São João Crisóstomo
Sermão sobre a 1ª Carta aos Coríntios
“Aproximemo-nos
de Cristo com fervor”
Cristo nos deu
sua carne para saciar-nos, convidando-nos a uma amizade cada vez mais íntima.
Aproximemo-nos, pois, a ele com fervor e com uma ardente caridade, e não
incorramos em castigo. Porque quanto maiores forem os benefícios recebidos,
mais gravemente seremos castigados se nos fizéssemos indignos de tais
benefícios.
Os magos também
adoraram este corpo recostado em um presépio. E sendo homens irreligiosos e
pagãos, abandonando casa e pátria, percorreram um longo caminho, e, ao chegar,
o adoraram com grande temor e tremor. Imitemos ao menos estes estrangeiros, nós
que somos cidadãos do céu. Eles realmente se aproximaram com grande temor a um
presépio e a uma gruta, sem descobrir nenhuma das coisas que agora te é dado
contemplar. Tu, por outro lado, não o enxergas em um presépio, mas sobre um
altar; não contemplas a uma mulher que o tem em seus braços, mas ao sacerdote
que está de pé em sua presença e ao Espírito, transbordante de riqueza,
pairando sobre os dons. Não vês simplesmente, como eles, este mesmo corpo, mas
conheces todo o seu poder e sua economia de salvação, e não ignoras nada do que
ele fez, pois ao ser iniciado te ensinaram detalhadamente todas estas coisas.
Exortemo-nos, pois, mutuamente com um santo temor, e lhe demonstremos uma
piedade muito mais profunda que a que exibiram aqueles estrangeiros, para que,
não aproximando-nos a ele temerária e desconsideradamente, não tenhamos que
esconder o rosto de vergonha.
Digo isto não
para que não nos aproximemos, mas para que não nos aproximemos com hesitação.
Porque assim como é perigoso aproximar-se com hesitação, assim a não
participação nestas místicas ceias significa a fome e a morte. Porque esta mesa
é a força de nossa alma, a fonte da unidade de todos nossos pensamentos, a
causa de nossa esperança: é esperança, salvação, luz, vida. Se com esta bagagem
saíssemos daquele sacrifício, com confiança nos aproximaríamos aos seus átrios
sagrados, como se fôssemos armados até aos dentes com armadura de ouro.
Talvez falo de
coisas futuras? Desde agora este mistério tornou para ti a terra em um céu.
Abre, pois, as portas do céu e olha; ou melhor dizendo, abre as portas não do
céu, mas do céu dos céus, e então contemplarás o que foi dito. Tudo o que de
mais precioso ali existe, vou mostrar-te permanecendo na terra. Porque assim
como o mais precioso que existe no palácio real não são os muros nem as
coberturas de ouro, mas o rei sentado no trono real, assim também no céu o mais
precioso é a pessoa do Rei.
E a pessoa do
Rei te é dado contemplá-la já agora na terra, pois não te apresento aos anjos,
nem aos arcanjos, nem aos céus, nem aos céus dos céus, mas ao próprio Senhor de
todos eles. Compreendes como na terra contemplas o que há de mais precioso? E
não somente o vês, mas ainda o tocas; e não somente o tocas, mas também o
comes; e depois de tê-lo recebido, regressas para a tua casa. Purifica,
portanto, tua alma, prepara teu coração para a recepção destes mistérios.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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