São João Crisóstomo
Sermão 18 sobre o Evangelho de São Mateus
Subir
os degraus até atingir o cume da virtude
Ouvistes o que foi dito: amarás a teu
próximo e odiarás o teu inimigo. Porém, eu vos digo: amai aos vossos inimigos e
orai pelos que vos perseguem, para que sejais filhos de vosso Pai que está nos
céus, que faz se levantar o sol sobre bons e maus e faz chover sobre os justos
e injustos.
Observa como
colocou a conclusão de todos os bens. Por isso ensinou a ter paciência com
aqueles que nos esbofeteiam e até mesmo a apresentar-lhes a outra face; e não
apenas juntar o manto à túnica, mas a caminhar por duas milhas mais com quem
nos requisitou para uma, para que em seguida aceitasse com maior facilidade o que
era superior a estes preceitos; ou seja, que quem cumprir tudo isso não tenha
inimigos. Pois bem: existe algo ainda mais perfeito, porque Ele não diz “não
odeies”, mas “ama”. Não disse “não prejudiques”, mas sim “favoreça”. Se alguém
examina cuidadosamente, encontrará um acréscimo muito maior que este. Porque
agora não só manda amá-los, mas a também rogar por eles.
Observas a que
degraus subiu e como nos elevou até o próprio cume da virtude? Quero que o
medites, enumerando-os desde o princípio: o primeiro degrau é não injuriar; o
segundo, quando injuriados, não nos vingarmos; o terceiro, não aplicar sobre o
autor o mesmo castigo com o qual nos fere, mas sim ter mansidão; o quarto,
oferecer-se voluntariamente a sofrer injúrias; o quinto, oferecer ao injuriador
muito mais do que ele nos exige; o sexto, não odiar a quem nos faz semelhante
injustiça; o sétimo, inclusive amá-lo; o oitavo, ainda favorecê-lo. Finalmente,
o nono: rogar a Deus por ele.
Vês o auge da
virtude? Por isto seu reino é magnífico! O preceito era difícil e necessitava
um espírito generoso e muito aplicado, pelo qual assinalou um prêmio tão grande
como não o tinha feito antes com os preceitos anteriores. Aqui Ele não traz à
memória a terra, como ao tratar dos mansos, nem a consolação e a misericórdia,
como ao tratar dos que choram e se compadecem, nem o Reino dos Céus, mas diz - o que é um supremo grau admirável - que serão semelhantes a Deus. Porque diz: para que sejais semelhantes ao vosso Pai que
está nos céus.
Deves observar
como nem aqui nem no anterior chama “seu” ao Pai. Quando tratou dos juramentos
falou de Deus e do grande reino; porém aqui fala do Pai dos ouvintes. Pois bem:
Ele o faz atendendo a oportunidade dos tempos e aguardando para ela tais formas
de falar. Logo avança, declara e explica a semelhança que tinha apenas deixado
indicada, dizendo: o qual faz nascer o
sol sobre bons e maus e chover sobre justos e pecadores. De maneira que não
odeia, mas até faz benefícios àqueles que o injuriam. Ainda que, para dizer a
verdade, não existe nisso igualdade alguma, não só a respeito da grandeza dos
benefícios, mas também na altíssima dignidade.
Tu és desprezado
por um conservo; Ele por um servo a quem cumulou de infinitos benefícios. Tu,
quando oras pelo conservo oferece palavras; mas ele concede coisas muito
maiores e admiráveis; é evidente, a luz do sol e as chuvas anuais. Mas mesmo
assim, parece dizer: concedo-te que sejas igual a Deus, tanto quanto o homem
pode sê-lo.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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