Como já se tornou costume aqui em nosso blog, nesta primeira
sexta-feira da Quaresma publicamos as meditações preparadas para a tradicional
Via Sacra presidida pelo Papa no Coliseu.
Nesta postagem recordamos as meditações proferidas há dez
anos, na Sexta-feira Santa de 2013:
O Papa Bento XVI (†2022) convidou os jovens libaneses a prepararem
as meditações, sob a orientação do Cardeal Béchara Boutros Raï, Patriarca de Antioquia dos Maronitas, após sua Viagem Apostólica ao “país dos cedros” em
setembro de 2012.
A Via Sacra, porém, foi presidida pelo Papa
Francisco, após a renúncia do seu predecessor.
Mosaico da Crucificação realizado pelo Centro Aletti |
No texto, encontramos citações dos Padres da Igreja, das Liturgias Orientais
(Maronita, Caldeia, Copta, Bizantina...), e da Exortação Apostólica Ecclesia in
Medio Oriente, promulgada pelo Papa Bento XVI como fruto do Sínodo Especial
para o Oriente Médio (2010).
Ilustraremos nossa postagem com as estações da Via Sacra realizadas
pelo Centro Aletti (Roma) em 2017 para o Santuário de Cristo Rei em Zouk Mosbeh
(Líbano).
Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice
Via Sacra no Coliseu presidida pelo Papa Francisco
Sexta-feira Santa, 29 de março de 2013
Meditações preparadas por jovens libaneses sob a orientação do Cardeal Béchara Boutros Raï, Patriarca de Antioquia dos Maronitas
Versículo introdutório
Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi, quia per tuam
Sanctam Crucem redemisti mundum. Domine, miserere nobis.
Santo Padre: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Amém.
Introdução
«Quando Jesus saiu a caminhar, veio alguém correndo,
ajoelhou-se diante d’Ele, e perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar
a vida eterna?”» (Mc 10,17).
A esta pergunta, que arde no mais fundo do nosso ser, Jesus
deu resposta percorrendo o caminho da cruz.
Nós te contemplamos, Senhor, nesta estrada pela qual Tu, por
primeiro, seguiste e no fim da qual «lançaste a tua cruz como uma ponte através
da morte, a fim de que os homens pudessem passar da terra da morte para a da
Vida» (Santo Efrém, o Sírio).
O chamado que fazeis a seguir-te é dirigido a todos,
especialmente aos jovens e a quantos são provados por divisões, guerras ou
injustiças e que lutam por ser, no meio de seus irmãos, sinais de esperança e construtores
de paz.
Por isso, nos colocamos com amor diante de ti, te apresentamos
os nossos sofrimentos, voltamos os nossos olhares e os nossos corações para a tua
Santa Cruz e, encorajados pela tua promessa, rezamos: «Bendito seja o nosso
Redentor, que nos deu a vida com a sua morte. Ó Redentor, realiza em nós o
mistério da tua redenção, pela tua Paixão, a tua Morte e Ressurreição»
(Liturgia Maronita).
I Estação: Jesus é condenado à morte
Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Do Evangelho segundo Marcos (Mc 15,12-13.15)
Pilatos perguntou de novo: “Que quereis então que eu faça
com o rei dos Judeus?”. Eles tornaram a gritar: “Crucifica-o!”. (...) Pilatos,
querendo satisfazer a multidão, soltou Barrabás, mandou flagelar Jesus e o
entregou para ser crucificado.
Na presença de Pilatos, detentor do poder, Jesus deveria ter
obtido justiça. Com efeito, Pilatos tinha o poder para reconhecer a inocência
de Jesus e libertá-lo. Mas o governador romano preferiu servir a lógica dos
seus interesses pessoais e cedeu às pressões políticas e sociais. Condenou um
inocente para agradar à multidão, sem satisfazer a verdade. Entregou Jesus ao
suplício da cruz, apesar de saber que era inocente... antes de lavar as mãos!
No mundo de hoje existem muitos «Pilatos» que detêm em suas
mãos as rédeas do poder e as usam a serviço dos mais fortes. Muitos são os que,
fracos e covardes diante destas correntes de poder, empenham sua autoridade a
serviço da injustiça e espezinham a dignidade do homem e o seu direito à vida.
