São João Crisóstomo
Catequese Batismal 5
Vinde a mim!
Vinde a mim todos vós que estais cansados e
fatigados sob o peso de vossos fardos e Eu vos darei descanso. Tomai sobre vós
o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós
encontrareis descanso para as vossas almas. Vistes maior superabundância de
bondade? Percebes a generosidade do convite: Vinde a mim - diz - todos vós
que estais cansados e fatigados. Amoroso o convite! Inefável a bondade!
Vinde a mim todos: não somente os que
ordenam, mas também os que obedecem; não somente os livres, mas também os
escravos; não somente os homens, mas também as mulheres; não somente os jovens,
mas também os anciãos; não somente os de corpo são, mas também os aleijados e
entrevados: Todos - diz - vinde. Tais são, realmente, os dons do
Senhor: não conhece diferença entre escravo e livre, nem entre rico e pobre,
mas toda esta desigualdade está rejeitada: Vinde - diz - todos vós que estais cansados e fatigados.
Observa a quem
Ele chama: aos que se esgotaram completamente nas iniquidades, aos que estão
oprimidos pelos pecados, aos que nem sequer podem mais levantar a cabeça, aos
que estão mortos de vergonha, aos que mais estão privados de confiança para
falar. E por que os chama? Não para pedir-lhes conta, nem para estabelecer um
tribunal. Então, para quê? Para fazer-lhes descansar de seu cansaço, para
tirar-lhes a sua carga pesada.
E será que
poderia acontecer algo mais pesado do que o pecado? Este, na realidade, por
mais que tantas vezes não o sintamos ou queiramos ocultá-lo da pessoas comuns,
é aquele que desperta contra nós o juiz incorruptível que é a nossa
consciência, e ela, sempre alerta, vai tornando nossa dor contínua, como um
carrasco que dilacera e sufoca a mente, mostrando desta forma a enormidade do
pecado. “Aos que estão, pois, oprimidos pelo pecado - diz - e como que
sobrecarregados por uma carga, a estes aliviarei agraciando-lhes com o perdão de
seus pecados. Unicamente, vinde a mim!” Quem
será tão de pedra, quem tão teimoso que não obedeça a um convite tão bondoso?
Em seguida, para
ensinar-nos também de que modo alivia, acrescenta: Tomai sobre vós o meu jugo. “Entrai, diz, sob o meu jugo. Porém não
vos assusteis ao ouvir ‘jugo’, porque este ‘jugo’ nem roça o pescoço nem faz
abaixar a cabeça; ao contrário, ensina a pensar nas coisas do alto e forma na
verdadeira filosofia”.
Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei:
“Unicamente, entrai sob o jugo e aprendei. Aprendei, ou seja, aplicai ao
ouvido, para poder aprender de mim”. De fato, não vou exigir de vós nada
pesado: vós, meus servos, imitai a mim, vosso amo; vós que sois terra e pó,
imitai a mim, feitor do céu e da terra, vosso Criador. Aprendei de mim porque sou manso e humilde de coração.
Vês a
condescendência do Senhor? Vês sua inconcebível bondade? Não nos exigiu algo
pesado ou odioso. Realmente, Ele não disse: “Aprendei de mim que realizei
prodígios, que ressuscitei mortos, que fiz milagres”. Tudo isso era unicamente
próprio de seu poder. Então, o quê? Aprendei
de mim, porque sou manso e humilde de
coração, e vós encontrareis descanso para as vossas almas. Percebes como
são grandes os benefícios e a utilidade deste jugo?
Portanto, o que
foi considerado digno de entrar sob este jugo e é capaz de aprender do Senhor a
ser manso e humilde de coração, obterá para a sua alma todo o alívio. Este é,
realmente, o ponto capital de nossa salvação: quem é possuidor desta virtude,
mesmo que esteja unido ao corpo, poderá rivalizar com os poderes incorpóreos e
já não ter nada em comum com o presente.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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