Orígenes
Comentário ao Evangelho de São Mateus
Coragem!
Sou Eu!
Se em alguma
ocasião chegássemos a tombar no recife das tentações, recordemos que foi Jesus
quem nos mandou subir na barca da prova, e que quer que lhe precedamos na
margem oposta. Pois é impossível, para quem não passou pela tentação das ondas
e do vento contrário, chegar àquela margem. Assim, quando nos víssemos cercados
por múltiplas dificuldades, e mediante um esforço moderado tivéssemos de certa
forma conseguido esquivar-se delas, imaginemos que nossa barca se encontra em
mar aberto, sacudida pelas ondas que desejariam fazer-nos naufragar na fé ou em
alguma outra virtude. Porém, quando víssemos que é o espírito do mal que
ataca-nos, então temos de concluir que o vento nos é contrário.
Contudo, quando
suportando o vento contrário tivessem transcorrido as três vigílias da noite,
isto é, das trevas que acompanham a tentação, lutando intrepidamente de acordo
com as nossas forças, procurando escapar ao naufrágio da fé – a primeira
vigília representa o pai das trevas e do pecado; a segunda seu filho, “o
adversário”, em revolta contra tudo o que
traz o nome de Deus ou o que é objeto de adoração; a terceira, o espírito
inimigo do Espírito Santo, estejamos seguros que, vindo a quarta vigília, quando a noite vai adiantada e está prestes
a amanhecer, o Filho de Deus virá junto a nós, caminhando sobre as ondas
para acalmar o nosso mar agitado. E quando víssemos que o Verbo nos aparece,
talvez nos assustemos antes de percebermos de que estamos na presença do
Salvador, e crendo ver um fantasma gritaremos atemorizados, mas Ele nos dirá em
seguida: Coragem, sou Eu, não tenham
medo!
E se entre nós
se encontrar outro Pedro, mais fortemente comovido pelas palavras de coragem do
Senhor, esse Pedro em caminho para uma perfeição que ainda não alcançou,
descendo da barca – como fugindo da tentação que o acometia – em um primeiro
momento andou querendo aproximar-se de Jesus sobre as águas; porém, sendo a sua
fé ainda insuficiente, e agitado pela dúvida, sentirá a força do vento, sentirá
o medo e começará a afundar. Mas não afundará, porque gritando se dirigirá a
Jesus suplicando: Senhor, salva-me! E
imediatamente, também a este Pedro que lhe suplica dizendo: Senhor, salva-me, o Verbo lhe estenderá
a mão e socorrerá a este homem, agarrando-o no preciso momento em que começava
a afundar, e lançando-lhe em face sua pouca fé e o ter duvidado. Contudo,
observa que não lhe disse: “incrédulo”, mas homem
de pouca fé, e que acrescentou: Por
que duvidaste?, como alguém que, apesar de ter um pouco de fé, vacila e não
se comporta de modo contrário.
Momentos depois,
tanto Jesus como Pedro subiram na barca e o vento se acalmou. Os que estavam na
barca, percebendo de que perigo foram salvos, o adoraram dizendo: Realmente és o Filho de Deus.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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