quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Angelus do Papa no IV Domingo do Tempo Comum

Papa Francisco

Angelus
Praça São Pedro
Domingo, 31 de Janeiro de 2016

Bom dia, queridos irmãos e irmãs!
A narração evangélica de hoje leva-nos mais uma vez, como no domingo passado, à sinagoga de Nazaré, o povoado da Galileia onde Jesus cresceu em família e é conhecido por todos. Ele, que tinha partido há pouco tempo para dar início à sua vida pública, agora retorna pela primeira vez e apresenta-se à comunidade congregada na sinagoga no dia de sábado. Lê a passagem do profeta Isaías, que fala do Messias futuro e no final declara: «Hoje cumpriu-se este oráculo que vós acabastes de ouvir» (Lc 4, 21). Os concidadãos de Jesus, primeiro surpreendidos e admirados, depois começam a fazer caretas, a murmurar entre si e a dizer: por que motivo Ele, que tenciona ser o Consagrado do Senhor, não repete aqui na sua aldeia os prodígios que se afirma ter realizado em Cafarnaum e nos povoados dos arredores? Então, Jesus diz: «Nenhum profeta é bem aceite na sua pátria» (v. 24), apelando-se aos grandes profetas do passado, Elias e Eliseu, que realizam milagres em benefício dos pagãos, para denunciar a incredulidade do seu povo. Nesta altura, os presentes sentem-se ofendidos, levantam-se cheios de indignação, expulsam Jesus e gostariam de o lançar do alto do pináculo. Mas Ele, com a força da sua paz, «passou pelo meio deles e retirou-se» (v. 30). A sua hora ainda não chegou.
Este trecho do evangelista Lucas não é simplesmente a narração de um desacordo entre concidadãos, como às vezes acontece inclusive nos nossos bairros, suscitado por invejas e por ciúmes, mas põe em evidência uma tentação à qual o homem religioso está sempre exposto - todos nós estamos expostos - e da qual é necessário distanciar-se com decisão. E qual é esta tentação? É a tentação de considerar a religião como um investimento humano e, por conseguinte, pôr-se a «negociar» com Deus, procurando o próprio interesse. Ao contrário, na religião autêntica, trata-se de aceitar a revelação de um Deus que é Pai e que cuida de todas as suas criaturas, até da mais pequenina e insignificante aos olhos dos homens. Precisamente nisto consiste o ministério profético de Jesus: no anúncio de que nenhuma condição humana pode ser motivo de exclusão - nenhuma condição humana pode ser motivo de exclusão! - do Coração do Pai, e que o único privilégio aos olhos de Deus consiste em não ter privilégios. O único privilégio aos olhos de Deus consiste em não ter privilégios, em não ter padrinhos, em abandonar-se nas suas mãos.
«Hoje cumpriu-se este oráculo que vós acabastes de ouvir» (Lc 4, 21). O «hoje» proclamado por Cristo naquele dia vale para todas as épocas; e ressoa também para nós nesta praça, recordando-nos da actualidade e da necessidade da salvação que Jesus trouxe à humanidade. Deus vem ao encontro dos homens e das mulheres de todos os tempos e lugares na situação concreta em que se encontram. Vem também ao nosso encontro. É sempre Ele que dá o primeiro passo: vem visitar-nos com a sua misericórdia e tirar-nos da poeira dos nossos pecados; vem estender-nos a mão para nos fazer sair do abismo em que o nosso orgulho nos fez cair, convidando-nos a aceitar a verdade consoladora do Evangelho e a caminhar pelas veredas do bem. Ele vem sempre visitar-nos, procurar-nos.
Voltemos à sinagoga. Certamente naquele dia, na sinagoga de Nazaré estava presente também Maria, a Mãe. Podemos imaginar as ressonâncias do seu Coração, uma pequena antecipação daquilo que Ele viria a padecer aos pés da Cruz, vendo Jesus ali na sinagoga, primeiro admirado e depois desafiado, insultado e ameaçado de morte. No seu Coração, cheio de fé, Ela conservava tudo isto. Que Ela nos ajude a converter-nos de um deus dos milagres para o milagre de Deus, que é Jesus Cristo.


Fonte: Santa Sé

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