sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Meditações da Via Sacra no Coliseu 2013

Como já se tornou costume aqui em nosso blog, nesta primeira sexta-feira da Quaresma publicamos as meditações preparadas para a tradicional Via Sacra presidida pelo Papa no Coliseu.

Nesta postagem recordamos as meditações proferidas há dez anos, na Sexta-feira Santa de 2013:

O Papa Bento XVI (†2022) convidou os jovens libaneses a prepararem as meditações, sob a orientação do Cardeal Béchara Boutros Raï, Patriarca de Antioquia dos Maronitas, após sua Viagem Apostólica ao “país dos cedros” em setembro de 2012.

A Via Sacra, porém, foi presidida pelo Papa Francisco, após a renúncia do seu predecessor.

Mosaico da Crucificação realizado pelo Centro Aletti

No texto, encontramos citações dos Padres da Igreja, das Liturgias Orientais (Maronita, Caldeia, Copta, Bizantina...), e da Exortação Apostólica Ecclesia in Medio Oriente, promulgada pelo Papa Bento XVI como fruto do Sínodo Especial para o Oriente Médio (2010).

Ilustraremos nossa postagem com as estações da Via Sacra realizadas pelo Centro Aletti (Roma) em 2017 para o Santuário de Cristo Rei em Zouk Mosbeh (Líbano).

Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice
Via Sacra no Coliseu presidida pelo Papa Francisco
Sexta-feira Santa, 29 de março de 2013

Meditações preparadas por jovens libaneses sob a orientação do Cardeal Béchara Boutros Raï, Patriarca de Antioquia dos Maronitas

Versículo introdutório
Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi, quia per tuam Sanctam Crucem redemisti mundum. Domine, miserere nobis.

Santo Padre: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Introdução

«Quando Jesus saiu a caminhar, veio alguém correndo, ajoelhou-se diante d’Ele, e perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?”» (Mc 10,17).
A esta pergunta, que arde no mais fundo do nosso ser, Jesus deu resposta percorrendo o caminho da cruz.
Nós te contemplamos, Senhor, nesta estrada pela qual Tu, por primeiro, seguiste e no fim da qual «lançaste a tua cruz como uma ponte através da morte, a fim de que os homens pudessem passar da terra da morte para a da Vida» (Santo Efrém, o Sírio).
O chamado que fazeis a seguir-te é dirigido a todos, especialmente aos jovens e a quantos são provados por divisões, guerras ou injustiças e que lutam por ser, no meio de seus irmãos, sinais de esperança e construtores de paz.
Por isso, nos colocamos com amor diante de ti, te apresentamos os nossos sofrimentos, voltamos os nossos olhares e os nossos corações para a tua Santa Cruz e, encorajados pela tua promessa, rezamos: «Bendito seja o nosso Redentor, que nos deu a vida com a sua morte. Ó Redentor, realiza em nós o mistério da tua redenção, pela tua Paixão, a tua Morte e Ressurreição» (Liturgia Maronita).

I Estação: Jesus é condenado à morte

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


Do Evangelho segundo Marcos (Mc 15,12-13.15)
Pilatos perguntou de novo: “Que quereis então que eu faça com o rei dos Judeus?”. Eles tornaram a gritar: “Crucifica-o!”. (...) Pilatos, querendo satisfazer a multidão, soltou Barrabás, mandou flagelar Jesus e o entregou para ser crucificado.

Na presença de Pilatos, detentor do poder, Jesus deveria ter obtido justiça. Com efeito, Pilatos tinha o poder para reconhecer a inocência de Jesus e libertá-lo. Mas o governador romano preferiu servir a lógica dos seus interesses pessoais e cedeu às pressões políticas e sociais. Condenou um inocente para agradar à multidão, sem satisfazer a verdade. Entregou Jesus ao suplício da cruz, apesar de saber que era inocente... antes de lavar as mãos!
No mundo de hoje existem muitos «Pilatos» que detêm em suas mãos as rédeas do poder e as usam a serviço dos mais fortes. Muitos são os que, fracos e covardes diante destas correntes de poder, empenham sua autoridade a serviço da injustiça e espezinham a dignidade do homem e o seu direito à vida.

