Recentemente a Rádio Vaticano publicou em seu quadro
“Memória Histórica” três textos sobre a Sagrada Liturgia, destacando a
centralidade do Mistério Pascal:
1. O verdadeiro
sentido da Liturgia
(14/06/2017)
A constituição Sacrosanctum
Concilium - promulgada pelo Papa Paulo VI no dia 4 de dezembro de 1963, no
final da segunda sessão conciliar - centra-se em torno da Liturgia, que é
analisada pelos Padres conciliares sob "uma tríplice dimensão teológica,
eclesial e pastoral: a liturgia é obra da redenção em ato, celebração
hierárquica e ao mesmo tempo comunitária, expressão de culto universal, que
envolve toda a criação".
Os padres conciliares descrevem ainda a Liturgia como
"a primeira e necessária fonte onde os fiéis hão de beber o espírito
genuinamente cristão".
A mesma Constituição, afirma que Jesus instituiu o
sacrifício da Santa Missa, a fim de perpetuar nos séculos, até a sua volta, o
sacrifício da cruz, como nos explica o Padre Gerson Schmidt, incardinado na
Arquidiocese de Porto Alegre:
“A constituição dogmática Sacrosanctum Concilium – no número 47 - afirma que Jesus instituiu
o sacrifício da Santa Missa, a fim de perpetuar nos séculos, até a sua volta, o
sacrifício da cruz[1]. Por isso, o “sacrifício dos cristãos não pretende
completar o sacrifício da cruz, porém, torná-lo presente, atualizá-lo,
desenvolver no hic et nunc (aqui e agora) a sua dimensão interna” [2]. No
número 06 desse precioso documento Sacrosanctum
Concilium – a constituição dogmática pilar de toda a valorização e
renovação litúrgica - está um título
significativo: “A obra da salvação continuada pela Igreja realiza-se na
liturgia”.
Começa dizendo assim esse número 06 da Sacrosanctum Concilium: “Portanto, como Cristo foi enviado pelo Pai,
assim também ele enviou os apóstolos, cheios do Espírito Santo, não só porque,
pregando o Evangelho a todos os homens anunciassem que o Filho de Deus com a
sua morte e ressurreição nos livrou do poder de satanás e da morte e nos
transferiu para o reino do Pai, mas também para que levassem a efeito, por meio
do sacrifício e dos sacramentos, sobre os quais gira toda a vida litúrgica, a
obra de salvação que anunciavam”.
Aqui já vemos que essa obra da salvação é continuada na
liturgia da Igreja. A Igreja perpetua a salvação de Cristo na sua ação
sacramental e também querigmática. Na liturgia, de maneira especial, se
perpetua e se atualiza a redenção de Cristo, a sua Páscoa pela humanidade. E
continua o documento da renovação litúrgica nesses termos: “Assim pelo batismo
os homens são inseridos no mistério pascal de Cristo: com ele mortos,
sepultados, e ressuscitados; recebem o espírito de adoção de filhos, “no qual
clamam: Abba, Pai” (Rm 8,15), e se tornam assim verdadeiros adoradores que o
Pai procura. Do mesmo modo, toda vez que come a ceia do Senhor, anunciam a sua
morte até que venha. Por esse motivo, no próprio dia de Pentecostes, no qual a
Igreja se manifestou ao mundo, “os que receberam a palavra” de Pedro “foram
batizados”. E “perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comum fração do pão
e na oração… louvando a Deus e sendo bem vistos por todo o povo” (At 2,41-47).
Desde então, a Igreja jamais deixou de reunir-se para celebrar o mistério
pascal: lendo “tudo quanto nas Escrituras a ele se referia” – palavras de Jesus
aos discípulos de Emaús – em Lc 24,27, celebrando a eucaristia na qual “se
representa a vitória e o triunfo de sua morte” e, ao mesmo tempo, dando graças
“a Deus pelo seu dom inefável” (2Cor 9,15) em Cristo Jesus, “para louvor de sua
glória” (Ef 1,12) por virtude do Espírito Santo” (Sacrosanctum Concilium, 06).
A liturgia, portanto, é a celebração por excelência do
Mistério Pascal de Cristo agora realizado em nossas vidas, em nossa história
concreta, na atualidade da vida concreta dos que ali celebram a salvação.
