No último dia 28 de maio o site da Rádio Vaticano (Vatican News) publicou os últimos dois textos da série "Dez aspectos da renovação litúrgica do Concílio Vaticano II". Publicamos aqui o primeiro deles:
No
nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos
continuar a tratar da reforma litúrgica.
Temos
dedicado diversos programas deste nosso espaço ao tema da renovação litúrgica
trazida pela Constituição Sacrosanctum
Concilium. Dos dez importantes aspectos escolhidos, falta ainda comentarmos
o verdadeiro sentido da Presença real - não simplesmente como adoração
penitente, mas presença alegre e festiva - e a Oração Universal.
Na
edição de hoje, Padre Gerson Schmidt nos fala sobre “O sentido da Presença real na Liturgia renovada”:
Hoje
queremos aprofundar o verdadeiro sentido da Presença real – não simplesmente
como adoração penitente, mas presença alegre e festiva, memorial do banquete
sagrado.
A
Constituição Sacrosanctum Concilium, no número 07, fala das
diversas formas de Cristo estar presente na Eucaristia que aqui já
explicitamos. Diz assim: “Para realizar tão grande obra, Cristo está sempre
presente em sua Igreja, e especialmente nas ações litúrgicas. Está presente no
sacrifício da missa, tanto na pessoa do ministro, pois aquele que agora se
oferece pelo ministério sacerdotal é o ‘mesmo que, outrora, se ofereceu na cruz’,
como sobretudo nas espécies eucarísticas” (SC, 07). Cristo está presente,
portanto, nas espécies eucarísticas também para ser adorado, mas não só.
A
presença real de Cristo no Sacramento Eucarístico é para ser celebrado como
presença viva, transformadora – não simplesmente como uma presença de adoração
anestesiante, estática, mirabolante ou manipulável. Deus está presente na
hóstia consagrada, não há dúvida disso. A Igreja definiu que Cristo no
sacramento da Eucaristia está real, verdadeira e substancialmente nas hóstias e
vinhos consagrados.
Para
tanto, recordamos aqui a Carta Encíclica Mysterium
Fidei, de Sua Santidade Papa Paulo VI, datada em 3 de Setembro de 1965, na
conclusão do Concilio, que destaca essa presença real nesses termos:
41. Esta presença chama-se “real”, não por exclusão como se as outras
não fossem “reais”, mas por antonomásia porque é substancial, quer dizer, por
ela está presente, de fato, Cristo completo, Deus e homem. Erro seria,
portanto, explicar esta maneira de presença imaginando uma natureza “pneumática”,
como lhe chamam, do corpo de Cristo, natureza esta que estaria presente em toda
a parte; ou reduzindo a presença a puro simbolismo, como se tão augusto
Sacramento consistisse apenas num sinal eficaz “da presença espiritual de
Cristo e da sua íntima união com os féis, membros do Corpo Místico”.
Isso
já dizia Paulo VI, no auge do Concílio. Mas, por vezes, entendemos muito mal
esse sentido da presença concreta e palpável de Cristo na Sagrada Missa. Cristo
está presente na celebração litúrgica não com a finalidade única de ser
adorado. Também deve ser adorado. Mas sobretudo está presente de maneira real
para celebrar a Páscoa conosco, para estar com a Igreja, para ser consumido
como pão para a Vida Eterna, remédio para os pecadores.
O
culto e adoração silenciosa às espécies eucarísticas cabem mais fora do
banquete, no sacrário, do que dentro da missa em tom demasiadamente
penitencial. Jesus Cristo está presente em função do Mistério Pascal e não para
ser adorado pura e simplesmente. O pão e o vinho, uma vez consagrados em Corpo
e Sangue do Senhor, estão feitos para serem comidos e bebidos e somente
secundariamente para serem expostos em adoração.
A
Eucaristia é fundamentalmente um banquete para conduzir todos à Pascoa, que é
dinâmica, viva e celebrativa. Nós transformamos muitas vezes a Eucaristia em
algo estático e manipulável à nossa devoção particular. Devido a controvérsia
protestante, surgiram muitas devoções exageradas, antes do Concilio, ao “divino
prisioneiro do sacrário”, reduzindo-se a Missa ao fato de adorar e comungar e
ter um encontro intimista com Jesus na hóstia consagrada, desvinculado do
verdadeiro memorial da Páscoa do Senhor.
Foi
por isso, que a partir do Concilio Vaticano II, se recomendou e se direcionou
que o sacrário fosse colocado num ambiente lateral para priorizar o altar como
foco principal da Santa Missa. No momento da Sagrada Eucaristia, o ponto
central não é o sacrário, nem a adoração, mas o sacrifício eucarístico no
altar, como banquete pascal repartido e oferecido para todos que celebram.
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