Senhor Jesus, não permitas que estejamos no número dos injustos. Não permitas que os fortes se comprazam no mal, na injustiça e no despotismo. Não permitas que a injustiça leve os inocentes ao desespero e à morte. Confirma-os na esperança e ilumina a consciência daqueles que têm autoridade neste mundo, para que governem na justiça. Amém.

Pai nosso...

Stabat Mater dolorósa / iuxta Crucem lacrimósa, / dum pendébat Fílius.

II Estação: Jesus é carregado com a Cruz

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


Do Evangelho segundo Marcos (Mc 15,20)
Depois de zombarem de Jesus, os soldados tiraram-lhe o manto vermelho, vestiram-no de novo com suas próprias roupas e o levaram para fora, a fim de crucificá-lo.

Jesus Cristo está diante dos soldados, que creem ter todo o poder sobre Ele, enquanto foi por Ele “que tudo foi feito, e sem Ele nada se fez de tudo que foi feito” (Jo 1,3).
Em todos os tempos o homem acreditou que poderia substituir Deus e determinar por si mesmo o bem e o mal (cf. Gn 3,5), sem referência ao seu Criador e Salvador. Acreditou ser onipotente, capaz de excluir Deus da própria vida e da vida dos seus semelhantes, em nome da razão, do poder ou do dinheiro.
Também hoje o mundo se curva a realidades que procuram expulsar Deus da vida do homem, como o laicismo cego que sufoca os valores da fé e da moral em nome de uma suposta defesa do homem, ou o fundamentalismo violento que toma como pretexto a defesa dos valores religiosos (cf. Exortação Apostólica Ecclesia in Medio Oriente, n. 29).

Senhor Jesus, a ti que assumiste a humilhação e te identificaste com os fracos, te confiamos todos os homens e todos os povos humilhados e sofredores, especialmente os do martirizado Oriente. Concede-lhes encontrar em ti a força para poderem carregar contigo a sua cruz de esperança. Colocamos em tuas mãos todos aqueles que se perderam, para que, por teu intermédio, encontrem a verdade e o amor. Amém.

Pai nosso...

Cuius animam gementem, / contristatam et dolentem / pertransivit gladius.

III Estação: Jesus cai pela primeira vez

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.



Do Livro do Profeta Isaías (Is 53,5)
Ele foi trespassado por causa das nossas culpas, e esmagado devido às nossas faltas. O castigo que nos salva, caiu sobre Ele, e por causa das suas chagas é que fomos curados.

Aquele que sustenta os luzeiros do céu em sua mão divina e diante do qual tremem as potestades celestes, cai por terra, sem proteger-se, sob o jugo pesado da cruz.
Aquele que trouxe a paz ao mundo, ferido por nossos pecados, cai sob o fardo das nossas culpas.
«Vede, ó fiéis, o nosso Salvador que avança pelo caminho do Calvário. Oprimido por amargos sofrimentos, as forças o abandonam. Vamos ver este incrível acontecimento, que ultrapassa a nossa compreensão e é difícil de descrever. Os alicerces da terra foram abalados e um medo terrível se apoderou dos presentes quando o seu Criador e Deus foi esmagado sob o peso da cruz e se deixou conduzir à morte, por amor de toda a humanidade» (Liturgia Caldeia).

Senhor Jesus, reergue-nos das nossas quedas, reconduz o nosso espírito perdido à tua Verdade. Não permitas que a razão humana, que criaste para ti, se contente com as verdades parciais da ciência e da tecnologia, sem colocar-se as perguntas fundamentais sobre o sentido e a existência (cf. Carta Apostólica Porta fidei, n. 12). Concede, Senhor, abrirmo-nos à ação do teu Santo Espírito, para que Ele nos conduza à plenitude da Verdade. Amém.

