segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Ângelus do Papa: XVIII Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 31 de julho de 2022

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
No Evangelho da Liturgia de hoje, um homem dirige este pedido a Jesus: «Mestre, diz ao meu irmão que reparta a herança comigo» (Lc 12,13). É uma situação muito comum, problemas semelhantes ainda estão na ordem do dia: quantos irmãos e irmãs, quantos membros da mesma família, infelizmente, discutem e talvez já não falem uns com os outros, por causa da herança!

Respondendo àquele homem, Jesus não entra em detalhes, mas vai à raiz das divisões causadas pela posse dos bens, dizendo claramente: «Guardai-vos de toda a avareza» (v. 15). O que é a avareza? É a ganância desenfreada pelos bens, sempre com a vontade de enriquecer. É uma doença que destrói as pessoas, porque a fome de posse cria dependência. Especialmente quem tem muito nunca está satisfeito: quer sempre mais, e apenas para si mesmo. Mas assim já não é livre: está apegado, é escravo ao que, paradoxalmente, devia servir-lhe para viver livre e sereno. Em vez de se servir do dinheiro, torna-se servo do dinheiro. Mas a avareza é uma doença perigosa até para a sociedade: por causa dela hoje chegamos a outros paradoxos, a uma injustiça sem igual na história, onde poucos têm muito e muitos têm pouco ou nada. Pensemos também nas guerras e nos conflitos: há quase sempre a ânsia pelos recursos e riquezas. Quantos interesses há por detrás de uma guerra! Certamente um deles é o comércio de armas. Este comércio é um escândalo ao qual não devemos nem podemos resignar-nos.

Hoje Jesus ensina-nos que, no centro de tudo isto, não há apenas algumas pessoas poderosas ou certos sistemas econômicos: no centro está a avareza que existe no coração de cada um. Então procuremos perguntar-nos: como está o meu desprendimento dos bens, das riquezas? Queixo-me do que me falta ou estou satisfeito com o que tenho? Sinto-me tentado, em nome do dinheiro e das oportunidades, a sacrificar relações e tempo pelos outros? Além disso, estou tentado a sacrificar a legalidade e a honestidade no altar da avareza? Eu disse “altar”, altar da avareza, mas por que disse “altar”? Porque os bens materiais, o dinheiro, as riquezas podem tornar-se um culto, uma verdadeira idolatria. Por conseguinte, Jesus alerta-nos com palavras fortes. Diz que não se pode servir a dois senhores, e - atenção! - não diz Deus e o diabo, não, nem o bem nem o mal, mas Deus e as riquezas (cf. Lc 16,13). Era de se esperar que dissesse: não se pode servir a dois senhores, Deus e o diabo. Ao contrário, diz: Deus e as riquezas. Servir-se das riquezas, sim; servir a riqueza, não: é idolatria, é ofender a Deus.

E então - podemos pensar - não se pode desejar ser rico? É claro que se pode, aliás, é correto desejá-lo, é bom ser rico, mas rico segundo Deus! Deus é o mais rico de todos: é rico em compaixão, em misericórdia. A sua riqueza não empobrece ninguém, não cria disputas nem divisões. É uma riqueza que gosta de dar, distribuir, partilhar. Irmãos, irmãs, acumular bens materiais não é suficiente para viver bem, pois - diz ainda Jesus - a vida não depende do que se possui (cf. Lc 12,15). Ao contrário, depende das boas relações: com Deus, com os outros, e também com quem possui menos. Então, perguntemo-nos: como quero enriquecer-me? Quero enriquecer segundo Deus, ou segundo a minha avareza? E voltando ao tema da herança, que herança quero deixar? Dinheiro no banco, coisas materiais, ou pessoas felizes à minha volta, boas obras que não serão esquecidas, pessoas que ajudei a crescer e amadurecer?

Que Nossa Senhora nos ajude a compreender quais são os verdadeiros bens da vida, que permanecem para sempre. 

O rico insensato (Rembrandt)

Fonte: Santa Sé.

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