sexta-feira, 7 de julho de 2023

Artigos sobre Liturgia: Encontros Teológicos 2023

No dia 04 de dezembro de 2023 celebraremos os 60 anos da Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada Liturgia, o primeiro documento promulgado pelo Concílio Vaticano II.

Em vista dessa comemoração, a Revista Encontros Teológicos, publicação quadrimestral da Faculdade Católica de Santa Catarina (FACASC), dedicou o seu primeiro volume deste ano à Liturgia (vol. 38, n. 1, janeiro-abril de 2023).


Confira a seguir os resumos dos seis artigos sobre Liturgia publicados nesse volume, dedicados sobretudo à formação e à música litúrgicas, os quais podem ser acessados na íntegra no site da Revista:

Relançar a tarefa da formação litúrgica hoje: Lendo “Desiderio desideravi” a partir da “Formação litúrgica” de Romano Guardini
Felipe Koller

Com a Carta Apostólica Desiderio desideravi (2022), o Papa Francisco avança a recepção do magistério do Concílio Vaticano II sobre a Liturgia e repropõe a tarefa da formação litúrgica, apresentada no início do século XX pelo Movimento Litúrgico e assumida pela Constituição Sacrosanctum Concilium. Em grandes linhas, Francisco se baseia no livro Formação litúrgica (1923), de Romano Guardini (1885-1968), citado diretamente algumas vezes. Contudo, os pontos de contato entre Desiderio desideravi e Formação litúrgica vão além das citações diretas. Este artigo busca traçar correlações entre as contribuições de Guardini e as questões trabalhadas pela Carta Apostólica, buscando uma compreensão mais rica da tarefa da formação litúrgica hoje. O encadeamento se permite guiar pela estrutura do texto de Guardini, que, depois de identificar a tarefa que se delineia a partir da relação do ser humano moderno com a Liturgia, explora, ponto a ponto, as diferentes oposições polares que estão em jogo no ato litúrgico: a alma e o corpo, o ser humano e a coisa, o indivíduo e a comunidade, o objetivo e o subjetivo, a religião e a cultura. Com isso, a tarefa da formação litúrgica se mostra de alcance muito maior do que como uma resposta aos movimentos tradicionalistas - contexto imediato da publicação da Carta Apostólica e sobretudo do documento que a precede, Traditionis custodes -, revelando-se uma dimensão fundamental da recepção do Concílio e emergindo como uma questão de primeira grandeza para a cultura contemporânea.

A formação ao silêncio na Liturgia: Uma reflexão sobre o n. 52 de Desiderio desideravi
Wellington José de Castro

O tema abordado pelo Papa Francisco em sua Carta Apostólica Desiderio desideravi foi a necessidade de sermos formados para a Liturgia e pela Liturgia, considerada a fonte e o ápice da vida cristã. De modo particular, trata em um parágrafo sobre a formação ao silêncio orante e litúrgico, que não é uma pausa ou ausência de palavras, mas parte necessária da ação litúrgica, porque move o fiel ao arrependimento e ao desejo de conversão, suscita a escuta da Palavra de Deus e nos prepara à oração, dispondo-nos também à adoração do Corpo e do Sangue de Cristo. Deste modo, o Pontífice leva-nos a refletir sobre a urgência da redescoberta do silêncio como símbolo da presença e da ação do Espírito Santo na celebração litúrgica, em particular daquela eucarística. Este artigo tem o objetivo de refletir justamente sobre esta temática, tendo como base o referido parágrafo (n. 52), as indicações do Missal Romano acerca dos momentos em que o silêncio litúrgico é previsto (não tanto como gesto, mas como símbolo) e alguns textos de Romano Guardini, teólogo citado pelo Papa em seu texto, considerado o “filósofo do silêncio”, bem como outros documentos magisteriais e de outros tipos, que apresentam de modo claro a necessidade (às vezes obrigatoriedade) do silêncio sagrado na Liturgia.

O coração na boca: A música litúrgica como ação ritual e expressão sensível do mistério celebrado
Márcio Antonio Almeida

Este artigo discute a música litúrgica no contexto do Concílio Ecumênico Vaticano II. Por meio de (re-)leituras sobre a gestualidade presente na canção popular “Coração na boca” de Zélia Duncan, adentra-se o universo da expressão vocal e sonora da Liturgia. Na “cena” litúrgica, a música atinge os sujeitos e sua sensibilidade, e lhes imprime comportamentos rituais conscientes ou não, relacionados ao modo de apreensão da palavra litúrgica modulada pelo canto e a música. Durante as ações rituais, a sacramentalidade, a ritualidade, a funcionalidade e a ministerialidade da música litúrgica não são categorias naturalmente intuídas. Deste modo, são necessárias chaves que abram perspectivas de interpretação do dado objetivo da fé, com implicações vivenciais. Importa no jogo ritual explicitar a dimensão mistagógica da música litúrgica que, ao assumir seu protagonismo na celebração, transporta-nos para o mistério ou oferece aberturas para esse acontecimento. A vivência da palavra cantada na Liturgia torna possível ressoar o mistério celebrado que tem consequências na vida concreta dos fiéis. É preciso descortinar o mistério, silenciar e “gritar”, gastar-se para ser, conectar-se responsavelmente para ter o coração na boca. A música litúrgica é percebida, então, como epifania da Palavra de Deus que confronta nossa incapacidade de perceber-nos como um corpo na Igreja.