Senhor Jesus, não permitas que estejamos no número dos injustos.
Não permitas que os fortes se comprazam no mal, na injustiça e no despotismo.
Não permitas que a injustiça leve os inocentes ao desespero e à morte. Confirma-os
na esperança e ilumina a consciência daqueles que têm autoridade neste mundo,
para que governem na justiça. Amém.
Pai nosso...
Stabat Mater dolorósa / iuxta Crucem lacrimósa, / dum
pendébat Fílius.
II Estação: Jesus é carregado com a Cruz
Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Do Evangelho segundo Marcos (Mc 15,20)
Depois de zombarem de Jesus, os soldados tiraram-lhe o manto
vermelho, vestiram-no de novo com suas próprias roupas e o levaram para fora, a
fim de crucificá-lo.
Jesus Cristo está diante dos soldados, que creem ter todo o
poder sobre Ele, enquanto foi por Ele “que tudo foi feito, e sem Ele nada se
fez de tudo que foi feito” (Jo 1,3).
Em todos os tempos o homem acreditou que poderia substituir
Deus e determinar por si mesmo o bem e o mal (cf. Gn 3,5), sem
referência ao seu Criador e Salvador. Acreditou ser onipotente, capaz de
excluir Deus da própria vida e da vida dos seus semelhantes, em nome da razão,
do poder ou do dinheiro.
Também hoje o mundo se curva a realidades que procuram
expulsar Deus da vida do homem, como o laicismo cego que sufoca os valores da
fé e da moral em nome de uma suposta defesa do homem, ou o fundamentalismo
violento que toma como pretexto a defesa dos valores religiosos (cf.
Exortação Apostólica Ecclesia in Medio
Oriente, n. 29).
Senhor Jesus, a ti que assumiste a humilhação e te identificaste
com os fracos, te confiamos todos os homens e todos os povos humilhados e sofredores,
especialmente os do martirizado Oriente. Concede-lhes encontrar em ti a força
para poderem carregar contigo a sua cruz de esperança. Colocamos em tuas mãos todos
aqueles que se perderam, para que, por teu intermédio, encontrem a verdade e o
amor. Amém.
Pai nosso...
Cuius animam gementem, / contristatam et dolentem / pertransivit
gladius.
III Estação: Jesus cai pela primeira vez
Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Do Livro do Profeta Isaías (Is 53,5)
Ele foi trespassado por causa das nossas culpas, e esmagado
devido às nossas faltas. O castigo que nos salva, caiu sobre Ele, e por causa
das suas chagas é que fomos curados.
Aquele que sustenta os luzeiros do céu em sua mão divina e diante
do qual tremem as potestades celestes, cai por terra, sem proteger-se, sob o
jugo pesado da cruz.
Aquele que trouxe a paz ao mundo, ferido por nossos pecados,
cai sob o fardo das nossas culpas.
«Vede, ó fiéis, o nosso Salvador que avança pelo caminho do
Calvário. Oprimido por amargos sofrimentos, as forças o abandonam. Vamos ver
este incrível acontecimento, que ultrapassa a nossa compreensão e é difícil de
descrever. Os alicerces da terra foram abalados e um medo terrível se apoderou
dos presentes quando o seu Criador e Deus foi esmagado sob o peso da cruz e se
deixou conduzir à morte, por amor de toda a humanidade» (Liturgia Caldeia).
Senhor Jesus, reergue-nos das nossas quedas, reconduz o
nosso espírito perdido à tua Verdade. Não permitas que a razão humana, que
criaste para ti, se contente com as verdades parciais da ciência e da
tecnologia, sem colocar-se as perguntas fundamentais sobre o sentido e a
existência (cf. Carta Apostólica Porta
fidei, n. 12). Concede, Senhor, abrirmo-nos à ação do teu Santo Espírito,
para que Ele nos conduza à plenitude da Verdade. Amém.
Pai nosso...
O quam tristis et afflicta / fuit illa benedicta / Mater
Unigeniti!
