“O sagrado Concílio julga ter a obrigação de providenciar a reforma e incremento da Liturgia” (cf. Sacrosanctum Concilium, n. 1).
Este é o 50º livro que propomos como sugestão de
leitura aqui em nosso blog. Portanto, para celebrar esta marca, no contexto das
comemorações dos 60 anos do Concílio Vaticano II (1962-1965), trazemos uma das
obras verdadeiramente fundamentais para o estudo da Liturgia: A Reforma
Litúrgica (1948-1975), de Dom Annibale Bugnini (†1982).
Capa da edição brasileira |
Dom Annibale Bugnini exerceu diversas funções importantes no
contexto da reforma litúrgica, antes, durante e depois do Concílio Vaticano II,
sobretudo como Secretário do Consilium ad Exsequendam Constitutionem de
Sacra Liturgia (Conselho para a execução da Constituição da Sagrada
Liturgia) e da Congregação para o Culto Divino.
A obra, portanto, reúne sua vastíssima experiência sobre o
tema, desde o ano de 1948 até o ano de 1975.
Esta importantíssima obra foi publicada no Brasil em 2018
pelas Editoras Paulus, Paulinas e Loyola, a partir da 2ª edição italiana
(1997), revista e enriquecida com várias notas.
A seguir apresentamos uma visão geral da obra, composta por 835
páginas divididas em 60 capítulos, agrupados por
sua vez em 10 seções.
A obra inicia com um Prefácio à edição brasileira (pp. 15-21), escrito
pelo revisor, Prof. Gabriel Frade; uma nota sobre a 2ª edição italiana (pp.
23-24); uma apresentação escrita pelo Padre Gottardo Pasqualetti (†2020), outro
importante colaborador da reforma litúrgica (pp. 25-27); e, por fim, o Prefácio escrito pelo
próprio Dom Annibale Bugnini em 1981 para a 1ª edição (pp. 29-33).
1ª SEÇÃO: AS GRANDES ETAPAS
Esta 1ª seção, a mais longa, traça um histórico da reforma litúrgica em
geral, sendo subdividida em quatro partes:
I. Início da reforma
1. A chave da reforma litúrgica (pp. 39-44)
2. A Comissão preparatória (pp. 45-55)
Os primeiros dois capítulos da obra descrevem a “pré-história” da
reforma conciliar: a comissão instituída por Pio XII em 1948 e aquela
instituída por João XXIII em 1960, já em vista do Concílio.
3. A Constituição litúrgica do Concílio (pp. 57-64)
4. “Altiora principia” (pp. 65-71)
Os capítulos 3-4, por sua vez, são dedicados à Constituição Sacrosanctum
Concilium, promulgada em 1963, apresentada aqui de maneira bastante sucinta.
5. A “Constituinte” do Consilium (pp. 73-76)
6. Motu próprio “Sacram Liturgiam” (pp. 77-80)
7. Organização do
trabalho (pp. 81-87)
Nesses capítulos apresenta-se a história do “Consilium”, organismo
criado em 1964 e encarregado da aplicação da Sacrosanctum Concilium.
8. A Sagrada
Congregação para o Culto Divino (pp. 89-108)
Por fim, Dom
Bugnini conclui este primeiro percurso histórico com os primeiros anos da Congregação
para o Culto Divino (1969-1975).
II. Primeiras
realizações
9. 07 de março de
1965: Passagem do latim ao vernáculo (pp.
111-121)
10. Mudanças no
Missal (pp. 123-129)
11. Concelebração (pp. 131-139)
Nestes três capítulos,
como o título indica, são apresentadas as primeiras realizações do Consilium: a
passagem do latim para as línguas vernáculas, as primeiras mudanças no rito da
Missa e a concelebração.
III. Dois campos
de ação
a) Preparação da
reforma litúrgica
12. Reuniões (pp. 143-188)
13. Observadores no
Consilium (pp. 189-191)
No capítulo 12 Dom
Bugnini faz um elenco das reuniões do Consilium e da Congregação
para o Culto Divino de 1964 a 1972, enquanto no capítulo 13 comenta brevemente
a presença de observadores não católicos no Consilium.
b) Promoção da
pastoral litúrgica
14. Cartas aos
Presidentes das Conferências Episcopais (pp.
