quarta-feira, 31 de outubro de 2018

XII Catequese do Papa sobre os Mandamentos: Não cometer adultério I

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 24 de outubro de 2018
Os Mandamentos (12): Não cometer adultério I

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
No nosso itinerário de catequeses sobre os Mandamentos, hoje chegamos à sexta Palavra, que se refere à dimensão afetiva e sexual, e recita: «Não cometerás adultério».
A exortação imediata é à fidelidade e, com efeito, nenhum relacionamento humano é autêntico sem fidelidade e lealdade.
Não se pode amar só enquanto for “conveniente”; o amor manifesta-se precisamente além do limite da própria vantagem, quando se doa tudo incondicionalmente. Como afirma o Catecismo: «O amor quer ser definitivo. Não pode ser “até nova ordem”» (n. 1.646). A fidelidade é a caraterística da relação humana livre, madura, responsável. Até um amigo se demonstra autêntico, porque permanece tal em qualquer eventualidade, caso contrário não é um amigo. Cristo revela o amor autêntico, Ele que vive do amor ilimitado do Pai, e em virtude disto é o Amigo fiel que nos acolhe mesmo quando erramos e quer sempre o nosso bem, até quando não o merecemos.
O ser humano tem necessidade de ser amado sem condições, e quem não recebe este acolhimento tem em si uma certa incompletude, muitas vezes sem o saber. O coração humano procura preencher este vazio com sucedâneos, aceitando compromissos e mediocridades que só têm um gosto vago do amor. O risco consiste em chamar “amor” a relações acerbas e imaturas, com a ilusão de encontrar luz de vida em algo que, no melhor dos casos, é apenas um seu reflexo.
Assim acontece, por exemplo, que sobrestimamos a atração física, a qual em si é uma dádiva de Deus, mas finalizada a preparar o caminho para uma relação autêntica e fiel com a pessoa. Como dizia São João Paulo II, o ser humano «é chamado à plena e madura espontaneidade dos relacionamentos», que «é o fruto gradual do discernimento dos impulsos do próprio coração». É algo que se conquista, uma vez que cada ser humano, «com perseverança e coerência, deve aprender qual é o significado do corpo» (cf. Catequese, 12 de novembro de 1980).
Portanto, a chamada à vida conjugal exige um discernimento atento sobre a qualidade da relação e um período de noivado para a averiguar. A fim de aceder ao Sacramento do Matrimónio, os noivos devem amadurecer a certeza de que no seu vínculo está a mão de Deus, que os precede e acompanha, permitindo-lhes dizer: «Com a graça de Cristo, prometo ser-te sempre fiel». Não podem prometer-se fidelidade «na alegria e na dor, na saúde e na doença», nem amar-se e honrar-se todos os dias da sua vida, unicamente com base na boa vontade ou na esperança de que “isto funcione”. Precisam de se fundamentar no terreno firme do Amor fiel de Deus. E per isso, antes de receber o Sacramento do Matrimónio, é necessária uma preparação atenta, diria um catecumenato, porque a vida inteira depende do amor, e com o amor não se brinca. Não se pode definir “preparação para o casamento” três ou quatro encontros realizados na paróquia; não, isto não é preparação: é falsa preparação. E a responsabilidade de quem faz isto cai sobre ele: sobre o pároco, sobre o bispo que permite tais situações. A preparação deve ser madura e leva tempo. Não é um ato formal: é um Sacramento. Mas deve-se preparar com um verdadeiro catecumenato.
Com efeito, a fidelidade é um modo de ser, um estilo de vida. Trabalha-se com lealdade, fala-se com sinceridade, permanecendo fiel à verdade nos próprios pensamentos, nas próprias ações. Uma vida tecida de fidelidade exprime-se em todas as dimensões e leva a ser homens e mulheres fiéis e confiáveis em todas as circunstâncias.
Mas para chegar a uma vida tão bonita não é suficiente a nossa natureza humana, é preciso que a fidelidade de Deus entre na nossa existência, nos contagie. Esta sexta Palavra chama-nos a dirigir o olhar para Cristo que, com a sua fidelidade, pode tirar de nós um coração adúltero e doar-nos um coração fiel. N’Ele, e somente n’Ele, existe o amor sem reservas nem arrependimentos, a doação completa, sem parênteses, e a tenacidade do acolhimento total.
A nossa fidelidade deriva da sua morte e ressurreição, a constância nos relacionamentos deriva do seu amor incondicional. A comunhão entre nós e o saber viver na fidelidade os nossos vínculos derivam da comunhão com Ele, com o Pai e com o Espírito Santo.


Fonte: Santa Sé

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