Pai nosso...

O quam tristis et afflicta / fuit illa benedicta / Mater Unigeniti!

IV Estação: Jesus encontra sua Mãe

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


Do Evangelho segundo Lucas (Lc 2,34-35.51b)
Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma”. (...) Sua mãe conservava todas estas coisas em seu coração.

Ferido e atribulado, carregando a cruz da humanidade, Jesus encontra sua Mãe e, no seu rosto, toda a humanidade.
Maria, Mãe de Deus, foi a primeira discípula do Mestre. Acolhendo a palavra do Anjo, encontrou pela primeira vez o Verbo encarnado e tornou-se templo do Deus vivo. Encontrou-o sem compreender como o Criador do céu e da terra quis escolher uma menina, uma frágil criatura, para se encarnar neste mundo. Encontrou-o em uma busca constante do seu Rosto, no silêncio do coração e na meditação da Palavra. Acreditava ser ela que o buscava, mas, na verdade, era Ele que a procurava. Agora, enquanto carrega a cruz, a encontra.
Jesus sofre ao ver sua Mãe sofrer, e Maria por ver sofrer o seu Filho. Mas, deste sofrimento comum, nasce a nova humanidade. «A paz esteja contigo! Nós te suplicamos, ó Santa repleta de glória, sempre Virgem, Mãe de Deus, Mãe de Cristo. Eleva nossa oração à presença do teu amado Filho, para que perdoe os nossos pecados» (Theotokion do Orologion Copta, Al-Aghbia, 37).

Senhor Jesus, também nós sentimos, em nossas famílias, os sofrimentos que os pais causam aos seus filhos, e os filhos a seus pais. Senhor, faz com que, nestes tempos difíceis, nossas famílias sejam lugares da tua presença, para que os nossos sofrimentos se transformem em alegria. Sê a força das nossas famílias e faz com que sejam oásis de amor, paz e serenidade, à imagem da Sagrada Família de Nazaré. Amém.

Pai nosso...

Quae moerebat et dolebat, / pia Mater, dum videbat / Nati poenas incliti.

V Estação: Simão de Cirene ajuda Jesus a levar a cruz

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


Do Evangelho segundo Lucas (Lc 23,26)
Enquanto levavam Jesus, pegaram certo Simão, de Cirene, que voltava do campo, e impuseram-lhe a cruz para carregá-la atrás de Jesus.

O encontro de Jesus com Simão de Cirene é um encontro silencioso, uma lição de vida: Deus não quer o sofrimento nem aceita o mal. E o mesmo vale para o ser humano. Mas o sofrimento, acolhido na fé, se transforma em caminho de salvação. Então o aceitamos como Jesus e o ajudamos a carregá-lo como Simão de Cirene.

Senhor Jesus, tu envolveste o homem no carregar a tua cruz. Tu nos convidaste a partilhar o teu sofrimento. Simão de Cirene é semelhante a nós e ensina-nos a aceitar a cruz que encontramos nas estradas da vida.
Seguindo o teu exemplo, Senhor, carregamos hoje também nós a cruz da tribulação e da enfermidade, mas a aceitamos porque Tu estás conosco. Ela pode cravar-nos em uma cadeira, mas não impedir de sonhar; obscurecer o olhar, mas não ferir a consciência; tornar surdo o ouvido, mas não impedir de escutar; prender a língua, mas não suprimir a sede de verdade; deixar a alma pesada, mas não roubar a liberdade.
Senhor, queremos ser teus discípulos para carregar a tua cruz todos os dias; a portaremos com alegria e esperança porque Tu a levas conosco, porque triunfaste sobre a morte por nós.
Nós te damos graças, Senhor, por cada pessoa doente ou sofredora, que sabe ser testemunha do teu amor, e por cada «Simão de Cirene» que colocas no nosso caminho. Amém.

Pai nosso...

Quis est homo qui non fleret, / Matrem Christi si videret / in tanto supplicio?

VI Estação: Verônica limpa o rosto de Jesus

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


Do Livro dos Salmos (Sl 26,8-9)
Meu coração fala convosco confiante, e os meus olhos vos procuram.
Senhor, é vossa face que eu procuro; não me escondais a vossa face!
Não afasteis em vossa ira o vosso servo, sois vós o meu auxílio!
Não me esqueçais nem me deixeis abandonado, meu Deus e Salvador!

A Verônica te procurou em meio à multidão; te procurou e finalmente te encontrou. Quando o teu sofrimento estava no auge, ela quis suavizá-lo, enxugando teu rosto com um pano. Um pequeno gesto, mas exprimia todo o seu amor por ti e toda a sua fé em ti; ficou gravado na memória da nossa tradição cristã.

Senhor Jesus, é o teu rosto que procuramos. A Verônica nos recorda que Tu estás presente em cada pessoa que sofre e que segue pelo caminho do Gólgota. Senhor, faz com que te encontremos nos pobres, teus irmãos pequeninos, para enxugar as lágrimas de quem chora, cuidar de quem sofre e amparar quem é fraco.
Senhor, nos ensinas que uma pessoa ferida e esquecida não perde nem o seu valor nem a sua dignidade, mas permanece sinal da tua presença escondida no mundo. Ajuda-nos a enxugar os traços da pobreza e da injustiça do seu rosto, para que a tua imagem se revele e resplandeça nela.
Rezamos por aqueles que buscam o teu Rosto e o encontram no rosto dos que não têm lar, dos pobres e das crianças sujeitas à violência e à exploração. Amém.

Pai nosso...

Quis non posset contristati / Christi Matrem comtemplari / dolentem cum Filio?

VII Estação: Jesus cai pela segunda vez

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


Do Livro dos Salmos (Sl 21,8.12)
Riem de mim todos aqueles que me veem,
Torcem os lábios e sacodem a cabeça...
Não fiqueis longe de mim, porque padeço;
Ficai perto, pois não há quem me socorra!

Jesus está sozinho sob o peso interior e exterior da cruz. É na queda que o peso do mal se torna demasiado grande e parece que já não há limite para a injustiça e a violência.
Mas Ele se levanta mais uma vez, fortalecido com a confiança infinita que tem em seu Pai. Perante os homens que o abandonam à sua sorte, a força do Espírito o levanta; o une inteiramente à vontade do Pai, à vontade do amor que tudo pode.

Senhor Jesus, na tua segunda queda reconhecemos muitas das nossas situações que parecem sem saída. Entre elas, as causadas pelo preconceito e pelo ódio, que endurecem os nossos corações e levam a conflitos religiosos.
Ilumina as nossas consciências a fim de reconhecermos que, não obstante «as divergências humanas e religiosas», há «um raio de verdade que ilumina todos os homens», chamados a caminhar juntos - no respeito à liberdade religiosa - rumo à verdade que está unicamente em Deus. Assim, as diversas religiões podem «unir seus esforços para servir o bem comum, contribuindo para o desenvolvimento de cada pessoa e a edificação da sociedade» (Ecclesia in Medio Oriente, nn. 27-28).
Vinde, Espírito Santo, consolar e fortalecer os cristãos, em particular aqueles do Oriente Médio, para que, unidos a Cristo, sejam as testemunhas do seu amor universal em uma terra dilacerada pela injustiça e pelos conflitos. Amém.

Pai nosso...

Pro peccatis suae gentis / vidit Jesum in tormentis, / et flagellis subditum.

VIII Estação: Jesus encontra as mulheres de Jerusalém

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


Do Evangelho segundo Lucas (Lc 23,27-28)
Seguia-o uma grande multidão do povo e de mulheres que batiam no peito e choravam por Ele. Jesus, porém, voltou-se e disse: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos!”.