“Em comunhão com toda a Igreja aqui estamos”: Importâncias e cuidados do coral na Liturgia da Missa
Mariana Silva Mancilha

O canto está presente na religião católica em diferentes momentos, como em celebrações litúrgicas, grupos de oração, encontros de formação, retiros, entre outros. No entanto, o presente texto objetiva trazer reflexões sobre a atuação dos grupos de canto coral nas missas, porque é o momento em que diferentes grupos se unem para a ceia eucarística. Através da pesquisa bibliográfica-documental, serão destacadas as importâncias do canto para a Missa, os cuidados para que ele não tenha distorcida a sua função, e que ao longo do texto os coralistas possam reconhecer que fazem parte da comunidade junto com todas as pessoas participantes. Para isso, o respeito à Liturgia da Missa é fundamental. Nos momentos devocionais, como a realização de novenas e tríduos em honra ao padroeiro da paróquia ou comunidade, o canto faz parte especial das preces populares que aproximam a comunidade entre si e com o mistério de Cristo que celebram com fé, através da intercessão dos santos e santas ou de Nossa Senhora. A importância do canto na Missa, tendo em vista o respeito à Liturgia e o conhecimento do mistério celebrado serão partes fundamentais no decorrer das reflexões do texto, além da linguagem poética que busca interpretar o canto além de uma perspectiva vocal.

Do “tomar e comer” ao “ver”: A perda do real sentido eucarístico e seus desdobramentos pastorais.
Tiago Cosmo da Silva Dias

A Igreja Católica Apostólica Romana crê e prega que no pão e no vinho, frutos da terra e do trabalho humano, acontece o milagre da transubstanciação, ou seja, a partir do momento da consagração, na qual quem preside atualiza o sacrifício de Cristo, a essência da matéria - pão e vinho - muda: já não se tem mais pão e vinho, e sim Cristo, presente real e verdadeiramente tal qual está no céu. Quando o fiel o recebe, esgota-se o princípio de alteridade, uma vez que aquele que comunga passa a ser um só com Cristo. Esta é, em linhas gerais, a essência do dogma eucarístico. Todavia, como resquício de uma sociedade puramente imagética, este, que é o coração da Igreja, tem perdido o seu caráter primordial de refeição [tomar e comer] para se transformar em mera contemplação [ver]. De fato, para alguns, parece ser mais importante ver a hóstia consagrada (e o que ela contém!), do que propriamente tomar e comer. Esta tendência, por sua vez, tende a criar dificuldades ainda maiores, porque, por exemplo, já não importa a celebração em si, mas sim quem a presidirá e com que finalidade (bênçãos, curas, libertações). Além do mais, cria uma fé totalmente descompromissada com a vida, visto que o “tomar e comer” traz sérias implicações para a ética cristã, ao passo que o “ver” pode trazer, tão somente, uma espécie de “alívio instantâneo”, a ponto de, dali não muito tempo, o fiel necessitar outra vez “olhar”. Esse tipo de prática, além de não favorecer formação religiosa adequada, incentiva o comércio religioso: volta-se à época dos ostensórios, das pompas e do culto à personalidade dos presbíteros. O objetivo, portanto, é demonstrar o quanto esta perda de sentido, por mais que consiga reunir as massas, prejudica diretamente a ação pastoral da Igreja, porque induz a uma fé infantil.

Bonhoeffer e a Liturgia das Horas: Aproximações entre o mártir luterano e a Igreja Romana em relação ao Saltério
Filipe Costa Machado

Dietrich Bonhoeffer é conhecido no meio cristão principalmente como o teólogo e pastor que desafiou Hitler no auge do regime nazista alemão e, por isso, foi preso e martirizado. Suas pregações e livros são famosos, entre os quais Discipulado, Ética e Resistência e Submissão são os mais lidos e estudados. Porém, ainda não foi dada atenção suficiente à vida devocional de Bonhoeffer, à prática de fé que alimentou suas difíceis decisões, da qual é parte fundamental a experiência de oração com o Saltério. Nesse sentido, o presente artigo tem por objetivo apresentar a obra Orando com os Salmos do mártir luterano e propor uma leitura em comparação com a Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas, um importante documento de oração da Igreja romana igualmente baseado no Saltério. Dessa forma, é possível pontuar semelhanças entre ambas as profissões de fé cristãs em um esforço teológico e ecumênico - preciosos para Bonhoeffer -, além de rememorar a importância da Liturgia junto ao protestantismo, já que o estudo parte principalmente de um autor luterano. Inicia-se, portanto, com o texto católico romano para então se discorrer sobre o Saltério a partir do ponto de vista de Bonhoeffer a partir da obra supracitada. Finaliza-se o artigo com algumas aproximações e conclusões, das quais a principal é de que os salmos são a oração da Igreja.



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