No último dia 31 de julho, o Papa Francisco encontrou-se na
Praça São Pedro com cerca de 80 mil coroinhas e “acólitos”, vindos de 18 países
(sendo a maioria da Alemanha). No início do encontro, o Papa respondeu as
perguntas de cinco coroinhas:
Saudação inicial:
Saudação inicial:
Queridos ministrantes, boa tarde!
Sinto alegria por vos ver tão
numerosos aqui na Praça de São Pedro, enfeitada com as cores das vossas
bandeiras. Alegrei-me também antes por vos ver ao meio-dia, com este calor:
sois corajosos! Parabéns! Entregastes-me os distintivos da vossa peregrinação:
obrigado de coração! Sou peregrino juntamente convosco que vindes de muitos
países. Estamos unidos na fé em Jesus Cristo, estamos a caminho com Ele que é a
nossa paz. Agradeço ao vosso Presidente, Monsenhor Nemet, a saudação que me
dirigiu em vosso nome. Ele pediu-me que vos encorajasse, disse: “Ermutigen
Sie sie, Heiliger Vater!”. Devo encorajar-vos. Por isso cedo o lugar a vós,
formulai as perguntas.
1ª Pergunta (Francês):
Como ministrantes e também como crentes desejamos a paz
um ao outro ao trocarmos o abraço durante a santa missa. De que modo podemos
contribuir para fazer com que esta paz saia de dentro das nossas igrejas, para
nos tornar construtores de paz nas nossas comunidades, nas nossas cidades,
famílias e no mundo?
Papa Francisco:
Obrigado! Disseste muito bem: a paz e a Santa Missa caminham
juntas. Antes do sinal da paz pedimos ao Senhor que conceda paz e unidade à
comunidade da Igreja. A paz é o seu dom que nos transforma a fim de que nós,
como membros do seu corpo, possamos experimentar os mesmos sentimentos de
Jesus, pensar como Ele - os mesmos sentimentos de Jesus e pensar como Jesus
pensa! - amar como Ele ama. Isto proporciona paz. E no final da Missa somos
enviados com a palavra: «Ide em paz», isto é: levai a paz convosco para a
oferecer aos outros, dando-a com a vossa vida, com o sorriso, com as obras de
caridade. O compromisso concreto a favor da paz é a prova do fato de que somos
deveras discípulos de Jesus. A busca da paz começa pelas pequenas coisas. Por
exemplo, em casa, depois de uma discussão entre irmãos - pergunto - fecho-me em
mim mesmo sentindo-me ofendido ou tento dar um passo em direção do outro? Sei
fazer a paz com pequenos gestos? Estou pronto a questionar-me em cada situação:
“O que faria Jesus no meu lugar?”. Se fizermos isto, e procurarmos pô-lo em
prática com decisão, levaremos a paz de Cristo da vida quotidiana e seremos
construtores e instrumentos de paz. Obrigado.
2ª Pergunta (Português):
Somos ministrantes, servimos o Senhor junto do altar e
contemplamo-lo na Eucaristia. Como podemos viver a contemplação espiritual
seguindo o exemplo de Maria e o serviço prático a exemplo de Marta de modo
concreto, procurando reconhecer o que Jesus quer de nós na nossa vida?
Papa Francisco:
Com efeito, como ministrantes fazeis um pouco da experiência
de Marta e Maria. Seria bom se, além dos vossos turnos de serviço litúrgico,
pudésseis por um lado comprometer-vos na vida paroquial e por outro permanecer
em silêncio na presença do Senhor: ambas as coisas. Desta forma, neste
entrelaçamento de ação e de contemplação, reconhece-se também o desígnio de
Deus sobre nós; veem-se quais são os talentos e os interesses que Deus coloca
no nosso coração e a maneira de os desenvolver; mas sobretudo nos põe
humildemente diante de Deus, assim como somos: sem nos pintarmos, sem nos
disfarçarmos, assim como somos, diante de Deus, com méritos e limites,
perguntando-lhe como melhor poder servir a Ele e ao nosso próximo. E não
tenhais medo de pedir um bom conselho quando vos questionardes sobre a maneira
de poder servir a Deus e às pessoas que precisam de ajuda no mundo.
