quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Ângelus: XX Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 14 de agosto de 2022

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
No Evangelho da Liturgia de hoje (Lc 12,49-53) há uma expressão de Jesus que sempre nos impressiona e interroga. Enquanto está a caminho com os seus discípulos, Ele diz: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!” (v. 49). De que fogo fala? E que significado têm estas palavras para nós hoje, este fogo que Jesus traz?

Como sabemos, Jesus veio trazer ao mundo o Evangelho, ou seja, a boa nova do amor de Deus por cada um de nós. Por isso, diz-nos que o Evangelho é como o fogo, porque se trata de uma mensagem que, quando irrompe na história, queima os velhos equilíbrios de vida, desafia a sair do individualismo, desafia a vencer o egoísmo, desafia a passar da escravidão do pecado e da morte para a nova vida do Ressuscitado, de Jesus Ressuscitado. Isto é, o Evangelho não deixa as coisas como estão; quando o Evangelho passa, e é ouvido e recebido, as coisas não permanecem como estão. O Evangelho provoca a mudança e convida à conversão. Não dispensa uma falsa paz intimista, mas acende uma inquietação que nos põe a caminho, que nos leva a abrir-nos a Deus e aos irmãos. É exatamente como o fogo: enquanto nos aquece com o amor de Deus, quer queimar os nossos egoísmos, iluminar os lados obscuros da vida - todos nós os temos! - consumir os falsos ídolos que nos tornam escravos.

Na esteira dos profetas bíblicos - pensemos, por exemplo, em Elias e Jeremias - Jesus é inflamado pelo fogo do amor de Deus e, para fazê-lo arder no mundo, despende-se em primeira pessoa, amando até ao fim, ou seja, até à morte e morte de cruz (Fl 2,8). Ele está cheio do Espírito Santo, que é comparado ao fogo, e com a sua luz e força revela o rosto misericordioso de Deus e confere plenitude a quantos são considerados perdidos, derruba as barreiras das marginalizações, cura as feridas do corpo e da alma, renova uma religiosidade reduzida a práticas exteriores. Por isso é fogo: muda, purifica.

Portanto, o que significa para nós, para cada um de nós - para mim, para vós, para ti - o que significa para nós esta palavra de Jesus sobre o fogo? Convida-nos a reacender a chama da fé, para que não se torne uma realidade secundária, nem um meio de bem-estar individual, o que nos faz evitar os desafios da vida e do compromisso na Igreja e na sociedade. Com efeito, dizia um teólogo, a fé em Deus “tranquiliza-nos, mas não como gostaríamos: isto é, não para nos proporcionar uma ilusão paralisante, nem uma satisfação beata, mas para nos permitir agir” (Henri De Lubac, Sulle vie di Dio, Milão, 2008, 184). Em suma, a fé não é uma “canção de ninar” que nos embala para nos fazer adormecer. A verdadeira fé é um fogo, um fogo aceso para nos manter acordados e ativos até durante a noite!

E então podemos perguntar-nos: sou apaixonado pelo Evangelho? Leio o Evangelho com frequência? Levo-o comigo? A fé que professo e celebro coloca-me em uma tranquilidade beata ou acende em mim o fogo do testemunho? Podemos interrogar-nos também como Igreja: nas nossas comunidades, ardem o fogo do Espírito, a paixão pela oração e pela caridade, a alegria da fé, ou arrastamo-nos no cansaço e no hábito, com um rosto aborrecido e o lamento nos lábios e as fofocas todos os dias? Irmãos e irmãs, questionemo-nos sobre isto, para que também nós possamos dizer como Jesus: estamos inflamados com o fogo do amor de Deus e queremos “lançá-lo” sobre o mundo, levá-lo a todos, para que cada um descubra a ternura do Pai e experimente a alegria de Jesus, que dilata o coração - e Jesus dilata o coração! - tornando bela a vida. Oremos à Santíssima Virgem por isso: Ela, que acolheu o fogo do Espírito Santo, interceda por nós!

O Coração de Jesus, inflamado pelo fogo do amor

Fonte: Santa Sé.

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