terça-feira, 23 de agosto de 2022

Ângelus: XXI Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 21 de agosto de 2022

Estimados irmãos e irmãs, bom domingo!
No trecho do Evangelho de Lucas da Liturgia deste domingo (Lc 13,22-30) alguém pergunta a Jesus: “Se­nhor, são poucos os homens que se salvam?”. E o Senhor responde: “Procurai entrar pela porta estreita” (v. 24). A porta estreita é uma imagem que pode nos assustar, como se a salvação fosse destinada apenas a poucos eleitos ou aos perfeitos. Mas isto contradiz o que Jesus nos ensinou em muitas ocasiões; com efeito, um pouco mais adiante, Ele diz: “Virão do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e se sentarão à mesa no Reino de Deus” (v. 29). Portanto, esta porta é estreita, mas está aberta a todos! Não vos esqueçais disto: a todos! A porta está aberta a todos!

Mas para compreender melhor esta porta estreita, devemos perguntar-nos o que ela é. Jesus apresenta a imagem da vida da época e provavelmente refere-se ao fato de que, quando anoitecia, as portas da cidade eram fechadas e apenas uma, mais estreita e pequena, permanecia aberta: para regressar a casa, só se podia passar por ali.

Pensemos então em quando Jesus diz: “Eu sou a porta: se alguém entrar por mim, será salvo” (Jo 10,9). Significa que para entrar na vida de Deus, na salvação, é preciso passar por Ele, e não por outro, por Ele; acolher a Ele e à sua Palavra. Assim como para entrar na cidade era preciso “medir-se” com a única porta estreita deixada aberta, também aquela do cristão é uma vida “à medida de Cristo”, fundada e modelada n’Ele. Significa que a medida é Jesus e o seu Evangelho: não o que pensamos, mas o que Ele nos diz. E assim trata-se de uma porta estreita não porque se destina a poucos, não, mas porque ser de Jesus significa segui-lo, comprometer a vida no amor, no serviço e no dom de si como Ele fez, passando pela porta estreita da cruz. Entrar no projeto de vida que Deus nos propõe requer que reduzamos o espaço do egoísmo, que diminuamos a presunção de autossuficiência, que baixemos as alturas da soberba e do orgulho, e que superemos a preguiça a fim de atravessar o risco do amor, até quando inclui a cruz.

Pensemos, para sermos concretos, nos gestos diários de amor que realizamos com esforço: pensemos nos pais que se dedicam aos filhos fazendo sacrifícios e renunciando ao tempo para si mesmos; naqueles que cuidam dos outros e não apenas dos próprios interesses: quantas pessoas são assim, boas; pensemos em quantos se dedicam ao serviço dos idosos, dos mais pobres e mais frágeis; pensemos naquelas que continuam a trabalhar com empenho, suportando dificuldades e talvez incompreensões; pensemos em quantos sofrem por causa da fé, mas continuam a rezar e a amar; pensemos naqueles que, em vez de seguirem os próprios instintos, respondem ao mal com o bem, encontram a força para perdoar e a coragem para recomeçar. Estes são apenas alguns exemplos de pessoas que não escolhem a porta larga do próprio conforto, mas a porta estreita de Jesus, de uma vida vivida no amor. Estes, diz o Senhor hoje, serão reconhecidos pelo Pai muito mais do que aqueles que se consideram já salvos e, na realidade, na vida são “iníquos” (Lc 13,27).

Irmãos e irmãs, de que lado queremos estar? Preferimos o caminho fácil de pensar apenas em nós mesmos ou escolhemos a porta estreita do Evangelho, que desafia o nosso egoísmo mas que nos torna capazes de acolher a verdadeira vida que vem de Deus e nos faz felizes? De que lado estamos nós?

Que Nossa Senhora, que seguiu Jesus até à cruz, nos ajude a medir a nossa vida com a d’Ele, para entrar na vida plena e eterna.

O Papa Francisco abre a Porta Santa da Basílica de São Pedro

Fonte: Santa Sé.

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