Santo Agostinho
Sermão 43
“Cristo escolheu para ser apóstolos a
alguns pescadores”
Estando o
bem-aventurado Pedro com outros dois discípulos de Cristo Senhor, Tiago e João,
na montanha com o próprio Senhor, ouviu uma voz vinda do céu: Este é o meu Filho amado, meu predileto,
escutai-o. Recordando este episódio, o mencionado apóstolo escreve em sua
carta: Esta voz trazida do céu nós a
ouvimos estando com ele na montanha sagrada. E em seguida continua dizendo:
Isto nos assevera a palavra dos profetas.
Se ouviu aquela voz do céu, se garantiu a palavra dos profetas.
Este Pedro, que
assim fala, foi pescador: e na atualidade é um inestimável sinal de glória para
um orador ser capaz de compreender ao pescador. Esta é a razão pela qual o
apóstolo Paulo, falando dos primeiros cristãos, lhes dizia: Atenham-vos, irmãos, em vossa assembleia:
não há nela muitos sábios, segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos
aristocratas; pelo contrário: Deus escolheu o néscio do mundo para humilhar aos
sábios; Deus escolheu o fraco do mundo para humilhar ao forte. Ainda mais: tem
escolhido o vil e desprezível, aquilo que não conta, para anular ao que conta.
Se para dar
início à sua obra Cristo tivesse escolhido um orador, o orador teria dito: Fui
escolhido em consideração à minha eloquência”. Se tivesse escolhido um senador,
o senador teria dito: “Fui escolhida em atenção à minha dignidade”. Finalmente,
se tivesse primeiramente escolhido a um imperador, o imperador teria dito: “Fui
escolhido em consideração ao meu poder”. Que esses tais descansem e aguardem
ainda um pouco. Descansem um pouco: não se prescinda deles nem sejam
desprezados; sejam somente diferidos aqueles que pode gloriar-se de si mesmos e
em si mesmos.
Dá-me, diz, esse
pescador, dá-me esse ignorante e o analfabeto, dá-me a esse com quem o senador
não se digna falar, nem sequer quando lhe compra um peixe: dá-me a esse. E
quando lhe tenha cumulado de meus dons, ficará manifesto que sou eu quem atuo.
Ainda que seja verdade que me proponho a fazer o mesmo com o senador, o orador
e o imperador: quando chegar o momento o farei com o senador, mas com um
pescador a minha ação é mais evidente. O senador pode gloriar-se de si mesmo, o
orador também e o imperador: porém o pescador somente pode gloriar-se em
Cristo. Que venha, que venha primeiro o pescador a ensinar a humildade que
salva; através dele o imperador será mais facilmente conduzido a Cristo.
Lembrai-vos,
portanto, do pescador santo, justo, bom, pleno de Cristo, com cujas redes,
lançadas por todo o mundo, havia de ser pescado, junto com os outros, este povo
africano (*); lembrai-vos, portanto, que ele tinha dito: Isto nos assevera a palavra dos profetas.
(*) Agostinho profere esta homilia em Hipona, norte da África, onde era Bispo.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 631-633. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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