acaso, todos fomos chamados pelo nosso nome. Ao
princípio da teia da vida, ainda antes dos talentos que possuímos, antes das
sombras, das feridas que trazemos dentro de nós, recebemos um chamado. Fomos
chamados, por quê? Porque amados. Fomos chamados, porque somos amados. É belo!
Aos olhos de Deus somos filhos preciosos, que Ele cada dia chama para abraçar,
para encorajar; para fazer de cada um de nós uma obra-prima única, original.
Cada um de nós é único e original, e não chegamos sequer a vislumbrar a beleza
de tudo isto.
Queridos jovens, nesta Jornada Mundial da Juventude,
ajudemo-nos mutuamente a reconhecer esta realidade; sejam estes dias ecos
vibrantes do chamado amoroso de Deus, porque somos preciosos a seus olhos,
apesar do que às vezes os nossos olhos veem; é que às vezes os nossos olhos
estão enevoados pela negatividade e ofuscados por tantas distrações. Sejam dias
em que o meu nome, o teu nome, através de irmãos e irmãs de muitas
línguas, de muitas nações (vimos tantas bandeiras), que o pronunciam com
amizade, ressoe como uma notícia única na história, porque único é o pulsar do
coração de Deus por ti. Sejam dias para fixar no coração que somos amados como
somos. Não como gostaríamos de ser, mas como somos agora. E este é o ponto de
partida da JMJ, mas sobretudo o ponto de partida da vida. Jovens moços e moças,
somos amados como somos, sem maquiagem. Compreendeis isto?
E cada um de nós é chamado pelo nome. Não se trata de um
simples modo de dizer, é Palavra de Deus (cf. Is 43,1; 2Tm 1,9).
Amigo, amiga, se Deus te chama pelo nome significa que, para Ele, nenhum de nós
é um número; mas é um rosto, é uma face, é um coração. Quero que cada um de vós
note uma coisa: muitos, hoje, sabem o teu nome, mas não te chamam pelo nome.
Com efeito, o teu nome é conhecido, aparece nas redes sociais, é processado por
algoritmos que lhe associam gostos e preferências. Mas tudo isso não interpela
a tua singularidade, mas a tua utilidade para pesquisas de mercado. Quantos lobos
se escondem por trás de sorrisos de falsa bondade, dizendo que conhecem quem
és, mas sem te querer bem, insinuando que creem em ti e prometendo que serás
alguém, para depois te deixarem sozinho, quando já não lhes fores útil. E estas
são as ilusões do mundo virtual e devemos estar atentos para não nos deixarmos
enganar, porque muitas realidades que hoje nos atraem e prometem felicidade,
mostram-se depois pelo que são: coisas vãs, bolhas de sabão, coisas supérfluas,
coisas inúteis e que deixam o vazio interior. Digo-vos uma coisa: Jesus não é
assim, não é assim! Ele confia em ti, confia em cada um de vós, em cada um de
nós, porque Jesus interessa-se por cada um de nós; cada um de vós é importante
para Ele. Assim é Jesus.
E é por isso que nós, sua Igreja, somos a comunidade
dos que são chamados; não somos a comunidade dos melhores, não! Somos todos
pecadores, mas somos chamados assim como somos. Pensemos um pouco nisto, em
nosso coração: somos chamados como somos, com os problemas que temos, com as
limitações que temos, com a nossa alegria transbordante, com a nossa vontade de
sermos melhores, com a nossa vontade de vencer. Somos chamados como somos.
Pensai nisto: Jesus chama-me como eu sou, não como eu gostaria de ser. Somos
comunidade de irmãos e irmãs de Jesus, filhos e filhas do mesmo Pai.
Amigos, quero ser claro convosco, que sois alérgicos à
falsidade e às palavras vazias: na Igreja há espaço para todos. Para todos. Na
Igreja, ninguém é inútil, ninguém é supérfluo. Há espaço para todos. Assim como
somos. Todos. Jesus di-lo claramente. Quando manda os Apóstolos chamar para o
banquete daquele senhor que o preparara, diz: «Ide e trazei todos», jovens e
idosos, sãos, doentes, justos e pecadores. Todos, todos, todos! Na Igreja, há
lugar para todos. «Padre, mas para mim que sou um desgraçado, que sou uma
desgraçada, também há lugar?». Há espaço para todos! Todos juntos... Peço a
cada um que, na própria língua, repita comigo: «Todos, todos, todos». Não se
ouve; outra vez! «Todos, todos, todos». E esta é a Igreja, a Mãe de todos. Há
lugar para todos. O Senhor não aponta o dedo, mas abre os braços. É curioso! O
Senhor não sabe fazer isto [Aponta com o dedo em riste], mas isto sim [Faz
o gesto de abraçar]. Abraça a todos. No-lo mostra Jesus na cruz, onde abriu
completamente os braços para ser crucificado e morrer por nós.
Jesus nunca fecha a porta, nunca. Mas convida-te a entrar: «Entra
e vê!» Jesus recebe, Jesus acolhe. Nestes dias cada um de nós transmite a
linguagem do amor de Jesus. Deus te ama, Deus te chama. Que belo é isto! Deus
ama-me, Deus chama-me. Quer que eu esteja perto d’Ele.
Nesta tarde, vós também me fizestes perguntas, muitas
perguntas. Nunca vos canseis de perguntar... Perguntar, é bom;
aliás muitas vezes é melhor que dar respostas, porque quem pergunta permanece
«inquieto» e a inquietude é o melhor remédio contra a rotina,
que às vezes se torna uma espécie de normalidade que anestesia a alma. Cada um
de nós traz dentro as próprias interrogações. Levemos estas questões conosco e
ponhamo-las no diálogo comum entre nós. Ponhamo-las quando rezamos diante de
Deus. Com o transcorrer da vida, essas perguntas vão tendo resposta; só nos
resta esperar. E uma coisa muito interessante: o amor de Deus surpreende-nos.
Não está programado. O amor de Deus vem de surpresa. Surpreende sempre. Sempre
nos mantém alerta e surpreende.
Queridos jovens, moços e moças, convido-vos a pensar nesta
coisa maravilhosa: Deus ama-nos! Deus ama-nos como somos,
não como gostaríamos de ser ou como a sociedade queria que fôssemos. Como
somos! Chama-nos com os defeitos que temos, com as limitações que temos e com a
vontade que temos de avançar na vida. Deus chama-nos assim. Confiai, porque
Deus é Pai e um Pai que nos quer bem, um Pai que nos ama. Isto nem sempre é
muito fácil. Mas podemos contar com uma grande ajuda: a da Mãe do Senhor. Ela
também é nossa Mãe. Maria é nossa Mãe.
E é tudo o que vos queria dizer. Não tenhais medo, tende
coragem, continuai para diante, sabendo que, por «amortecedor» das
dificuldades, temos o amor que Deus nos tem. Deus ama-nos. Digamo-lo todos
juntos: «Deus ama-nos». Mais alto, não consigo ouvir [Repetem]. Aqui não
se ouve [Repetem]. Obrigado. Adeus.
Fonte: Santa Sé.
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