193-202)
15. Encontros (pp. 203-212)
16. Traduções (pp. 213-223)
17. Notitiae (pp. 225-230)
Nesses capítulos
elencam-se as diversas formas de trabalho do Consilium: cartas, encontros,
orientações sobre a tradução dos textos litúrgicos e a criação da Revista Notitiae.
IV. Cruzes da
reforma
18. Experimentos (pp. 233-239)
19. Adaptação (pp. 241-248)
20. Contra a reforma (pp. 249-)
Por fim, concluindo a 1ª seção, Dom Annibale comenta algumas
dificuldades da reforma litúrgica: “experimentos” litúrgicos não autorizados,
adaptações que demandavam ainda estudo e resistências contra a reforma.
2ª SEÇÃO: PARTES COMUNS DOS NOVOS LIVROS
LITÚRGICOS
21. Calendário (pp. 271-287)
22. Ladainha dos Santos (pp. 289-291)
23. Comuns (pp. 293-295)
Nesta 2ª seção, formada por apenas três capítulos, apresentam-se alguns
elementos comuns a diversos livros litúrgicos: o Calendário Romano Geral, aprovado
em 1969, e os formulários Comuns (dos Mártires, das Virgens, dos Santos...) para
a Missa e a Liturgia das Horas); e o texto da Ladainha de Todos os Santos, previsto
em vários ritos.
3ª SEÇÃO: MISSAL
Esta seção, formada por seis capítulos, é dedicada à Celebração
Eucarística, isto é, à Missa.
24. Ordo Missae (pp. 299-342)
25. O novo Missal Romano (pp. 343-352)
Nestes dois capítulos apresenta-se a reforma do Missal Romano, cuja 1ª
edição típica foi promulgada em 1970, precedida da aprovação do Ordinário da
Missa (Ordo Missae) no ano anterior (2ª edição: 1975; 3ª edição: 2002).
26. O Lecionário do Missal Romano (pp. 353-368)
Como o título indica, este capítulo é dedicado ao Lecionário, particularmente
no que se refere às leituras na Missa, cuja 1ª edição típica foi promulgada em 1969 (2ª edição: 1981).
Sessão do Concílio Vaticano II (1962-1965) |
27. Missas para grupos particulares (pp. 369-377)
28. Diretório para as Missas com crianças (pp. 379-385)
Nestes dois capítulos se apresenta a reflexão que foi feita a respeito
das Missas para grupos particulares e com crianças.
29. Orações Eucarísticas (pp. 387-416)
Por fim, concluindo a 3ª seção, é dedicado um capítulo às novas Orações
Eucarísticas, particularmente às Orações II, III e IV.
4ª SEÇÃO: LITURGIA DAS HORAS
30. Estrutura geral da Liturgia das Horas (pp. 419-440)
31. Composição da Liturgia das Horas (pp. 441-468)
O capítulo 30 apresenta uma visão geral da reforma da Liturgia das
Horas, oração oficial da Igreja para a santificação das horas do dia, cuja 1ª
edição típica foi promulgada em 1971 (2ª edição: 1985), enquanto o capítulo 31 aprofunda seus
diversos elementos: salmos e cânticos, leituras bíblicas e patrísticas, hinos, preces...
32. Religiosos e Liturgia das Horas (pp. 469-477)
33. Os “Próprios” diocesanos e religiosos (pp. 479-482)
Completam esta seção os capítulos sobre a relação entre Liturgia das
Horas e vida religiosa e com as orientações sobre os textos próprios de
Dioceses e Congregações.
5ª SEÇÃO: SACRAMENTOS
34. Ritual Romano (pp. 485-488)
Após uma visão geral da reforma dos sacramentos no capítulo 34, nesta
seção Dom Annibale Bugnini delineia o processo de elaboração dos rituais dos
sacramentos.