IV Estação: Jesus encontra sua Mãe
Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Do Evangelho segundo Lucas (Lc 2,34-35.51b)
Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este
menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel.
Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de
muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma”. (...) Sua mãe conservava
todas estas coisas em seu coração.
Ferido e atribulado, carregando a cruz da humanidade, Jesus
encontra sua Mãe e, no seu rosto, toda a humanidade.
Maria, Mãe de Deus, foi a primeira discípula do Mestre.
Acolhendo a palavra do Anjo, encontrou pela primeira vez o Verbo encarnado e
tornou-se templo do Deus vivo. Encontrou-o sem compreender como o Criador do céu
e da terra quis escolher uma menina, uma frágil criatura, para se encarnar
neste mundo. Encontrou-o em uma busca constante do seu Rosto, no silêncio do
coração e na meditação da Palavra. Acreditava ser ela que o buscava, mas, na
verdade, era Ele que a procurava. Agora, enquanto carrega a cruz, a encontra.
Jesus sofre ao ver sua Mãe sofrer, e Maria por ver sofrer o
seu Filho. Mas, deste sofrimento comum, nasce a nova humanidade. «A paz esteja
contigo! Nós te suplicamos, ó Santa repleta de glória, sempre Virgem, Mãe de
Deus, Mãe de Cristo. Eleva nossa oração à presença do teu amado Filho, para que
perdoe os nossos pecados» (Theotokion do
Orologion Copta, Al-Aghbia, 37).
Senhor Jesus, também nós sentimos, em nossas famílias, os
sofrimentos que os pais causam aos seus filhos, e os filhos a seus pais.
Senhor, faz com que, nestes tempos difíceis, nossas famílias sejam lugares da tua
presença, para que os nossos sofrimentos se transformem em alegria. Sê a força das
nossas famílias e faz com que sejam oásis de amor, paz e serenidade, à imagem
da Sagrada Família de Nazaré. Amém.
Pai nosso...
Quae moerebat et dolebat, / pia Mater, dum videbat / Nati
poenas incliti.
V Estação: Simão de Cirene ajuda Jesus a levar a cruz
Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Do Evangelho segundo Lucas (Lc 23,26)
Enquanto levavam Jesus, pegaram certo Simão, de Cirene, que
voltava do campo, e impuseram-lhe a cruz para carregá-la atrás de Jesus.
O encontro de Jesus com Simão de Cirene é um encontro
silencioso, uma lição de vida: Deus não quer o sofrimento nem aceita o mal. E o
mesmo vale para o ser humano. Mas o sofrimento, acolhido na fé, se transforma
em caminho de salvação. Então o aceitamos como Jesus e o ajudamos a carregá-lo como
Simão de Cirene.
Senhor Jesus, tu envolveste o homem no carregar a tua cruz. Tu
nos convidaste a partilhar o teu sofrimento. Simão de Cirene é semelhante a nós
e ensina-nos a aceitar a cruz que encontramos nas estradas da vida.
Seguindo o teu exemplo, Senhor, carregamos hoje também nós a
cruz da tribulação e da enfermidade, mas a aceitamos porque Tu estás conosco.
Ela pode cravar-nos em uma cadeira, mas não impedir de sonhar; obscurecer o
olhar, mas não ferir a consciência; tornar surdo o ouvido, mas não impedir de
escutar; prender a língua, mas não suprimir a sede de verdade; deixar a alma
pesada, mas não roubar a liberdade.
Senhor, queremos ser teus discípulos para carregar a tua
cruz todos os dias; a portaremos com alegria e esperança porque Tu a levas conosco,
porque triunfaste sobre a morte por nós.
Nós te damos graças, Senhor, por cada pessoa doente ou sofredora,
que sabe ser testemunha do teu amor, e por cada «Simão de Cirene» que colocas
no nosso caminho. Amém.
Pai nosso...
Quis est homo qui non fleret, / Matrem Christi si videret /
in tanto supplicio?
VI Estação: Verônica limpa o rosto de Jesus
Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Do Livro dos Salmos (Sl 26,8-9)
Meu coração fala convosco confiante, e os meus
olhos vos procuram.