No caminho do Calvário, o Senhor encontra as mulheres de Jerusalém. Estas mulheres choram o sofrimento do Senhor, como se se tratasse de um sofrimento sem esperança. Na cruz, elas não veem senão o madeiro, sinal de maldição (cf. Dt 21,23), enquanto o Senhor a desejou como meio de Redenção e Salvação.
Na Paixão e na Crucificação, Jesus oferece a sua vida em resgate por muitos. Assim Ele deu alívio aos que estavam oprimidos e consolou os aflitos. Enxugou as lágrimas das mulheres de Jerusalém e abriu seus olhos à verdade pascal.
O nosso mundo está cheio de mães aflitas, de mulheres feridas na sua dignidade, violentadas pela discriminação, a injustiça e o sofrimento (cf. Ecclesia in Medio Oriente, n. 60). Ó Cristo sofredor, sê a sua paz e o bálsamo das suas feridas.

Senhor Jesus, com a tua Encarnação no seio de Maria «bendita entre as mulheres» (Lc 1,42), elevaste a dignidade de toda a mulher. Com a Encarnação, unificaste o gênero humano (cf. Gl 3,26-28).
Senhor, que o anseio dos nossos corações seja te encontrar. O nosso caminho, embora cheio de sofrimento, seja sempre um percurso de esperança, contigo e para ti, que és o refúgio da nossa vida e a nossa Salvação. Amém.

Pai nosso...

Eia, mater, fons amoris, / me sentire vim doloris / fac, ut tecum lugeam.

IX Estação: Jesus cai pela terceira vez

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


Da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios (2Cor 5,14-15)
O amor de Cristo nos impele, pois julgamos que um só morreu por todos, e que, logo, todos morreram. De fato, Cristo morreu por todos, para que os vivos não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou.

Pela terceira vez Jesus cai sob a cruz, carregado com os nossos pecados, e pela terceira vez procura levantar-se, reunindo as forças que lhe restam, para continuar o caminho para o Gólgota, recusando deixar-se esmagar e sucumbir à tentação.
A partir da sua Encarnação, Jesus carrega a cruz do sofrimento humano e do pecado. Assumiu plena e eternamente a natureza humana, mostrando aos homens que a vitória é possível e que o caminho da filiação divina está aberto.

Senhor Jesus, a Igreja, nascida do teu lado aberto, está oprimida sob a cruz das divisões que afastam os cristãos uns dos outros e da unidade que tu quiseste para eles; desviam-se do teu desejo de «que todos sejam um» (Jo 17,21) como o Pai é um contigo. Esta cruz grava todo o seu peso sobre a sua vida e o seu testemunho comum. Concede-nos, Senhor, a sabedoria e a humildade para nos levantarmos e avançarmos pelo caminho da unidade, na verdade e no amor, sem sucumbir à tentação de recorrer apenas aos critérios dos interesses pessoais ou sectários diante das divisões que enfrentamos (cf. Ecclesia in Medio Oriente, n. 11).
Concede-nos renunciar à mentalidade de divisão « para não privar a cruz de Cristo da sua força própria» (1Cor 1,17). Amém.

Pai nosso...

Fac ut ardeat cor meum / in amando Christum Deum, / ut sibi complaceam.

X Estação: Jesus é despojado das suas vestes

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


Do Livro dos Salmos (Sl 21,19)
Eles repartem entre si as minhas vestes
E sorteiam entre si a minha túnica.

Na plenitude dos tempos, Senhor Jesus, revestiste a nossa humanidade, Tu cuja «orla do manto enchia o templo» (Is 6,1); agora caminhas entre nós, e os que tocam a orla das tuas vestes ficam curados. Mas até destas vestes foste despojado, Senhor! Roubamos a tua túnica, e Tu nos deste também o manto (cf. Mt 5,40). Permitiste que o véu da tua carne se rasgasse para que fossemos admitidos de novo à presença do Pai (cf. Hb 10,19-20).
Pensávamos que podíamos realizar-nos por nós mesmos, independentemente de ti (cf. Gn 3,4-7). Encontramo-nos nus, mas no teu amor infinito nos revestiste da dignidade de filhos e filhas de Deus e da tua graça santificante.
Concede, Senhor, aos filhos das Igrejas Orientais - despojados por várias dificuldades, incluindo às vezes a perseguição, e debilitados pela emigração - a coragem de permanecer nos seus países para anunciarem a Boa Nova.