35. Iniciação Cristã dos adultos (pp. 489-498)
A “redescoberta” da Iniciação Cristã de adultos foi um dos grandes
méritos do Concílio. A publicação do Ritual (RICA) teve lugar no início de 1972.
36. Batismo de crianças (pp. 499-509)
A 1ª edição típica do Ritual do Batismo de crianças foi um dos
primeiros livros litúrgicos publicados, já em 1969 (2ª edição: 1973).
37. Crisma (pp. 511-520)
O Ritual da Confirmação ou Crisma, por sua vez, foi promulgado em 1971.
38. Santa Comunhão (pp. 521-549)
Este capítulo trata de diversos temas ligados à Eucaristia, como a Comunhão
sob as duas espécies, os Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão, a
Comunhão na mão e o culto eucarístico fora da Missa.
Capa da edição italiana da obra |
39. Reconciliação (pp. 551-564)
A reforma do Sacramento da Reconciliação ou Penitência (“confissão”)
culminou na publicação do respectivo Ritual em 1973.
40. Ritos para os enfermos (pp. 565-573)
Capítulo dedicado à Unção dos Enfermos e aos ritos a ela ligados (Viático,
encomendação dos agonizantes), cujo Ritual foi promulgado no final de 1972.
41. Matrimônio (pp. 575-583)
A reforma do Sacramento do Matrimônio, aqui delineada, levou à
publicação da 1ª edição típica do Ritual em 1969 (2ª edição: 1990).
42. Ordens sacras (pp. 585-596)
Concluindo a seção sobre o setenário sacramental temos o capítulo
dedicado ao Sacramento da Ordem, cujo Ritual foi o primeiro a ser publicado, tendo
sua 1ª edição típica já em 1968 (2ª edição: 1989).
6ª SEÇÃO: BÊNÇÃOS
Dando continuidade à história da reforma litúrgica, esta seção é dedicada
aos sacramentais.
43. Ministérios (pp. 599-616)
Este capítulo trata da reforma das antigas “ordens menores”, isto é, dos
ministérios de leitor e acólito, cujo Ritual da instituição foi aprovado em
1972.
44. Os leigos e a Liturgia (pp. 617-624)
Prosseguindo com o argumento do capítulo anterior, aqui se apresentam
os primeiros passos do estudo sobre os ministérios leigos.
45. Profissão religiosa (pp. 625-630)
O Ritual da Profissão religiosa, publicado em 1970, é outro mérito do
Concílio, uma vez que até então não existia um rito unificado que servisse de
modelo às famílias religiosas.
46. Exéquias (pp. 631-635)
A reforma do Ritual das Exéquias (promulgado em 1969) também foi um
desejo do Concílio, de modo que este expressasse melhor o caráter pascal da
morte cristã.
47. Bênçãos do Ritual e do Pontifical (pp. 637-640)
Neste capítulo Dom Bugnini descreve os primeiros passos da reforma do
Ritual de Bênçãos, que só seria publicado após sua saída da Congregação, em
1984.
48. Bênção do abade e da abadessa (pp. 641-642)
49. Consagração das virgens (pp. 643-645)
Estes dois breves capítulos tratam da revisão dos sacramentais citados,
cujos Rituais foram publicados em 1970.
50. Dedicação da igreja e do altar (pp. 647-650)
Como no caso das bênçãos, também o Ritual da Dedicação de igreja e de
altar seria publicado após a saída de Dom Bugnini, em 1977. Portanto, delineiam-se
aqui apenas seus primeiros passos.
51. Bênção dos óleos (pp. 651-653)
Conclui esta seção o capítulo sobre a Bênção dos Óleos dos Enfermos e
dos Catecúmenos e a Consagração do Crisma, cujo rito foi aprovado em 1970.
7ª SEÇÃO: SIMPLIFICAÇÃO DOS RITOS
PONTIFICAIS
52. Capela Papal (pp. 657-666)
53. Cerimonial dos Bispos (pp. 667-670)
À luz das reformas do Concílio, tanto litúrgicas quanto eclesiológicas,
foi necessária também a revisão das celebrações presididas pelo Papa e pelos
Bispos, culminando na publicação do novo Cerimonial dos Bispos em 1984.