Senhor, é vossa face que eu procuro; não me
escondais a vossa face!
Não afasteis em vossa ira o vosso servo, sois vós o
meu auxílio!
Não me esqueçais nem me deixeis abandonado, meu
Deus e Salvador!
A Verônica te procurou em meio à multidão; te procurou e
finalmente te encontrou. Quando o teu sofrimento estava no auge, ela quis
suavizá-lo, enxugando teu rosto com um pano. Um pequeno gesto, mas exprimia
todo o seu amor por ti e toda a sua fé em ti; ficou gravado na memória da nossa
tradição cristã.
Senhor Jesus, é o teu rosto que procuramos. A Verônica nos recorda
que Tu estás presente em cada pessoa que sofre e que segue pelo caminho do
Gólgota. Senhor, faz com que te encontremos nos pobres, teus irmãos pequeninos,
para enxugar as lágrimas de quem chora, cuidar de quem sofre e amparar quem é
fraco.
Senhor, nos ensinas que uma pessoa ferida e esquecida não
perde nem o seu valor nem a sua dignidade, mas permanece sinal da tua presença
escondida no mundo. Ajuda-nos a enxugar os traços da pobreza e da injustiça do
seu rosto, para que a tua imagem se revele e resplandeça nela.
Rezamos por aqueles que buscam o teu Rosto e o encontram no
rosto dos que não têm lar, dos pobres e das crianças sujeitas à violência e à
exploração. Amém.
Pai nosso...
Quis non posset contristati / Christi Matrem comtemplari /
dolentem cum Filio?
VII Estação: Jesus cai pela segunda vez
Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Do Livro dos Salmos (Sl 21,8.12)
Riem de mim todos aqueles que me veem,
Torcem os lábios e sacodem a cabeça...
Não fiqueis longe de mim, porque padeço;
Ficai perto, pois não há quem me socorra!
Jesus está sozinho sob o peso interior e exterior da cruz. É
na queda que o peso do mal se torna demasiado grande e parece que já não há
limite para a injustiça e a violência.
Mas Ele se levanta mais uma vez, fortalecido com a confiança
infinita que tem em seu Pai. Perante os homens que o abandonam à sua sorte, a
força do Espírito o levanta; o une inteiramente à vontade do Pai, à vontade do
amor que tudo pode.
Senhor Jesus, na tua segunda queda reconhecemos muitas das
nossas situações que parecem sem saída. Entre elas, as causadas pelo
preconceito e pelo ódio, que endurecem os nossos corações e levam a conflitos
religiosos.
Ilumina as nossas consciências a fim de reconhecermos que,
não obstante «as divergências humanas e religiosas», há «um raio de verdade que
ilumina todos os homens», chamados a caminhar juntos - no respeito à liberdade
religiosa - rumo à verdade que está unicamente em Deus. Assim, as diversas
religiões podem «unir seus esforços para servir o bem comum, contribuindo para
o desenvolvimento de cada pessoa e a edificação da sociedade» (Ecclesia in Medio Oriente, nn. 27-28).
Vinde, Espírito Santo, consolar e fortalecer os cristãos, em
particular aqueles do Oriente Médio, para que, unidos a Cristo, sejam as testemunhas
do seu amor universal em uma terra dilacerada pela injustiça e pelos conflitos.
Amém.
Pai nosso...
Pro peccatis suae gentis / vidit Jesum in tormentis, / et
flagellis subditum.
VIII Estação: Jesus encontra as mulheres de Jerusalém
Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Do Evangelho segundo Lucas (Lc 23,27-28)
Seguia-o uma grande multidão do povo e de mulheres que
batiam no peito e choravam por Ele. Jesus, porém, voltou-se e disse: “Filhas de
Jerusalém, não choreis por mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos!”.
No caminho do Calvário, o Senhor encontra as mulheres de
Jerusalém. Estas mulheres choram o sofrimento do Senhor, como se se tratasse de
um sofrimento sem esperança. Na cruz, elas não veem senão o madeiro, sinal de
maldição (cf. Dt 21,23), enquanto o Senhor a desejou como meio de
Redenção e Salvação.
