sábado, 1 de março de 2025

Homilia: VIII Domingo do Tempo Comum - Ano C

Diádoco de Foticeia
Capítulos sobre a perfeição espiritual
O discernimento dos espíritos se adquire pelo paladar espiritual

O autêntico conhecimento consiste em discernir sem erro o bem do mal; quando se alcança isto, então o caminho da justiça, que conduz a alma para Deus, Sol de justiça, introduz aquela mesma alma na luz infinita do conhecimento, de modo que, doravante, vai segura após a caridade.

Convém que, embora no meio de nossas lutas, conservemos a paz do espírito, para que a mente possa discernir os pensamentos que a atacam, guardando na dispensa da memória aqueles que são bons e possuem sua origem em Deus e lançando desse depósito natural aqueles que são maus e procedem do demônio. O mar, quando está calmo, permite aos pescadores enxergar até o fundo e descobrir onde se encontram os peixes; mas, quando está agitado, fica turvado e impede essa visibilidade, tornando inúteis todos os recursos dos quais os pescadores se utilizam.

Somente o Espírito Santo pode purificar o nosso espírito. Se Ele não entra, como o mais forte do Evangelho, para vencer o ladrão, nunca lhe poderemos arrebatar a presa. Convém, portanto, que em toda ocasião o Espírito Santo se encontre à vontade em nossa alma pacificada, e assim teremos sempre acesa em nós a luz do conhecimento; se ela sempre brilha em nosso interior, não somente serão reveladas as influências nefastas e tenebrosas do demônio, mas também se debilitarão enormemente ao serem surpreendidas por aquela luz santa e gloriosa.

Por isso diz o Apóstolo: Não extingais o Espírito, isto é, não o entristeçais com as vossas más obras e pensamentos, não aconteça que deixe de vos auxiliar com a sua luz. Não é que nós possamos extinguir o que existe de eterno e vivificante no Espírito Santo, mas sim que podemos contristá-lo, ou seja, ao ocasionar este distanciamento entre Ele e nós, nossa alma fica privada de sua luz e envolvida em trevas.

A sensibilidade do espírito consiste em um “paladar apurado”, que nos dá o verdadeiro discernimento. Da mesma forma que, pelo sentido corporal do paladar, quando desfrutamos de boa saúde, apetece-nos aquilo que é agradável, discernindo sem erro o bom do mau, assim também nosso espírito, desde o momento em que começa a possuir plena saúde e a prescindir de preocupações inúteis, torna-se capaz de experimentar a abundância da consolação divina e de reter em sua memória a lembrança de seu sabor, por obra da caridade, para distinguir e ficar com o melhor, conforme o que diz o Apóstolo: Esta é a minha oração: que vosso amor continue crescendo mais e mais em compreensão e em sensibilidade para apreciar os valores.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 646-647. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Cirilo de Alexandria para este domingo clicando aqui.

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