8ª SEÇÃO: DOCUMENTOS PARTICULARES
Esta seção é dedicada a alguns documentos publicados pelo Consilium e pela Congregação
para o Culto Divino ou que contaram com a sua colaboração.
54. Instruções para a execução da Constituição litúrgica (pp. 673-689)
Neste capítulo Dom Bugnini trata das três primeiras Instruções publicadas
pelo Consilium: Inter Oecumenici (1964), Tres abhinc annos (1967) e Liturgicae
instaurationes (1970). Posteriormente seriam publicadas outras duas: Varietates
legitimae (1994) e Liturgiam autenticam (2001).
55. Instrução sobre o culto do mistério eucarístico (pp. 691-698)
O capítulo trata sobre a Instrução Eucharisticum mysterium, publicada em
1967.
56. Liturgia e seminários (pp. 699-709)
Os estudos aqui apresentados levaram à Instrução sobre a formação
litúrgica nos Seminários, publicada pela Congregação para a Educação Católica
em 1979.
57. Culto mariano (pp. 711-716)
Completa essa seção um capítulo sobre a colaboração do Consilium na
redação da Exortação Apostólica Marialis cultus, promulgada pelo
Papa Paulo VI em 1974.
9ª SEÇÃO: MÚSICA SACRA E LITURGIA
58. Canto e Liturgia (pp. 719-728)
59. Instrução sobre a música sacra (pp. 729-740)
A penúltima seção da obra é dedicada à relação entre música e Liturgia,
com dois capítulos: um mais geral e outro sobre a Instrução Musicam
sacram, de 1967.
10ª SEÇÃO: MISCELÂNEA
60. A reforma litúrgica por ocasião de acontecimentos particulares (pp.
741-751)
Por fim, a última seção é integrada por apenas um capítulo, destacando
alguns acontecimentos, como os Congressos Eucarísticos Internacionais durante e
logo após o Concílio e o Jubileu Ordinário de 1975.
* * *
Completa o corpo da obra a breve Conclusão de Dom Annibale
Bugnini, intitulada “Buscamos servir à Igreja” (pp. 755-757),
expressão retomada inclusive na sua lápide: “Liturgiae cultor et amator.
Servì la Chiesa” (Cultivador e amante da Liturgia. Serviu a Igreja).
Seguem-se dois Apêndices: uma lista dos “Membros e consultores dos
organismos para a reforma litúrgica” (pp. 761-774), cuja história foi delineada
na 1ª seção, e “Elementos de bibliografia: A história do Consilium” (pp. 775-778).
Por fim, o volume é enriquecido ainda por dois Índices: um “Índice dos
nomes” (pp. 781-790), incluindo todas as pessoas citadas, sobretudo os
colaboradores da reforma litúrgica, e um importantíssimo “Índice remissivo” (pp.
791-835), com os principais temas abordados ao longo da obra.
Sobre o autor:
Annibale Bugnini
nasceu em 14 de junho de 1912 na Itália e, após ingressar na Congregação da
Missão (vicentinos), foi ordenado sacerdote em 26 de julho de 1936.
Após obter o Doutorado
em Teologia pela Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino (“Angelicum”), trabalhou em diversas comissões ligadas à reforma litúrgica.
Em 1964 foi nomeado Secretário do Consilium ad
Exsequendam Constitutionem de Sacra Liturgia (Conselho para a execução da
Constituição da Sagrada Liturgia) e, em 1969, Secretário da Congregação para o
Culto Divino.
Em 1972 foi nomeado
Arcebispo titular de Diocleziana, recebendo a Ordenação Episcopal no dia 13 de
fevereiro do mesmo ano, pela imposição das mãos do Papa Paulo VI.
Em janeiro de 1976
deixa seus ofícios na Cúria Romana, sendo nomeado Núncio Apostólico no Irã, ofício que exerceu
até a sua morte em 03 de julho de 1982.
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