Na Paixão e na Crucificação, Jesus oferece a sua vida em
resgate por muitos. Assim Ele deu alívio aos que estavam oprimidos e consolou
os aflitos. Enxugou as lágrimas das mulheres de Jerusalém e abriu seus olhos à
verdade pascal.
O nosso mundo está cheio de mães aflitas, de mulheres
feridas na sua dignidade, violentadas pela discriminação, a injustiça e o
sofrimento (cf. Ecclesia in Medio
Oriente, n. 60). Ó Cristo sofredor, sê a sua paz e o bálsamo das suas
feridas.
Senhor Jesus, com a tua Encarnação no seio de Maria «bendita
entre as mulheres» (Lc 1,42), elevaste a dignidade de toda a mulher. Com
a Encarnação, unificaste o gênero humano (cf. Gl 3,26-28).
Senhor, que o anseio dos nossos corações seja te encontrar. O
nosso caminho, embora cheio de sofrimento, seja sempre um percurso de esperança,
contigo e para ti, que és o refúgio da nossa vida e a nossa Salvação. Amém.
Pai nosso...
Eia, mater, fons amoris, / me sentire vim doloris / fac, ut
tecum lugeam.
IX Estação: Jesus cai pela terceira vez
Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios (2Cor 5,14-15)
O amor de Cristo nos impele, pois julgamos que um só morreu
por todos, e que, logo, todos morreram. De fato, Cristo morreu por todos, para
que os vivos não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu
e ressuscitou.
Pela terceira vez Jesus cai sob a cruz, carregado com os
nossos pecados, e pela terceira vez procura levantar-se, reunindo as forças que
lhe restam, para continuar o caminho para o Gólgota, recusando deixar-se
esmagar e sucumbir à tentação.
A partir da sua Encarnação, Jesus carrega a cruz do
sofrimento humano e do pecado. Assumiu plena e eternamente a natureza humana,
mostrando aos homens que a vitória é possível e que o caminho da filiação
divina está aberto.
Senhor Jesus, a Igreja, nascida do teu lado aberto, está oprimida
sob a cruz das divisões que afastam os cristãos uns dos outros e da unidade que
tu quiseste para eles; desviam-se do teu desejo de «que todos sejam um» (Jo
17,21) como o Pai é um contigo. Esta cruz grava todo o seu peso sobre a sua
vida e o seu testemunho comum. Concede-nos, Senhor, a sabedoria e a humildade para
nos levantarmos e avançarmos pelo caminho da unidade, na verdade e no amor, sem
sucumbir à tentação de recorrer apenas aos critérios dos interesses pessoais ou
sectários diante das divisões que enfrentamos (cf. Ecclesia in Medio Oriente, n. 11).
Concede-nos renunciar à mentalidade de divisão « para não
privar a cruz de Cristo da sua força própria» (1Cor 1,17). Amém.
Pai nosso...
Fac ut ardeat cor meum / in amando Christum Deum, / ut sibi
complaceam.
X Estação: Jesus é despojado das suas vestes
Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Do Livro dos Salmos (Sl 21,19)
Eles repartem entre si as minhas vestes
E sorteiam entre si a minha túnica.
Na plenitude dos tempos, Senhor Jesus, revestiste a nossa
humanidade, Tu cuja «orla do manto enchia o templo» (Is 6,1); agora caminhas
entre nós, e os que tocam a orla das tuas vestes ficam curados. Mas até destas
vestes foste despojado, Senhor! Roubamos a tua túnica, e Tu nos deste também o
manto (cf. Mt 5,40). Permitiste que o véu da tua carne se rasgasse para que
fossemos admitidos de novo à presença do Pai (cf. Hb 10,19-20).
Pensávamos que podíamos realizar-nos por nós mesmos, independentemente
de ti (cf. Gn 3,4-7). Encontramo-nos nus, mas no teu amor infinito nos
revestiste da dignidade de filhos e filhas de Deus e da tua graça santificante.
