quinta-feira, 22 de junho de 2023

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio: Jesus Cristo 2

A segunda Catequese do Papa São João Paulo II sobre Jesus Cristo esteve centrada no simbolismo do “nome” de Jesus.

Para acessar a postagem que serve de introdução a essa série de Catequeses, clique aqui.

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio
CREIO EM JESUS CRISTO

2. Jesus, Filho de Deus e Salvador
João Paulo II - 14 de janeiro de 1987

1. Com a Catequese da semana passada, seguindo os mais antigos Símbolos da fé cristã, iniciamos um novo ciclo de reflexões sobre Jesus Cristo. O Símbolo Apostólico proclama: “Creio... em Jesus Cristo, seu único Filho (de Deus)”. O Símbolo Niceno-Constantinopolitano, depois de definir com precisão ainda maior a origem divina de Jesus Cristo como Filho de Deus, prossegue declarando que este Filho de Deus “por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus: e se encarnou...”. Como vemos, o núcleo central da fé cristã é constituído pela dupla verdade de que Jesus Cristo é Filho de Deus e Filho do homem (a verdade cristológica) e é a realização da salvação do homem, que Deus Pai cumpriu n’Ele, seu Filho e Salvador do mundo (a verdade soteriológica).

Santo Nome de Jesus (Catedral de Ely, Inglaterra)

2. Se nas Catequeses anteriores tratamos do mal, e em particular do pecado (Catequeses sobre Deus Pai, nn. 48-59), o fizemos também para preparar o presente ciclo sobre Jesus Cristo Salvador. Salvação significa, com efeito, libertação do mal, em particular do pecado. A Revelação contida na Sagrada Escritura, começando pelo protoevangelho (Gn 3,15), nos abre à verdade de que só Deus pode libertar o homem do pecado e de todo o mal presente na existência humana. Deus, enquanto revela a Si mesmo como Criador do mundo e seu providente Ordenador, revela-se ao mesmo tempo como Salvador: como Aquele que liberta do mal, em particular do pecado causado pela livre vontade da criatura. É este o ápice do projeto criador realizado pela Providência de Deus, no qual mundo (cosmologia), homem (antropologia) e Deus Salvador (soteriologia) estão estreitamente ligados.

Como recorda o Concílio Vaticano II, os cristãos creem que o mundo é “criado e conservado pelo amor do Criador, certamente posto sob a escravidão do pecado, mas que Cristo, Crucificado e Ressuscitado, libertou...” (Gaudium et spes, n. 2).

3. O nome “Jesus”, considerado em seu significado etimológico, quere dizer “Yahweh liberta”, salva, ajuda. Antes da escravidão da Babilônia era expresso na forma “Yehosua”: nome teofórico que contém a raiz do santíssimo nome de Yahweh. Depois da escravidão babilônica tomou a forma abreviada “Yeshua”, que na tradução dos Setenta foi transcrito como “Iesous” [Ἰησοῦς], donde deriva “Jesus”.

O nome era bastante difundido, tanto no tempo da antiga como da nova aliança. É, com efeito, o nome que portava Josué, que depois da morte de Moisés introduziu os israelitas na terra prometida: “Ele que, fazendo jus ao nome, mostrou-se grande para salvar os eleitos de Deus... e dar a Israel a posses da sua herança” (Eclo 46,1-2). Jesus, filho de Sirac, foi o compilador do Livro do Eclesiástico (Eclo 50,27). Na genealogia do Salvador relatada no Evangelho segundo Lucas encontramos enumerado “Er, filho de Jesus” (Lc 3,28-29). Entre os colaboradores de São Paulo está presente também certo Jesus, “chamado Justo” (Cl 4,11).

4. O nome Jesus”, todavia, nunca teve aquela plenitude de significado que assumiria no caso de Jesus de Nazaré e que seria revelado pelo anjo a Maria (Lc 1,31ss) e a José (Mt 1,21). No início do ministério público de Jesus, as pessoas entendiam seu nome no sentido comum de então.

“Encontramos Jesus, o filho de José, de Nazaré, Aquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, e os Profetas”. Assim diz um dos primeiros discípulos, Filipe, a Natanael, o qual rebate: “De Nazaré pode sair algo de bom?” (Jo 1,45-46). Esta pergunta indica que Nazaré não era muito estimada pelos filhos de Israel. Não obstante, Jesus foi chamado “Nazareno” (Mt 2,23), ou então “Jesus, de Nazaré da Galileia” (Mt 21,11), expressão que Pilatos utilizou na inscrição que fez colocar na cruz: “Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus” (Jo 19,19).