Portanto, se pudéssemos resumir numa só palavrinha o que vem a ser a
Eucaristia, não seria “sacrifício”, como pretenderia aqueles padres altareiros
do século XII. Não será a palavra “adoração e louvor” como poderiam pretender
os carismáticos. Não seria “unidade e comunhão” como poderiam sugerir os
focolarinos. Não seria “rito de expiação” como poderiam pretender a ordem dos
padres penitentes e confessores. Que nenhum desses grupos se sintam aqui
atingidos, pois todas essas realidades também fazem parte da liturgia. Mas a
palavra que melhor define a Eucaristia é Mistério
Pascal, como é a definição conciliar, mistério este recordado, renovado e
atualizado em cada banquete eucarístico que é celebrado em qualquer canto de
nosso planeta”.
[1] SC, 47.
[2] BETZ, J. Em Mysterium
Salutis, 8. In: Dicionário de Liturgia, Organizado por Dominico Sartore e
Achille M. Triacca, Paulus, SP, 1992, p. 1078.
2. Atualização do
Mistério Pascal em cada Liturgia - Parte I
(21/06/2017)
No programa passado, vimos como a liturgia é a celebração
por excelência do Mistério Pascal de Cristo agora realizado em nossas vidas, em
nossa história concreta, na atualidade da vida concreta dos que ali celebram a
salvação.
De fato, a Constituição conciliar Sacrosanctum Concilium - promulgada pelo Papa Paulo VI em 4 de
dezembro de 1963 - afirma que Jesus instituiu o sacrifício da Santa Missa, a
fim de perpetuar nos séculos, até a sua volta, o sacrifício da cruz. Assim, a
obra de salvação continuada pela Igreja realiza-se na liturgia.
No programa de hoje, Padre Gerson Schmidt, que tem nos
acompanhado neste percurso dos documentos conciliares, no traz a primeira parte
da reflexão "Atualização do mistério pascal em cada liturgia":
"Padre Pedro Mosén Farnés, falecido em 24 de março
deste ano, em Barcelona, foi um dos grandes liturgistas e expoentes do Concílio
Vaticano II para trazer a renovação litúrgica, que é proposta na Sacrosanctum Concilium – a constituição
pilar de toda a valorização e renovação dos sacramentos e, no centro disso, a
Pascoa, a vigília Pascal por excelência e a Eucaristia, como Mistério Pascal.
O esplendor da Liturgia centrou-se nesse foco - o Mistério
Pascal. Aqui não se trata de que na liturgia Cristo estivesse simplesmente
presente para me ajudar, mas que nela está a Ressurreição de Cristo, que te
convida a entrar na morte com Ele, para com Ele ressuscitar. Se não entro nesse
dinâmica renovadora da liturgia, os sacramentos serão ritos exteriores e eu
serei um mero expectador, da mesma forma como vou a um cinema assistir um filme
que pode até me envolver emocionalmente, mas serem apenas sou um assistente, um
mero expectador de um fato alheio a minha vida e história.
A Constituição Dogmática Lumen
Gentium, no número 03, diz com clareza essa atualização da liturgia em
nossa história e vida pessoal e comunitária: “todas as vezes que se celebra no
altar o sacrifício da cruz, pela qual Cristo, nossa páscoa, foi imolado,
atualiza-se a obra da nossa redenção” (LG
03).
Três comentários palavras aqui queremos comentar desse texto
da Lumen Gentium. Primeiro: A palavra
sacrifício, para ser referendada à Santa Missa, deve aqui ser bem entendida. Na
religião pagã, a palavra é traduzida por “sacrum
facere”, ou seja, fazer o sagrado. A missa, sabemos não é apenas
sacrifício, mas também banquete, festa, uma celebração que é memorial pascal,
refeição alegre, festiva e atual da Páscoa de Jesus Cristo. Assim, a Eucaristia
seria muito mais um “sacrificium laudis”,
um louvor e uma rica ação de graças pela vitória de Cristo sobre a morte. O
sacrifício da cruz tem razão de ser em vista da Ressurreição, da festiva
passagem (Pessach) da morte para a
vida. O caráter sacrifical da missa,
demasiadamente penitencial, foi acentuado por uma época na Igreja.
