segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Ângelus: VII Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 19 de fevereiro de 2023

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
As palavras que Jesus nos dirige no Evangelho deste domingo são exigentes e parecem paradoxais: Ele convida-nos a dar a outra face e a amar até os inimigos (Mt 5,38-48). É normal para nós amarmos aqueles que nos amam e sermos amigos daqueles que são nossos amigos; no entanto, Jesus provoca-nos dizendo: se agirdes desta forma, «o que fazeis de extraordinário?» (v. 47). O que fazeis de extraordinário? Eis o ponto para o qual gostaria de chamar a vossa atenção hoje, para este o que fazeis de extraordinário.

“Extraordinário” é aquilo que ultrapassa os limites do habitual, que excede as práticas habituais e os cálculos normais ditados pela prudência. Geralmente, procuramos ter tudo em ordem e sob controlo, para que corresponda às nossas expectativas, à nossa medida: temendo não termos reciprocidade ou de nos expormos demasiado e depois ficar decepcionados, preferimos amar apenas aqueles que nos amam para evitar desilusões, fazer bem apenas àqueles que são bons para conosco, ser generosos apenas com aqueles que podem retribuir o favor; e àqueles que nos tratam mal respondemos com a mesma moeda, para estarmos em equilíbrio. Mas o Senhor admoesta-nos: isto não é suficiente! Diríamos: isto não é cristão! Se permanecermos no normal, no equilíbrio entre dar e receber, as coisas não mudam. Se Deus seguisse esta lógica, não teríamos esperança alguma de salvação! Mas, felizmente para nós, o amor de Deus é sempre “extraordinário”, ou seja, vai além, vai além dos critérios habituais com os quais nós, humanos, vivemos as nossas relações.

Por conseguinte, as palavras de Jesus desafiam-nos. Enquanto procuramos permanecer no ordinário do raciocínio utilitarista, Ele pede-nos que nos abramos ao extraordinário, ao extraordinário de um amor gratuito; enquanto nós tentamos acertar as contas, Cristo encoraja-nos a viver o desequilíbrio do amor. Jesus não é um bom contabilista: não! Ele conduz sempre ao desequilíbrio do amor. Não nos surpreendamos com isto. Se Deus não se tivesse desequilibrado, nunca teríamos sido salvos: foi o desequilíbrio da cruz que nos salvou! Jesus não teria vindo à nossa procura quando estávamos perdidos e distantes, não nos teria amado até ao fim, não teria abraçado a cruz por nós, que não merecíamos tudo isto e nada lhe podíamos dar em troca. Como escreve o Apóstolo Paulo, «dificilmente alguém morrerá por um justo: por um homem bom, talvez alguém resolva morrer. Deus, porém, demonstra o seu amor para conosco, pelo fato de Cristo haver morrido por nós, quando ainda éramos pecadores» (Rm 5,7-8). Então, Deus ama-nos enquanto somos pecadores, não porque somos bons ou capazes de lhe dar algo em troca. Irmãos e irmãs, o amor de Deus é um amor sempre em excesso, sempre para além do cálculo, sempre desproporcionado. E hoje Ele pede também a nós que vivamos desta forma, porque só desta maneira o testemunharemos verdadeiramente.

Irmãos e irmãs, o Senhor propõe-nos sair da lógica do interesse próprio e não medir o amor nas escalas dos cálculos e da conveniência. Ele convida-nos a não responder ao mal com o mal, a ousar no bem, a arriscar na doação, mesmo que recebamos pouco ou nada em troca. Pois é este amor que lentamente transforma conflitos, encurta distâncias, supera inimizades e cura as feridas do ódio. Então podemos perguntar-nos, cada um de nós: será que eu, na minha vida, sigo a lógica do retorno ou a da gratuidade, como Deus? O amor extraordinário de Cristo não é fácil, mas é possível; é possível porque Ele mesmo nos ajuda, dando-nos o seu Espírito, o seu amor sem medida.

Oremos a Nossa Senhora que, respondendo a Deus o seu “sim” sem cálculos, permitiu que fizesse dela a obra-prima da sua Graça.


Fonte: Santa Sé.

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