Concede, Senhor, aos filhos das Igrejas Orientais -
despojados por várias dificuldades, incluindo às vezes a perseguição, e
debilitados pela emigração - a coragem de permanecer nos seus países para anunciarem
a Boa Nova.
Ó Jesus, Filho do Homem, que foste despojado para nos
revelar a nova criatura ressuscitada dos mortos, rasga em nós o véu que nos
separa de Deus e tece em nós a tua presença divina.
Concede-nos vencer o medo diante dos acontecimentos da vida
que nos despojam e deixam nus, e revestir o homem novo do nosso Batismo, a fim
de anunciar a Boa Nova, proclamando que Tu és o único Deus verdadeiro que guia
a história. Amém.
Pai nosso...
Sancta Mater, istud agas, / Crucifixi fige plagas / cordi meo
valide.
XI Estação: Jesus é pregado na cruz
Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Do Evangelho segundo João (Jo 19,16.19)
Então Pilatos entregou Jesus para ser crucificado, e eles o
levaram. (...) Pilatos mandou ainda escrever um letreiro e colocá-lo na cruz;
nele estava escrito: “Jesus o Nazareno, o Rei dos Judeus”.
Eis o Messias esperado, suspenso no madeiro da cruz entre
dois ladrões. As mãos que abençoaram a humanidade estão transpassadas. Os pés
que pisaram a nossa terra para anunciar a Boa Nova estão suspensos entre a
terra e o céu. Os olhos cheios de amor, que, com um simples olhar, curaram os
enfermos e perdoaram os nossos pecados, já não fixam senão o Céu.
Senhor Jesus, crucificado pelas nossas iniquidades, Tu rezas
a Deus Pai e intercedes pela humanidade. Cada golpe do martelo ressoa como uma
batida do teu coração imolado.
Como são belos no monte Calvário os pés d’Aquele que anuncia
a Boa Nova da Salvação. O teu amor, Jesus, encheu o universo. As tuas mãos
trespassadas são o nosso refúgio na angústia. Elas nos acolhem cada vez que o
abismo do pecado nos ameaça; em tuas chagas encontramos a cura e o perdão.
Ó Jesus, te pedimos por todos os jovens que estão oprimidos
pelo desespero, pelos jovens vítimas das drogas, das seitas e das perversões.
Liberta-os da sua escravidão. Que eles ergam os olhos e acolham o Amor; que eles
descubram a felicidade em ti. Salva-os, nosso Salvador. Amém.
Pai nosso...
Tui Nati vulnerati, / tam dignati pro me pati, / poenas
mecum divide.
XII Estação: Jesus morre na cruz
Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Do Evangelho segundo Lucas (Lc 23,46)
Jesus deu um forte grito: “Pai, em tuas mãos entrego o meu
espírito”. Dizendo isso, expirou
Do alto da cruz, um grito: grito de abandono no momento da
morte, grito de confiança no sofrimento, grito do parto de uma nova vida. Nós te
vemos, suspenso na Árvore da Vida, entregar o teu espírito nas mãos do Pai,
fazendo jorrar a vida em abundância e moldando a nova criatura. Hoje também nós
enfrentamos os desafios deste mundo: sentimos que as ondas das preocupações nos
submergem e fazem vacilar a nossa confiança. Reforça em nós, Senhor, a certeza
interior de que nenhuma morte nos vencerá enquanto repousarmos nas mãos que nos
formaram e nos acompanham.
E possa cada um de nós exclamar:
«Ontem, estava crucificado com Cristo, hoje, estou glorificado
com Ele.
Ontem, estava morto com Ele, hoje, estou vivo com Ele.
Ontem, estava sepultado com Ele, hoje, ressuscitei com Ele» (São Gregório
Nazianzeno).
Nas trevas das nossas noites, nós te contemplamos. Ensina-nos
a dirigirmo-nos ao Altíssimo, teu Pai celestial.
Hoje rezamos para que todos os que promovem o aborto tomem
consciência de que o amor só pode ser fonte de vida. Pensamos também nos
defensores da eutanásia e naqueles que incentivam técnicas e procedimentos que
colocam em perigo a vida humana. Abre seus corações para que te conheçam na
verdade, para que se comprometam na construção da civilização da vida e do
amor. Amém.
