Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 1° de Junho de 2016
Jubileu (21): O fariseu e o
publicano
Bom dia, amados irmãos e irmãs!
Na quarta-feira passada ouvimos a parábola do juiz e da viúva,
sobre a necessidade de rezar com perseverança. Hoje, com outra parábola, Jesus
quer ensinar-nos qual é a atitude certa para rezar e invocar a misericórdia do
Pai; como devemos rezar; a atitude correta para orar. É a parábola do fariseu e
do publicano (cf. Lc 18,9-14).
Ambos os protagonistas vão ao templo para orar, mas agem de modos muitos
diferentes, obtendo êxitos opostos. O fariseu reza «de pé» (v. 11) e usa muitas
palavras. A sua é uma prece de ação de graças a Deus, mas na realidade é uma
manifestação dos próprios méritos, com sentido de superioridade em relação aos «outros
homens», qualificados como «ladrões, injustos, adúlteros», como por exemplo - e
indica aquele outro que estava ali - «o publicano» (v. 11). Mas este é o
problema: o fariseu reza a Deus, mas na verdade olha para si mesmo. Ora por si
mesmo! Em vez de ter diante dos olhos o Senhor, tem um espelho. Não obstante
esteja no templo, não sente a necessidade de se prostrar diante da majestade de
Deus; está de pé, sente-se seguro, como se fosse o dono do templo! E enumera as
boas obras realizadas: é irrepreensível, observa a Lei mais do que lhe é
devido, jejua «duas vezes por semana» e paga o «dízimo» de tudo o que possui.
Em síntese, mais do que rezar, o fariseu deleita-se com a sua observância dos
preceitos. E no entanto, a sua atitude e as suas palavras estão longe do modo
de agir e de falar de Deus, que ama todos os homens, sem desprezar os
pecadores. Ao contrário, o fariseu despreza os pecadores, inclusive quando
indica o outro ali presente. Em suma, o fariseu que se sente justo descuida o
mandamento mais importante: o amor a Deus e ao próximo.
Portanto, não é suficiente perguntar-nos quanto oramos,
mas devemos interrogar-nos também como rezamos, melhor, como
é o nosso coração: é importante examiná-lo para avaliar os
pensamentos, os sentimentos, e extirpar a arrogância e a hipocrisia. Mas eu
pergunto: é possível rezar com arrogância? Não! Com hipocrisia? Não! Só devemos
orar pondo-nos diante de Deus tais como somos. Não como o fariseu, que rezava
com arrogância e hipocrisia. Vivemos todos arrebatados pelo delírio do ritmo
diário, muitas vezes à mercê de sensações, atordoados, confusos. É preciso
aprender a encontrar o caminho do nosso coração, recuperar o valor da
intimidade e do silêncio, pois é ali que Deus nos encontra e nos fala. Só a
partir dali podemos por nossa vez encontrar os outros e falar com eles. O
fariseu vai ao templo, sente-se seguro de si mesmo, mas não se dá conta de ter
perdido o caminho do seu coração.
Ao contrário, o publicano - o outro - vai ao templo com espírito humilde
e arrependido: «Mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos ao
céu, mas batia no peito» (v. 13). A sua prece é muito breve, não longa como a
do fariseu: «Ó Deus, tende piedade de mim, que sou pecador!». Nada mais. Uma
linda oração! Com efeito, os cobradores de impostos - chamados precisamente
«publicanos» - eram considerados pessoas impuras, submetidas aos dominadores
estrangeiros, eram desprezados pelo povo e em geral associados aos «pecadores».
A parábola ensina que a pessoa é justa ou pecadora não pela sua pertença
social, mas pelo seu modo de se relacionar com Deus, pelo seu modo de se
comportar com os irmãos. Os gestos de penitência e as poucas e simples palavras
do publicano atestam a consciência acerca da sua condição miserável. A sua
prece é essencial. Age com humildade, só está seguro de ser um pecador
necessitado de piedade. Se o fariseu nada pedia porque já possuía tudo, o
publicano só pode implorar a misericórdia de Deus. E isto é bonito: suplicar a
misericórdia de Deus! Apresentando-se «de mãos vazias», com o coração despojado
e reconhecendo-se pecador, o publicano mostra a todos nós a condição necessária
para receber o perdão do Senhor. No final é precisamente ele, tão desprezado,
que se torna um ícone do autêntico crente.
Jesus conclui a parábola com uma sentença: «Digo-vos: ele - ou seja, o
publicano - ao contrário do outro, voltou para casa justificado. Pois todo o
que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado» (v. 14). Qual
deles é o corrupto? O fariseu. Ele é precisamente o ícone do corrupto que faz
de conta que reza, mas só consegue pavonear-se diante de um espelho. É um
corrupto e finge que reza. Assim, na vida quem se considera justo e julga o
próximo desprezando-o é um corrupto, um hipócrita. A soberba compromete todas as
boas ações, esvazia a oração, afasta de Deus e do próximo. Se Deus prefere a
humildade não é para nos aviltar: a humildade é sobretudo uma condição
necessária para sermos elevados por Ele, de modo a experimentarmos a
misericórdia que preenche os nossos vazios. Se a prece do soberbo não alcançar
a Coração de Deus, a humildade do miserável abre-o de par em par. Deus tem uma
fragilidade: a debilidade pelos humildes. Diante de um coração humilde, Deus
abre totalmente o seu Coração. É esta humildade que a Virgem Maria exprime no
cântico do Magnificat: «Olhou para a humildade da sua serva
[...] A sua misericórdia estende-se, de geração em geração, sobre os que o
temem» (Lc 1,48.50). Que Ela, nossa Mãe, nos ajude a rezar com um
coração humilde. E nós repitamos três vezes esta linda prece: «Ó Deus, tende
piedade de mim, que sou pecador!».
Fonte: Santa Sé.
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