sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Ângelus: XXIII Domingo do Tempo Comum - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 09 de setembro de 2018

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho deste domingo (Mc 7,31-37) narra o episódio da cura milagrosa de um surdo-mudo, realizada por Jesus. Trouxeram-lhe um surdo-mudo, rogando-lhe que lhe impusesse as mãos. Contudo, Jesus faz vários gestos sobre ele: antes de tudo, levou-o para um lugar apartado, distante da multidão. Nessa ocasião, assim como noutras, Jesus age sempre com discrição. Não quer impressionar o povo, não está à procura da popularidade nem do sucesso, mas só deseja fazer o bem às pessoas. Com esta atitude, Ele ensina-nos que o bem deve ser praticado sem clamores, sem ostentação, sem “tocar a trombeta”. Deve ser praticado em silêncio.

Depois de se ter afastado, Jesus pôs os dedos nos ouvidos do surdo-mudo e tocou a sua língua com a saliva. Este gesto remete para a Encarnação. O Filho de Deus é um homem inserido na realidade humana: fez-se homem, e portanto pode compreender a condição dolorosa de outro homem e intervém com um gesto no qual está envolvida a própria humanidade. Ao mesmo tempo, Jesus quer fazer entender que o milagre se realiza por causa da sua união com o Pai: por isso, elevou os olhos ao céu. Depois, emitiu um suspiro e pronunciou a palavra decisiva: «Efatá», que significa “Abre-te!”. E imediatamente o homem ficou curado: os ouvidos se abriram, a língua libertou-se. A cura foi para ele uma «abertura» aos outros e ao mundo.

Esta narração do Evangelho ressalta a exigência de uma dupla cura. Antes de tudo, a cura da doença e do sofrimento físico, para restituir a saúde do corpo; embora esta finalidade não seja completamente alcançável no horizonte terreno, não obstante tantos esforços da ciência e da medicina. Contudo, há uma segunda cura, talvez mais difícil, e trata-se da cura do medo. A cura do medo que nos impele a marginalizar o enfermo, a marginalizar o sofredor, o deficiente. E existem muitos modos de marginalizar, até mediante uma pseudopiedade, ou eliminando o problema; permanecemos surdos e mudos diante das dores das pessoas marcadas por doenças, angústias e dificuldades. Demasiadas vezes o enfermo e o sofredor tornam-se um problema, enquanto deveriam ser ocasião para manifestar a solicitude e a solidariedade de uma sociedade em relação aos membros mais frágeis.

Jesus revelou-nos o segredo de um milagre que também nós podemos repetir, tornando-nos protagonistas do «Efatá», daquela palavra “Abre-te!” com a qual Ele restituiu a palavra e a audição ao surdo-mudo. Trata-se de nos abrirmos às necessidades dos nossos irmãos sofredores e necessitados de ajuda, evitando o egoísmo e o fechamento do coração. É precisamente o coração, ou seja, o núcleo profundo da pessoa, que Jesus vem «abrir», libertar, para nos tornar capazes de viver plenamente a relação com Deus e com o próximo. Ele fez-se homem porque o homem, que o pecado tornou interiormente surdo e mudo, possa ouvir a voz de Deus, a voz do Amor que fala ao seu coração e assim, por sua vez, aprenda a falar a linguagem do amor, traduzindo-a em gestos de generosidade e de doação de si mesmo.

Maria, Aquela que se «abriu» totalmente ao amor do Senhor, nos conceda experimentar cada dia, na fé, o milagre do «Efatá», para viver em comunhão com Deus e com os irmãos.


Fonte: Santa Sé.

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