5. As pessoas chamavam Jesus “o Nazareno” pelo nome do lugar onde residiu com a sua família até a idade de trinta anos (Lc 3,23). No entanto, sabemos que o lugar do nascimento de Jesus não foi Nazaré, mas Belém, localidade da Judeia, ao sul de Jerusalém: o atestam os evangelistas Lucas e Mateus. O primeiro, em particular, faz notar que, por causa do censo ordenado pelas autoridades romanas, “José - que era da casa e da linhagem de Davi - subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de Davi, chamada Belén, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Quando estavam ali, completaram-se os dias de ela dar à luz parto” (Lc 2,4-6).

Como sucede com outros lugares bíblicos, também Belém assume um valor profético. Referindo-se ao profeta Miqueias, Mateus recorda que esta pequena cidade foi designada como lugar do nascimento do Messias: “E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que será o pastor do meu povo, Israel” (Mt 2,6). E o profeta acrescenta: “Suas origens são desde tempos antigos, desde dias longínquos” (Mq 5,1).

A este texto se referem os sacerdotes e os escribas que Herodes havia consultado para responder aos Magos que, vindos de Oriente, perguntavam onde era o lugar do nascimento do Messias.
O texto do Evangelho de Mateus - “Depois de Jesus ter nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes...” (Mt 2,1) - faz referência à profecia de Miqueias, à qual se refere também a pergunta reportada pelo Quarto Evangelho: “Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi, e de Belém, o povoado de Davi?” (Jo 7,42).

6. Destes detalhes se deduz que Jesus é o nome de uma pessoa histórica, que viveu na Palestina. Se é justo reconhecer a credibilidade histórica de figuras como Moisés e Josué, com maior razão deveria ser acolhida a existência histórica de Jesus. Os Evangelhos não nos referem em detalhes a sua vida porque não têm uma finalidade primariamente historiográfica. No entanto, são precisamente os Evangelhos que, lidos com uma crítica honesta, levam-nos a concluir que Jesus de Nazaré é uma pessoa histórica que viveu em um espaço e um tempo determinados. Mesmo de um ponto de vista puramente científico deve suscitar admiração não o que afirma, mas o que nega a existência de Jesus, como fizeram as teorias mitológicas do passado e como ainda hoje faz algum estudioso.

No que se refere à data precisa do nascimento de Jesus, as opiniões dos especialistas não são concordes. Admite-se comumente que o monge Dionísio, o Exíguo, quando em 533 propôs calcular os anos não desde a fundação de Roma, mas desde o nascimento de Jesus Cristo, cometeu um erro. Até recentemente considerava-se que se tratava de um erro de aproximadamente quatro anos, mas a questão está longe de ser resolvida.

7. Na tradição do povo de Israel o nome “Jesus” conservou seu valor etimológico: “Deus liberta”. Por tradição eram sempre os pais que impunham o nome a seus filhos. No caso de Jesus, filho de Maria, porém, o nome foi escolhido e assignado do alto já antes do nascimento, segundo a indicação do anjo a Maria, na anunciação (Lc 1,31), e a José em sonho (Mt 1,21). “Deram-lhe o nome de Jesus - destaca o evangelista Lucas -, como fora chamado pelo anjo antes de ser concebido no ventre de sua Mãe” (Lc 2,21).

8. No plano disposto pela Providência de Deus, Jesus de Nazaré leva um nome que alude à salvação: “Deus liberta”, porque Ele é, na realidade, aquilo que o nome indica, isto é, o Salvador. Testemunham-no algumas frases presentes nos chamados Evangelhos da infância, escritos por Lucas - “nasceu para vós o Salvador” (Lc 2,11) - e por Mateus: “Ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1,21). São expressões que refletem a verdade revelada e proclamada por todo o Novo Testamento. Escreve, por exemplo, o Apóstolo Paulo na Carta aos Filipenses: Deus o exaltou e lhe deu o Nome que está acima de todo nome, para que, ao Nome de Jesus, todo joelho se dobre (...) e toda língua confesse: ‘Jesus Cristo é o Senhor’ (Kyrios, Adonai), para a glória de Deus Pai” (Fl 2,9-11).

A razão da exaltação de Jesus a encontramos no testemunho que deram d’Ele os Apóstolos, os quais proclamaram com coragem: “Em nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome dado à humanidade pelo qual possamos ser salvos” (At 4,12).

Glória do nome de Jesus (abreviado como IHS)
(Chiesa del Gesù, Roma)

Tradução nossa a partir do texto italiano divulgado no site da Santa Sé (14 de janeiro de 1987). 

Confira também nossa postagem sobre a história da devoção ao Santíssimo Nome de Jesus.

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