Recordai-vos que quanto mais vos dedicardes aos outros tanto mais recebereis
vós mesmos em plenitude e sereis felizes! Obrigado.
3ª Pergunta (Inglês):
Sendo ministrantes entristecemo-nos ao ver poucos
coetâneos que participam na missa e na vida paroquial. A Igreja nalguns países
está a perder rapidamente muitos jovens, por diferentes motivos. Como podemos
nós e as nossas comunidades chegar àquelas pessoas fazendo com que voltem para
Cristo e a família da Igreja?
Papa Francisco:
Hoje vós, como jovens, podeis ser apóstolos que sabem atrair
os outros a Jesus. Isto acontece se vós mesmos estiverdes cheios de entusiasmo
por Ele, por Jesus, se O encontrastes, conhecestes pessoalmente, e se tiverdes
sido, vós em primeiro lugar, “conquistados” por Ele. Por isso digo-vos:
procurai conhecer e amar sempre mais o Senhor Jesus - gostaria de o repetir:
procurai conhecer e amar sempre mais o Senhor Jesus - encontrando-vos com Ele
na oração, na Missa, na leitura do Evangelho, no rosto dos pequeninos e dos
pobres. E procurai ser amigos, com gratuidade, de quantos estão ao vosso redor,
para que um raio da luz de Jesus possa alcançá-los através do vosso coração
apaixonado por Ele. Queridos jovens, não são necessárias muitas palavras, são
mais importantes os factos, a proximidade, o serviço, o olhar silencioso diante
do Santíssimo Sacramento. A juventude - assim como todos, de resto - precisa de
amigos que deem um bom exemplo, que façam algo sem nada pretender, sem nada
esperar em troca. E deste modo fazeis sentir também como é bonita a comunidade
dos crentes porque o Senhor habita no meio deles, como é bom fazer parte da
família da Igreja. Obrigado.
4ª Pergunta (Alemão):
Tantas pessoas afirmam que não precisam de Deus, da
religião e da Igreja nas suas vidas. Por que deveriam aderir precisamente à fé
católica? O que é o mais importante? E por que a fé é tão importante para Vossa
Santidade?
Papa Francisco:
A fé é essencial, ela faz-me viver. Diria que a fé é como o
ar que respiramos. Ao respirarmos não pensamos em quanto o ar é necessário, mas
quando ele falta ou não é puro damo-nos conta de quanto é importante! A fé
ajuda-nos a compreender o sentido da vida: há alguém que nos ama infinitamente,
e este alguém é Deus. Ele ama-nos infinitamente. Podemos reconhecer Deus como o
nosso criador e salvador; amar a Deus e aceitar a nossa vida como seu dom. Deus
deseja entrar numa relação vital conosco; quer criar relações, e nós somos
chamados a fazer o mesmo. Não podemos crer em Deus e pensar que somos filhos
únicos! Deus tem um só Filho Único que é Jesus. Único porque é
Deus. Mas entre os homens, não há filhos únicos de Deus. Pensai nisto! Todos
somos filhos de Deus. Somos chamados a formar a família de Deus, isto é a
Igreja, a comunidade de irmãos e irmãs em Cristo - somos «membros da família de
Deus» como diz São Paulo (Ef 2,19). E nesta família da Igreja o
Senhor nutre os seus filhos com a sua Palavra e os seus Sacramentos. Obrigado.
5ª Pergunta (Húngaro):
O nosso serviço como ministrantes é bom, gostamos muito
dele. Queremos servir ao Senhor e ao próximo. Mas praticar o bem nem sempre é
fácil, ainda não somos santos. Como podemos traduzir o nosso serviço, na vida
diária, em obras concretas de caridade e num caminho rumo à santidade?
