sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

IX Catequese do Papa sobre a esperança

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 1° de fevereiro de 2017
A esperança (9): 1Ts 5,4-11

Bom dia, amados irmãos e irmãs!
Nas catequeses passadas demos início ao nosso percurso sobre o tema da esperança, relendo nesta perspectiva algumas páginas do Antigo Testamento. Agora desejamos começar a esclarecer o alcance extraordinário que esta virtude assume no Novo Testamento, quando encontra a novidade representada por Jesus Cristo e pelo evento pascal: a esperança cristã. Nós, cristãos, somos mulheres e homens de esperança.
É quanto sobressai de modo claro desde o primeiro texto que foi escrito, ou seja, a Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses. No trecho que ouvimos, podemos sentir todo o vigor e a beleza do primeiro anúncio cristão. A comunidade de Tessalônica é jovem, recém-fundada; e no entanto, não obstante as dificuldades e as numerosas provações, está radicada na fé e celebra com entusiasmo e com alegria a ressurreição do Senhor Jesus. Então, o Apóstolo alegra-se de coração com todos, dado que quantos renascem na Páscoa se tornam verdadeiramente «filhos da luz e filhos do dia» (5, 5), em virtude da plena comunhão com Cristo.
Quando Paulo lhe escreve, a comunidade de Tessalônica tinha acabado de ser fundada, e só poucos anos a separam da Páscoa de Cristo. Por isso, o Apóstolo procura explicar todos os efeitos e consequências que este acontecimento singular e decisivo, isto é, a ressurreição do Senhor, comporta para a história e para a vida de cada um. Em particular, a dificuldade da comunidade não consistia tanto em reconhecer a ressurreição de Jesus, todos acreditavam, quanto em crer na ressurreição dos mortos. Sim, Jesus ressuscitou, mas a dificuldade consistia em crer que os mortos ressuscitam. Em tal sentido, esta carta revela-se atual como nunca. Cada vez que nos encontramos diante da nossa morte, ou da de uma pessoa querida, sentimos que a nossa fé é posta à prova. Sobressaem todas as nossas dúvidas, toda a nossa fragilidade, e questionamo-nos: «Mas realmente haverá vida depois da morte...? Ainda poderei ver e reabraçar as pessoas que amei...?». Eis a pergunta que há poucos dias, durante uma audiência, uma senhora me dirigiu manifestando uma dúvida: «Encontrarei os meus?”». Também nós, no contexto atual, temos necessidade de voltar à raiz e aos fundamentos da nossa fé, de maneira a adquirir a consciência sobre aquilo que Deus fez por nós em Jesus Cristo e o que significa a nossa morte. Todos nós temos um pouco de medo desta incerteza da morte. Vem-me à memória um velhinho, um bom idoso que dizia: «Não temo a morte. Tenho um pouco de medo de a ver aproximar-se». Temia isto.
Perante os temores e as perplexidades da comunidade, Paulo convida a manter firme sobre a cabeça, como um elmo, sobretudo nas provações e nos momentos mais difíceis da nossa vida, «a esperança da salvação». É um elmo. Eis o que é a esperança cristã. Quando se fala de esperança, podemos ser levados a entendê-la segundo o significado comum deste termo, ou seja, em referência a algo de bom que desejamos, mas que pode realizar-se ou não. Esperamos que aconteça, é como um desejo. Por exemplo, dizemos: «Espero que amanhã o tempo seja bom!»; mas sabemos que, ao contrário, no dia seguinte o tempo pode ser mau... A esperança cristã não é assim. A esperança cristã é a espera de algo que já se cumpriu; ali está a porta, e espero chegar à porta. Que devo fazer? Caminhar rumo à porta! Tenho a certeza que chegarei à porta. Assim é a esperança cristã: ter a certeza de que estou a caminho de algo que existe, não de algo que eu desejo que exista. Esta é a esperança cristã. A esperança cristã é a expectativa de algo que já se cumpriu e que certamente se há de realizar para cada um de nós. Portanto, também a nossa ressurreição e a dos nossos amados defuntos não é algo que poderá realizar-se ou não, mas constitui uma realidade certa, dado que está radicada no evento da ressurreição de Cristo. Portanto, esperar significa aprender a viver na expectativa. Aprender a viver à espera e encontrar a vida. Quando uma mulher compreende que está grávida, cada dia aprende a viver na expectativa de fitar o olhar daquela criança que há de vir. Assim, também nós devemos viver e aprender destas expectativas humanas e viver à espera de fitar o Senhor, de encontrar o Senhor. Isto não é fácil, mas aprende-se: viver na na expectativa. Esperar significa e implica um coração humilde, um coração pobre. Somente o pobre sabe esperar. Quem já está repleto de si e dos seus pertences, não sabe depositar a própria confiança em nenhum outro, a não ser em si mesmo.
Escreve ainda São Paulo: «[Jesus] morreu por nós, a fim de que nós, quer em estado de vigília, quer de sono, vivamos em união com Ele» (1Ts 5,10). Estas palavras são sempre motivo de grande consolação e de paz. Portanto, somos chamados a rezar também pelas pessoas amadas que nos deixaram, a fim de que elas vivam em Cristo e permaneçam em plena comunhão connosco. Algo que me toca profundamente o coração é uma expressão de São Paulo, ainda dirigida aos Tessalonicenses. Ela enche-me da segurança da esperança. Reza assim: «Assim estaremos para sempre com o Senhor» (1Ts 4,17). Uma coisa boa: tudo passa, mas depois da morte estaremos para sempre com o Senhor. É a certeza total da esperança, a mesma que, muito tempo antes, levava Jó a exclamar: «Sei que o meu redentor está vivo [...] Eu mesmo o contemplarei, vê-lo-ão os meus olhos e não os olhos de outrem» ( 19,25.27). E assim estaremos para sempre com o Senhor. Vós acreditais nisto? Pergunto-vos: credes nisto? Para terdes um pouco de força, convido-vos a dizê-lo três vezes comigo: «Assim estaremos para sempre com o Senhor». Encontrar-nos-emos lá, com o Senhor.


Fonte: Santa Sé

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