Santa Missa na Abertura do Sínodo Extraordinário sobre a Família
Homilia do Papa Francisco
Basílica
Vaticana
XXVII Domingo do Tempo Comum (Ano A), 05 de outubro de 2014
Nas leituras de hoje é usada a imagem da vinha do Senhor
tanto pelo profeta Isaías como pelo Evangelho (Is 5,1-7; Mt 21,33-43). A vinha do Senhor é o seu
«sonho», o projeto que Ele cultiva com todo o seu amor, como um agricultor
cuida do seu vinhedo. A videira é uma planta que requer muitos cuidados!
O «sonho» de Deus é o seu povo: Ele plantou-o e cultiva-o,
com amor paciente e fiel, para se tornar um povo santo, um povo que produza
muitos e bons frutos de justiça.
Mas, tanto na antiga profecia como na parábola de Jesus, o
sonho de Deus fica frustrado. Isaías diz que a vinha, tão amada e cuidada,
«produziu agraços» (Is 5,2.4), enquanto Deus «esperava a justiça, e eis que só há
injustiça; esperava a retidão, e eis que só há lamentações» (v. 7). Por sua
vez, no Evangelho, são os agricultores que arruínam o projeto do Senhor: não
trabalham para o Senhor, só pensam nos seus interesses.
Através da sua parábola, Jesus dirige-se aos sumos sacerdotes
e aos anciãos do povo, isto é, aos «sábios», à classe dirigente. Foi a eles, de
modo particular, que Deus confiou o seu «sonho», isto é, o seu povo, para que o
cultivem, cuidem dele e o guardem dos animais selvagens. Esta é a tarefa dos
líderes do povo: cultivar a vinha com liberdade, criatividade e diligência.
Mas Jesus diz que aqueles agricultores se apoderaram da
vinha; pela sua ganância e soberba, querem fazer dela aquilo que lhes apetece
e, assim, tiram a Deus a possibilidade de realizar o seu sonho a respeito do
povo que Ele escolheu.
A tentação da ganância está sempre presente. Encontramo-la
também na grande profecia de Ezequiel sobre os pastores (cf. Ez 34),
comentada por Santo Agostinho em um famoso Discurso que lemos, ainda nestes dias,
na Liturgia das Horas. Ganância de dinheiro e de poder. E, para saciar esta
ganância, os maus pastores carregam sobre os ombros do povo pesos
insuportáveis, que eles próprios não põem nem um dedo para os deslocar (cf. Mt 23,4).
Também nós somos chamados a trabalhar para a vinha do
Senhor, no Sínodo dos Bispos. As assembleias sinodais não servem para discutir
ideias bonitas e originais, nem para ver quem é mais inteligente… Servem para
cultivar e guardar melhor a vinha do Senhor, para cooperar no seu sonho, no seu
projeto de amor a respeito do seu povo. Neste caso, o Senhor pede-nos para
cuidarmos da família, que, desde os primórdios, é parte integrante do desígnio
de amor que ele tem para a humanidade.
Nós somos todos pecadores e também nos pode vir a tentação
de «nos apoderarmos» da vinha, por causa da ganância que nunca falta em nós,
seres humanos. O sonho de Deus sempre se embate com a hipocrisia de alguns dos
seus servidores. Podemos «frustrar» o sonho de Deus, se não nos deixarmos guiar
pelo Espírito Santo. O Espírito dá-nos a sabedoria, que supera a ciência, para
trabalharmos generosamente com verdadeira liberdade e humilde criatividade.
Irmãos sinodais, para cultivar e guardar bem a vinha, é
preciso que os nossos corações e as nossas mentes sejam guardados em Cristo
Jesus pela «paz de Deus que ultrapassa toda a inteligência» (Fl 4,7). Assim, os nossos pensamentos e os nossos projetos
estarão de acordo com o sonho de Deus: formar para Si um povo santo que Lhe
pertença e produza os frutos do Reino de Deus (cf. Mt 21,43).
Fonte: Santa Sé.
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