Ó Jesus, Filho do Homem, que foste despojado para nos revelar a nova criatura ressuscitada dos mortos, rasga em nós o véu que nos separa de Deus e tece em nós a tua presença divina.
Concede-nos vencer o medo diante dos acontecimentos da vida que nos despojam e deixam nus, e revestir o homem novo do nosso Batismo, a fim de anunciar a Boa Nova, proclamando que Tu és o único Deus verdadeiro que guia a história. Amém.

Pai nosso...

Sancta Mater, istud agas, / Crucifixi fige plagas / cordi meo valide.

XI Estação: Jesus é pregado na cruz

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


Do Evangelho segundo João (Jo 19,16.19)
Então Pilatos entregou Jesus para ser crucificado, e eles o levaram. (...) Pilatos mandou ainda escrever um letreiro e colocá-lo na cruz; nele estava escrito: “Jesus o Nazareno, o Rei dos Judeus”.

Eis o Messias esperado, suspenso no madeiro da cruz entre dois ladrões. As mãos que abençoaram a humanidade estão transpassadas. Os pés que pisaram a nossa terra para anunciar a Boa Nova estão suspensos entre a terra e o céu. Os olhos cheios de amor, que, com um simples olhar, curaram os enfermos e perdoaram os nossos pecados, já não fixam senão o Céu.

Senhor Jesus, crucificado pelas nossas iniquidades, Tu rezas a Deus Pai e intercedes pela humanidade. Cada golpe do martelo ressoa como uma batida do teu coração imolado.
Como são belos no monte Calvário os pés d’Aquele que anuncia a Boa Nova da Salvação. O teu amor, Jesus, encheu o universo. As tuas mãos trespassadas são o nosso refúgio na angústia. Elas nos acolhem cada vez que o abismo do pecado nos ameaça; em tuas chagas encontramos a cura e o perdão.
Ó Jesus, te pedimos por todos os jovens que estão oprimidos pelo desespero, pelos jovens vítimas das drogas, das seitas e das perversões. Liberta-os da sua escravidão. Que eles ergam os olhos e acolham o Amor; que eles descubram a felicidade em ti. Salva-os, nosso Salvador. Amém.

Pai nosso...

Tui Nati vulnerati, / tam dignati pro me pati, / poenas mecum divide.

XII Estação: Jesus morre na cruz

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


Do Evangelho segundo Lucas (Lc 23,46)
Jesus deu um forte grito: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Dizendo isso, expirou

Do alto da cruz, um grito: grito de abandono no momento da morte, grito de confiança no sofrimento, grito do parto de uma nova vida. Nós te vemos, suspenso na Árvore da Vida, entregar o teu espírito nas mãos do Pai, fazendo jorrar a vida em abundância e moldando a nova criatura. Hoje também nós enfrentamos os desafios deste mundo: sentimos que as ondas das preocupações nos submergem e fazem vacilar a nossa confiança. Reforça em nós, Senhor, a certeza interior de que nenhuma morte nos vencerá enquanto repousarmos nas mãos que nos formaram e nos acompanham.
E possa cada um de nós exclamar:
«Ontem, estava crucificado com Cristo, hoje, estou glorificado com Ele.
Ontem, estava morto com Ele, hoje, estou vivo com Ele.
Ontem, estava sepultado com Ele, hoje, ressuscitei com Ele» (São Gregório Nazianzeno).

Nas trevas das nossas noites, nós te contemplamos. Ensina-nos a dirigirmo-nos ao Altíssimo, teu Pai celestial.
Hoje rezamos para que todos os que promovem o aborto tomem consciência de que o amor só pode ser fonte de vida. Pensamos também nos defensores da eutanásia e naqueles que incentivam técnicas e procedimentos que colocam em perigo a vida humana. Abre seus corações para que te conheçam na verdade, para que se comprometam na construção da civilização da vida e do amor. Amém.

