Solenidade da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria
Papa Francisco
Ângelus
Segunda-feira, 15 de agosto de 2022
Estimados irmãos e irmãs, bom dia! Boa festa!
Hoje, Solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria,
o Evangelho propõe-nos o diálogo entre ela e sua prima Isabel (Lc 1,39-56). Quando Maria entra em casa
e saúda Isabel, esta lhe diz: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o
fruto do teu ventre” (v. 42). Estas palavras, cheias de fé, de alegria e de
enlevo, passaram a fazer parte da “Ave-Maria”. Cada vez que recitamos esta
oração, tão bonita e familiar, fazemos como Isabel: saudamos Maria, a
bendizemos, porque ela nos traz Jesus.
Maria aceita a bênção de Isabel e responde com o cântico, um dom para nós,
para toda a história: o Magnificat (vv. 46-55). É um cântico de
louvor que poderíamos definir “o cântico da esperança”. É um hino de louvor e
de exultação pelas maravilhas que o Senhor realizou nela, mas Maria vai além:
contempla a obra de Deus em toda a história do seu povo. Por exemplo, diz que o
Senhor “derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos
e despediu os ricos de mãos vazias” (vv. 52-53). Ouvindo estas palavras,
poderíamos perguntar-nos: porventura não exagera um pouco a Virgem, descrevendo
um mundo que não existe? Com efeito, o que diz não parece corresponder à
realidade; enquanto ela fala, os poderosos da época não foram derrubados: por
exemplo, o temível Herodes permanece firme no seu trono. E também os pobres e
os famintos permanecem assim, enquanto os ricos continuam a prosperar.
O que significa esse cântico de Maria? Qual é o sentido? Ela não quer
fazer a crônica do tempo - não é uma jornalista - mas quer dizer-nos algo muito
mais importante: que, através dela, Deus inaugurou uma mudança histórica, estabeleceu
definitivamente uma nova ordem de coisas. Ela, pequena e humilde, foi exaltada
e - é o que celebramos hoje - levada à glória do Céu, enquanto os poderosos do
mundo estão destinados a permanecer de mãos vazias. Pensai na parábola daquele
homem rico que tinha à porta um mendigo, Lázaro. Como acabou? De mãos vazias.
Em síntese, Nossa Senhora anuncia uma mudança radical, uma inversão de valores.
Enquanto fala com Isabel carregando Jesus no ventre, antecipa o que o seu Filho
dirá, quando proclamar bem-aventurados os pobres e os humildes, admoestando os
ricos e quantos confiam na própria autossuficiência. Portanto, com este cântico,
com esta oração, a Virgem profetiza: profetiza que não prevalecem o poder, o sucesso e o dinheiro,
mas sim o serviço, a humildade e o amor. E olhando para ela na glória,
compreendemos que o verdadeiro poder é o serviço - não o esqueçamos: o
verdadeiro poder é o serviço - e reinar significa amar. E que este é o caminho
para o Céu!
Então, olhando para nós, podemos interrogar-nos: aquela inversão anunciada
por Maria toca a minha vida? Acredito que amar é reinar e servir é poder?
Acredito que a meta da minha vida é o Céu, o paraíso? Ou só estou preocupado em
viver bem aqui na terra, só me preocupo com as coisas terrenas, materiais? Mais
ainda, observando as vicissitudes do mundo, deixo-me prender pelo pessimismo
ou, como a Virgem, consigo vislumbrar a obra de Deus que, através da mansidão e
da pequenez, realiza maravilhas?
Irmãos e irmãs, hoje Maria canta a esperança e reacende-a em
nós, nela vemos a meta do caminho: Ela é a primeira criatura que, com todo o
seu ser, de corpo e alma, cruza vitoriosa a linha de chegada ao Céu. Mostra-nos
que o Céu está à mão. Como assim? Sim, o Céu está à mão, se também nós não
cedermos ao pecado, louvarmos a Deus com humildade e servirmos os outros com
generosidade. Não cedamos ao pecado; contudo, alguém pode dizer: “Mas padre,
sou fraco” - “Mas o Senhor está sempre perto de ti, porque é misericordioso!”.
Não esqueças qual é o estilo de Deus: proximidade, compaixão e ternura; Ele
está sempre perto de nós com o seu estilo. A nossa Mãe toma-nos pela mão,
acompanha-nos à glória, convida-nos a regozijar-nos pensando no paraíso.
Bendigamos Maria com a nossa prece, pedindo-lhe um olhar capaz de vislumbrar o
Céu na terra.
Assunção de Maria (Guido Reni) |
Fonte: Santa Sé.
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