Pai nosso...
Vidit suum dulcem Natum / morientem desolatum / dum emisit
spiritum.
XIII Estação: O corpo de Jesus é descido da cruz e entregue
à sua Mãe
Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Do Evangelho segundo João (Jo 19,26-27a)
Jesus, ao ver sua Mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele
amava, disse à Mãe: “Mulher, este é o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Esta
é a tua Mãe”.
Senhor Jesus, aqueles que te amam permanecem junto a ti e
conservam a fé. Na hora da agonia e da morte, quando o mundo crê que o mal
triunfa e que a voz da verdade e do amor, da justiça e da paz, se cala, a fé
deles não desfalece.
Ó Maria, em tuas mãos, colocamos a nossa terra. «Como é
triste ver esta terra bendita sofrer nos seus filhos que encarniçadamente se
destroçam uns aos outros, e morrem!» (Ecclesia
in Medio Oriente, n. 8). Parece que não há nada capaz de suprimir o mal, o
terrorismo, o homicídio e o ódio. «Diante da cruz na qual teu Filho estendeu as
suas mãos imaculadas para a nossa salvação, ó Virgem, nos prostramos neste dia:
concede-nos a paz» (Liturgia Bizantina).
Oremos pelas vítimas das guerras e da violência que
devastam, neste nosso tempo, vários países do Oriente Médio, assim como outras
partes do mundo. Oremos para que os desabrigados e os emigrantes forçados possam
voltar antes possível às suas casas e às suas terras. Senhor, faz com que o
sangue das vítimas inocentes seja semente de um novo Oriente, mais fraterno,
mais pacífico e mais justo, e que este Oriente recupere o esplendor da sua
vocação de berço de civilização e de valores espirituais e humanos.
Estrela do Oriente, indica-nos a vinda da Aurora! Amém.
Pai nosso...
Fac me tecum pie flere, / Crucifixo condolere, / donec ego
vixero.
XIV Estação: O corpo de Jesus é depositado no sepulcro
Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Do Evangelho segundo João (Jo 19,39-40)
Nicodemos, o mesmo que antes tinha ido encontrar-se com
Jesus de noite, levou uns trinta quilos de perfume feito de mirra e aloés.
Então tomaram o corpo de Jesus e envolveram-no, com os aromas, em faixas de
linho, como os judeus costumam sepultar.
Nicodemos recebe o corpo de Cristo, cuida dele e o depõe em um
sepulcro no meio de um jardim, que recorda o da Criação. Jesus deixa-se
sepultar tal como se deixou crucificar, no mesmo abandono, inteiramente
«entregue» nas mãos dos homens e «perfeitamente unido» a eles «até ao sono sob
a laje do túmulo» (São Gregório de Narek).
Aceitar as dificuldades, os acontecimentos dolorosos, a
morte, exige uma esperança firme, uma fé viva.
A pedra colocada à entrada do túmulo será removida, e
surgirá uma nova vida.
Com efeito, «pelo Batismo na sua morte, fomos sepultados com
Ele, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim
também nós levemos uma vida nova» (Rm 6,4).
Recebemos a liberdade de filhos de Deus para não retornar à
escravidão; a vida nos é dada em abundância, para não nos contentarmos mais com
uma vida privada de beleza e de sentido.
Senhor Jesus, faz de nós filhos da luz que não temem as
trevas. Nós te pedimos hoje por todos aqueles que buscam o sentido da vida e
por quantos perderam a esperança, para que acreditem na tua vitória sobre o
pecado e a morte. Amém.
Pai nosso...
Quando corpus morietur, / fac ut animae donetur / paradisi
gloria. Amen.
Bênção Apostólica
Canto final: Crux fidelis
Cardeal Béchara Boutros Raï, Patriarca Maronita: Coordenador dos jovens que prepararam as meditações |
Fonte: Santa Sé / Imagens: Centro Aletti.
Confira também:
A Via Sacra (2012, atualizada em 2021)
A Via Sacra Bíblica (2018)
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