Santo Agostinho
Sermão 62
“A
humilde fé do centurião”
Enquanto nos era
lido o Evangelho, ouvimos o elogio de nossa fé tendo por base sua humildade.
Tendo o Senhor prometido ir à casa do centurião para curar seu criado, ele
respondeu: Eu não sou digno de que entres
em minha morada, mais dizei uma só palavra e ficará curado. Confessando-se
indigno, tornou-se digno de que Jesus entrasse, não entre as quatro paredes de
sua casa, mas em seu coração. Pois não teria falado com tanta fé e humildade,
se já não abrigasse em seu coração àquele a quem não se cria digno de receber
em sua casa. Pequena teria sido a felicidade se o senhor Jesus tivesse entrado
dentro de suas quatro paredes, e não estivesse hospedado em seu coração.
Realmente, Jesus, mestre de humildade com palavras e com seu exemplo, também se
recostou à mesa na casa de um soberbo fariseu, chamado Simão. Mas, ainda
estando recostado em sua casa, o Filho do Homem não encontrava em seu coração
onde reclinar sua cabeça.
Estava, pois, o
Senhor recostado na casa do fariseu soberbo. Estava em sua casa, como acabo de
dizer, porém não estava em seu coração. No entanto, não entrou na casa deste
centurião, mas se apossou de seu coração. O elogio de sua fé tem como base a humildade.
Disse, de fato: Eu não sou digno de que
entres em minha morada. E o Senhor: Eu
vos digo que nem em Israel encontrei tanta fé: se entende, em Israel
segundo a carne.
Porque, segundo
o espírito, este centurião era israelita. O Senhor veio a Israel segundo a
carne, ou seja, aos judeus, para buscar primeiramente ali as ovelhas perdidas,
em cujo povo e de cujo povo Ele também tinha assumido o copo. Nem em Israel encontrei tanta fé, afirma
Jesus. Nós podemos medir a fé dos homens, porém enquanto homens; Ele que
enxergava o interior do homem, Ele a quem ninguém podia enganar, deu testemunho
ao coração daquele homem, ouvindo as palavras de humildade e pronunciando uma
sentença de cura.
E o que foi que
o levou a semelhante conclusão? Ele disse: Porque
eu também estou debaixo da autoridade e tenho soldados às minhas ordens, e digo
para um: “vai”, e ele vai; a outro: “vem”, e ele vem; e ao meu criado: “faz
isto”, e ele faz. “Sou uma autoridade com súditos às minhas ordens, mas
submetido à outra autoridade superior a mim. Portanto - ele reflete -, se eu,
um homem submetido ao poder de outro, tenho o poder de mandar, o que não
poderás Tu de quem depende todo o poder?” E aquele que isto dizia era um pagão,
centurião para ser mais exato. Ali ele se comportava como um soldado, como um
soldado com graduação de centurião; submetido à autoridade e constituído em
autoridade; obediente como súdito e dando ordens aos seus subordinados. E se
bem que o Senhor estava incorporado ao povo judeu, já anunciava que a Igreja
haveria de propagar-se por todo o orbe da terra, para a qual mais tarde
enviaria aos apóstolos: ele, não visto, porém crido pelos pagãos, visto e morto
pelos judeus.
E assim como o
Senhor, sem entrar fisicamente na casa do centurião - ausente com o corpo,
presente com sua majestade -, curou não obstante sua fé e sua família, assim
também o Senhor em pessoa somente esteve incorporado ao povo judeu; entre os
demais povos não nasceu de uma virgem, nem padeceu, nem percorreu os seus
caminhos, nem suporto as penalidades humanas, nem realiza as maravilhas
divinas. Nada disto nos outros povos. Contudo, a propósito de Jesus se cumpriu
o que se foi dito: Um povo estranho foi
meu servo. Mas como, se é um povo estranho? Escutavam-me e me obedeciam. O mundo inteiro ouviu e creu.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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