Papa Francisco:
Sim, é preciso esforço para praticar sempre o bem e
tornar-se santo... Sabes, a via para a santidade não é para os preguiçosos: é
preciso esforço. Vejo que vós ministrantes vos esforçais neste caminho. O
Senhor Jesus deu-nos um programa simples a fim de caminhar na via para a
santidade: o mandamento do amor a Deus e ao próximo. Procuremos permanecer bem
enraizados na amizade com Deus, gratos pelo seu amor e desejosos de O servir em
tudo e assim só podemos compartilhar o dom do seu amor com os outros. Para
concretizar o mandamento do amor, Jesus indicou-nos as obras de misericórdia.
Gostaria de perguntar aqui se todos vós conheceis as obras de misericórdia.
Estou certo de que os vossos bispos vo-lo ensinaram. Mas vós, conheceis-las
bem, quais são as obras de misericórdia? Se não as conheceis, como podeis
praticá-las? É importante: as obras de misericórdia. São uma via exigente mas
ao alcance de todos. Papa praticar uma obra de misericórdia não é preciso ir à
universidade, formar-se. Todos, todos podemos fazer as obras de misericórdia.
Estão ao alcance de todos. É suficiente que cada um de nós comece a
questionar-se: “O que posso fazer hoje para ir ao encontro das necessidades do
meu próximo?”, deste próximo: dos meus irmãos, do meu pai, da
minha mãe, dos avós, dos meus amigos, dos pobres, dos doentes...; mas um, um
por dia. O que posso fazer para ir ao encontro das necessidades do meu próximo?
E não importa se é amigo ou desconhecido, concidadão ou estrangeiro, é o
próximo. Acreditai em mim, se fizerdes assim podereis tornar-vos deveras
santos, homens e mulheres que transformam o mundo vivendo o amor de Cristo. É
verdade, não é fácil, é preciso esforço. Mas, recordai-vos, digo-o mais uma
vez: a via para a santidade não é para os preguiçosos.
Obrigado por este colóquio!
No final do encontro o Papa presidiu uma breve Liturgia da
Palavra, durante a qual proferiu a seguinte homilia:
Homilia do Santo Padre
«Fazei tudo para a glória de Deus»: assim São Paulo nos
exorta na carta que acabamos de escutar. Servir a glória de Deus em tudo o que
fazemos é o critério decisivo para o nosso agir, a síntese máxima do que
significa viver a amizade com Jesus. É a indicação que nos orienta quando não
temos a certeza sobre o que fazer; que nos ajuda a reconhecer a voz de Deus
dentro de nós, que nos fala na consciência para que possamos discernir a sua
vontade. A glória de Deus é a agulha da bússola da nossa consciência.
São Paulo fala-nos também de
outro critério: esforçar-se por agradar em tudo a todos a fim de que sejam
salvos. Somos todos filhos de Deus, temos todos os mesmos desejos, sonhos e
ideais. Por vezes, alguns ficam desiludidos, e somos nós que podemos reacender a
luz, transmitir um pouco de bom humor. Deste modo, é mais fácil dar-se bem e
testemunhar na vida do dia a dia o amor de Deus e a alegria da fé. Depende da
nossa coerência que os nossos irmãos reconheçam Jesus Cristo, o único salvador
e a esperança do mundo.
Talvez vos pergunteis: “Com
posso fazer isso? Não é uma tarefa demasiado difícil?”. É verdade, é uma missão
grande, mas possível. Além disso, São Paulo encoraja-nos: «Sede meus
imitadores, como também eu sou de Cristo». Sim, podemos viver esta missão imitando
Jesus como fizeram o apóstolo Paulo e todos os santos. Olhemos para os santos,
que são o Evangelho vivido, pois souberam traduzir a mensagem de Cristo na
própria vida. O santo de hoje, Inácio de Loyola, quando era um jovem soldado
pensava na própria glória, depois, no momento oportuno foi atraído pela glória
de Deus, e descobriu que ali se encontrava o centro e o sentido da vida.
Sejamos imitadores dos santos; façamos tudo para a glória de Deus e para a
salvação dos irmãos. Mas, estai atentos e lembrai-vos: neste caminho para
seguir os santos, nesta estrada da santidade, não há lugar para jovens
preguiçosos. Obrigado!
Fonte: Santa Sé
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