sábado, 13 de fevereiro de 2016

Homilia: I Domingo da Quaresma - Ano C

São João Crisóstomo
Sermão 13 sobre São Mateus
“Jesus jejuou não porque ele o necessitasse, mas para instruir-nos”

Então Jesus foi levado ao deserto pelo Espírito para ser tentado pelo diabo. Então, quando? Depois de ter descido o Espírito Santo; depois daquela voz vinda dos céus que dizia: Este é meu Filho muito amado em quem tenho minhas complacências. E o que é mais incrível: foi levado pelo Espírito Santo, porque foi o próprio Espírito quem o levou ao deserto. Cristo vinha para ensinar-nos, e para isto fazia e padecia tudo. Por isso quis ser levado ao deserto e entrar nessa batalha com o demônio, para que cada um dos batizados, se após o Batismo padece maiores tentações, não se perturbe como se experimentasse o inesperado, mas permaneça firme no padecer, pois tudo lhe acontece conforme a reta ordem das coisas. Para isto tomas-te as armas; não para ficar ocioso, mas para combater.
Deus não impede que as tentações sejam lançadas sobre nós, em primeiro lugar para que vejas que te fez muito mais forte. Além do mais, para que não te estimes excessivamente, e não te ensoberbeças pela grandeza do dom que te foi conferido, visto que as tentações te mantêm em humildade. Também para que o demônio maligno, duvidando se é verdade que renunciaste a ele, pela experiência das tentações se confirme que de tudo lhe apartaste. Em quarto lugar, para que assim te forjes mais duro e mais forte que o ferro. Em quinto lugar, para que com isso tenhas a demonstração do grande tesouro que te foi confiado. O demônio não te atacaria se não te visse colocado nas mais altas honras.
Tal foi o motivo pelo qual nas origens se levantou contra Adão, pois o via desfrutando de alta dignidade. Pela mesma razão se levantou contra Jó, ao vê-lo recompensado e louvado pelo Deus de todos. Por que Jesus disse: Orai para que não caias em tentação? Por isso não nos é apresentado a Jesus indo espontaneamente para a tentação, mas levado de acordo com uma razoável providência, dando-nos a entender que não devemos expor-nos, mas se somos levados à tentação, resistamos a ela com fortaleza.
Considera aonde o Espírito Santo o levou: não para a cidade, nem para a praça, mas ao deserto. Como o demônio queria bajulá-lo e atraí-lo, o Espírito Santo lhe apresenta a ocasião, não somente pelo aspecto da fome, mas também pelo próprio lugar. O demônio nos ataca especialmente quando nos vê sozinhos e quando andamos afastados dos outros. Assim atacou a mulher nas origens, aproximando-se dela quando estava só, sem seu marido. Quando ele vê a vários reunidos, não se atreve a atacar. Por isto convém que com frequência nos congreguemos, para que não sejamos presa fácil do diabo.
O demônio encontrou, pois, a Jesus no deserto, e em uma região inóspita e sem trilhas. Que assim eram aquelas paragens, o refere Marcos dizendo: E morava entre as feras. Porém adverte com quanta astúcia e perversidade se aproxima dele, e que ocasião escolhe. Não ataca Jesus enquanto está jejuando, mas quando teve fome, para que aprendas que grande bem é o jejum, e que arma tão poderosa contra o demônio; e que depois do Batismo não te entregues aos prazeres, nem à embriaguez, nem às iguarias, mas ao jejum. Por isso Jesus jejuou, não porque ele o necessitasse, mas para instruir-nos.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 562-563. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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