Pai nosso...

Vidit suum dulcem Natum / morientem desolatum / dum emisit spiritum.

XIII Estação: O corpo de Jesus é descido da cruz e entregue à sua Mãe

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


Do Evangelho segundo João (Jo 19,26-27a)
Jesus, ao ver sua Mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à Mãe: “Mulher, este é o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Esta é a tua Mãe”.

Senhor Jesus, aqueles que te amam permanecem junto a ti e conservam a fé. Na hora da agonia e da morte, quando o mundo crê que o mal triunfa e que a voz da verdade e do amor, da justiça e da paz, se cala, a fé deles não desfalece.
Ó Maria, em tuas mãos, colocamos a nossa terra. «Como é triste ver esta terra bendita sofrer nos seus filhos que encarniçadamente se destroçam uns aos outros, e morrem!» (Ecclesia in Medio Oriente, n. 8). Parece que não há nada capaz de suprimir o mal, o terrorismo, o homicídio e o ódio. «Diante da cruz na qual teu Filho estendeu as suas mãos imaculadas para a nossa salvação, ó Virgem, nos prostramos neste dia: concede-nos a paz» (Liturgia Bizantina).

Oremos pelas vítimas das guerras e da violência que devastam, neste nosso tempo, vários países do Oriente Médio, assim como outras partes do mundo. Oremos para que os desabrigados e os emigrantes forçados possam voltar antes possível às suas casas e às suas terras. Senhor, faz com que o sangue das vítimas inocentes seja semente de um novo Oriente, mais fraterno, mais pacífico e mais justo, e que este Oriente recupere o esplendor da sua vocação de berço de civilização e de valores espirituais e humanos.
Estrela do Oriente, indica-nos a vinda da Aurora! Amém.

Pai nosso...

Fac me tecum pie flere, / Crucifixo condolere, / donec ego vixero.

XIV Estação: O corpo de Jesus é depositado no sepulcro

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


Do Evangelho segundo João (Jo 19,39-40)
Nicodemos, o mesmo que antes tinha ido encontrar-se com Jesus de noite, levou uns trinta quilos de perfume feito de mirra e aloés. Então tomaram o corpo de Jesus e envolveram-no, com os aromas, em faixas de linho, como os judeus costumam sepultar.

Nicodemos recebe o corpo de Cristo, cuida dele e o depõe em um sepulcro no meio de um jardim, que recorda o da Criação. Jesus deixa-se sepultar tal como se deixou crucificar, no mesmo abandono, inteiramente «entregue» nas mãos dos homens e «perfeitamente unido» a eles «até ao sono sob a laje do túmulo» (São Gregório de Narek).
Aceitar as dificuldades, os acontecimentos dolorosos, a morte, exige uma esperança firme, uma fé viva.
A pedra colocada à entrada do túmulo será removida, e surgirá uma nova vida.
Com efeito, «pelo Batismo na sua morte, fomos sepultados com Ele, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim também nós levemos uma vida nova» (Rm 6,4).
Recebemos a liberdade de filhos de Deus para não retornar à escravidão; a vida nos é dada em abundância, para não nos contentarmos mais com uma vida privada de beleza e de sentido.

Senhor Jesus, faz de nós filhos da luz que não temem as trevas. Nós te pedimos hoje por todos aqueles que buscam o sentido da vida e por quantos perderam a esperança, para que acreditem na tua vitória sobre o pecado e a morte. Amém.

Pai nosso...

Quando corpus morietur, / fac ut animae donetur / paradisi gloria. Amen.


Bênção Apostólica

Canto final: Crux fidelis

Cardeal Béchara Boutros Raï, Patriarca Maronita:
Coordenador dos jovens que prepararam as meditações

Fonte: Santa Sé / Imagens: Centro Aletti.

Confira também:

A Via Sacra (2012, atualizada em 2021)



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