Quando é usado o termo na liturgia, usado também pelo Papa
João XXIII, não é em sentido absoluto, mas como um dos aspectos do Mistério de
Cristo, em sua oferta na cruz como sacrifício único e total. São Cipriano
afirma: “e uma vez que, em todos os sacrifícios, nós fazemos a memória da paixão
de Cristo – é de fato a paixão de Cristo que nós oferecemos – nós não podemos
fazer diferente do que Ele fez” (Carta, 63,17). Por isso, a Eucaristia não é um
sacrifício do fiel a Deus, mas de Deus ao fiel. Precisamos tirar a ideia pagã
do sacrifício que aplacaria a ira de Deus, como os antigos holocaustos e
sacrifícios judaicos. O grande sacrifício na eucaristia não somos nós que
fazemos. É claro que oferecemos nosso coração, nossa vida. Mas o único e grande
sacrifício que acontece na liturgia é a que Jesus Cristo fez uma vez por todas,
até a morte, no altar da cruz”.
3. Atualização do
Mistério Pascal na Liturgia - Parte II
(28/06/2017)
Esta quarta-feira damos prosseguimento ao tema iniciado na
edição anterior, ou seja, a renovação litúrgica trazida pela Constituição
conciliar Sacrosanctum Concilium, a
constituição pilar de toda a valorização e renovação dos sacramentos e, no
centro disto, a Páscoa, a vigília pascal por excelência e a Eucaristia, como
Mistério Pascal.
No programa passado, comentamos a primeira das três palavras
retiradas do número 03 da Lumen Gentium
para explicar a atualização do Mistério Pascal na Liturgia: sacrifício. O Padre
Gerson Schmidt enfatizou em sua reflexão o sentido da celebração Eucarística,
que é muito mais um "sacrificium laudis",
um louvor e uma rica ação de graças pela vitória de Cristo sobre a morte.
No programa de hoje, o sacerdote incardinado na Arquidiocese
de Porto Alegre, nos apresenta as outras duas palavras-chaves para
compreendermos a atualização do Mistério Pascal em cada liturgia:
"A Constituição Dogmática Lumen Gentium, no número 03, diz com clareza essa atualização da
liturgia em nossa história e vida pessoal e comunitária: “todas as vezes que se
celebra no altar o sacrifício da cruz, pela qual Cristo, nossa páscoa, foi
imolado, atualiza-se a obra da nossa redenção” (LG 03). Comentamos anteriormente o termo
sacrifício, que deve ser entendido como o grande e único sacrifício de Cristo,
feito uma vez por todas no altar da cruz. Não somos nós que nos sacrificamos. É
Jesus Cristo unicamente que se doa inteiramente por nós. Segundo comentário
desse texto que lemos de Lumen Gentium.
O texto afirma que Cristo é nossa Páscoa. Essa expressão da
LG 03 é belíssima, tirado da primeira carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 5,7-8).
Vamos a fonte pela bíblia de Jerusalém. O texto da Primeira Carta de são Paulo
aos Coríntios diz assim: “Purificai-vos do velho fermento, para que sejais
massa nova, porque sois pães ázimos, porquanto Cristo, nossa Páscoa, foi
imolado. Celebremos, pois, a festa, não com o fermento velho nem com o fermento
da malícia e da corrupção, mas com os pães não fermentados de pureza e de
verdade”.
Nesse texto vemos claro que Cristo não foi imolado para si
mesmo, mas para ser nossa Páscoa. Por isso, num terceiro aspecto a comentar
desse texto da Lumen Gentium, que é o
caráter da atualização do Mistério Pascal em nossas vidas. Cristo se torna a
Páscoa de nossas mortes constantes. Repetimos o texto de LG: “todas as vezes
que se celebra no altar o sacrifício da cruz, pela qual Cristo, nossa páscoa,
foi imolado, atualiza-se a obra da nossa redenção” (LG 03). Atualiza-se o mistério da cruz, imolado
uma vez por todas, agora para nossa salvação e redenção hoje de nossa história.
Na Missa, atualiza-se o mistério agora para nós, que celebramos o Mistério Pascal em nossas vidas, em nossa história, em nossa realidade concreta. O mistério de amor de Cristo assim se perpetua pelos séculos, em todas e em cada celebração eucarística que se realiza no decorrer da história".
Na Missa, atualiza-se o mistério agora para nós, que celebramos o Mistério Pascal em nossas vidas, em nossa história, em nossa realidade concreta. O mistério de amor de Cristo assim se perpetua pelos séculos, em todas e em cada celebração eucarística que se realiza no decorrer da história".
Fonte: Rádio Vaticano
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