Santa Missa de Encerramento do Sínodo Extraordinário sobre a Família
Beatificação do Papa Paulo VI
Homilia do Papa Francisco
Praça de São Pedro
XXIX Domingo do Tempo Comum (Ano A), 19 de outubro de 2014
Acabamos de
ouvir uma das frases mais célebres de todo o Evangelho: «Dai, pois, a César o
que é de César e a Deus o que é de Deus» (Mt 22,21).
À provocação dos
fariseus, que queriam, por assim dizer, fazer-Lhe o exame de religião e
induzi-Lo em erro, Jesus responde com esta frase irónica e genial. É uma
resposta útil que o Senhor dá a todos aqueles que sentem problemas de
consciência, sobretudo quando estão em jogo as suas conveniências, as suas
riquezas, o seu prestígio, o seu poder e a sua fama. E isto acontece em todos
os tempos e desde sempre.
A acentuação de
Jesus recai certamente sobre a segunda parte da frase: «E [dai] a Deus o que é
de Deus». Isto significa reconhecer e professar - diante de qualquer tipo de
poder - que só Deus é o Senhor do homem, e não há outro. Esta é a novidade
perene que é preciso redescobrir cada dia, vencendo o temor que muitas vezes
sentimos perante as surpresas de Deus.
Ele não tem medo
das novidades! Por isso nos surpreende continuamente, abrindo-nos e levando-nos
para caminhos inesperados. Ele renova-nos, isto é, faz-nos «novos» continuamente.
Um cristão que vive o Evangelho é «a novidade de Deus» na Igreja e no mundo. E
Deus ama tanto esta «novidade»!
«Dar a Deus o
que é de Deus» significa abrir-se à sua vontade e dedicar-Lhe a nossa vida,
cooperando para o seu Reino de misericórdia, amor e paz.
Aqui está a
nossa verdadeira força, o fermento que faz levedar e o sal que dá sabor a todo
o esforço humano contra o pessimismo predominante que o mundo nos propõe. Aqui
está a nossa esperança, porque a esperança em Deus não é uma fuga da realidade,
não é um álibi: é restituir diligentemente a Deus aquilo que Lhe pertence. É
por isso que o cristão fixa o olhar na realidade futura, a realidade de Deus,
para viver plenamente a existência - com os pés bem firmes na terra - e
responder, com coragem, aos inúmeros desafios novos.
Vimo-lo, nestes
dias, durante o Sínodo Extraordinário dos Bispos: «sínodo» significa «caminhar
juntos». E, na realidade, pastores e leigos de todo o mundo trouxeram aqui a
Roma a voz das suas Igrejas particulares para ajudar as famílias de hoje a
caminharem pela estrada do Evangelho, com o olhar fixo em Jesus. Foi uma grande
experiência, na qual vivemos a sinodalidade e a colegialidade e sentimos a força do Espírito Santo
que sempre guia e renova a Igreja, chamada sem demora a cuidar das feridas que
sangram e a reacender a esperança para tantas pessoas sem esperança.
Pelo dom deste
Sínodo e pelo espírito construtivo concedido a todos, com o Apóstolo Paulo «damos continuamente graças a Deus por todos vós, recordando-vos sem cessar nas
nossas orações» (1Ts 1,2). E o Espírito Santo, que nos concedeu, nestes dias laboriosos, trabalhar
generosamente com verdadeira liberdade e humilde criatividade, continue a
acompanhar o caminho que nos prepara, nas Igrejas de toda a terra, para o
Sínodo Ordinário dos Bispos no próximo Outubro de 2015. Semeámos e
continuaremos a semear, com paciência e perseverança, na certeza de que é o
Senhor que faz crescer tudo o que semeámos (cf. 1Cor 3,6).
Neste dia da
Beatificação do Papa Paulo VI, voltam-me à mente estas palavras com que ele
instituiu o Sínodo dos Bispos: «Ao perscrutar atentamente os sinais dos tempos,
procuramos adaptar os métodos (...) às múltiplas necessidades dos nossos dias e
às novas características da sociedade» (Carta Apostólica em forma de Motu proprio Apostolica sollicitudo).
A respeito deste
grande Papa, deste cristão corajoso, deste apóstolo incansável, diante de Deus
hoje só podemos dizer uma palavra tão simples como sincera e importante:
Obrigado! Obrigado, nosso querido e amado Papa Paulo VI! Obrigado pelo teu
humilde e profético testemunho de amor a Cristo e à sua Igreja!
No seu diário
pessoal, depois do encerramento da Assembleia Conciliar, o grande timoneiro do
Concílio deixou anotado: «Talvez o Senhor me tenha chamado e me mantenha neste
serviço não tanto por qualquer aptidão que eu possua ou para que eu governe e
salve a Igreja das suas dificuldades actuais, mas para que eu sofra algo pela
Igreja e fique claro que Ele, e mais ninguém, a guia e salva» (P. Macchi, Paolo VI nella sua parola,
Brescia, 2001, pp. 120-121). Nesta humildade, resplandece a grandeza do Beato
Paulo VI, que soube, quando se perfilava uma sociedade secularizada e hostil,
reger com clarividente sabedoria - e às vezes em solidão - o timão da barca de
Pedro, sem nunca perder a alegria e a confiança no Senhor.
Verdadeiramente
Paulo VI soube «dar a Deus o que é de Deus», dedicando toda a sua vida a este
«dever sacro, solene e gravíssimo: continuar no tempo e dilatar sobre a terra a
missão de Cristo» (Homilia no Rito da sua Coroação, Insegnamenti, I, 1963, 26),
amando a Igreja e guiando-a para ser «ao mesmo tempo mãe amorosa de todos os
homens e medianeira de salvação» (Encílica Ecclesiam
suam, Prólogo).
Fonte: Santa Sé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário