sexta-feira, 10 de junho de 2016

Catequese do Papa: As bodas de Caná

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 8 de Junho de 2016
Jubileu (22): As bodas de Caná

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Antes de dar início à catequese, gostaria de saudar um grupo de casais que celebram as bodas de ouro. Este sim que é «o vinho bom» da família! O vosso é um testemunho que os recém-casados - que saudarei mais tarde - e os jovens devem aprender. É um bonito testemunho. Obrigado pelo vosso testemunho. Depois de ter comentado algumas parábolas da misericórdia, hoje reflitamos sobre o primeiro dos milagres de Jesus, que o evangelista João chama «sinais», porque Jesus não os realizou para suscitar admiração, mas para revelar o amor do Pai. O primeiro destes sinais prodigiosos é narrado precisamente por João (2,1-11) e realiza-se em Caná da Galileia. Trata-se de uma espécie de «portal de entrada», no qual são esculpidas palavras e expressões que iluminam o inteiro mistério de Cristo e abrem o coração dos discípulos à fé. Vejamos algumas delas.
Na introdução encontramos a expressão «Jesus com os seus discípulos» (v. 2). Aqueles que Jesus tinha chamado para o seguir, uniu-os a si numa comunidade e então, como uma família única, tinham sido convidados para as núpcias. Dando início ao seu ministério público nas bodas de Caná, Jesus manifesta-se como o esposo do povo de Deus, anunciado pelos profetas, e revela-nos a profundidade da relação que nos une a Ele: é uma nova Aliança de amor. Qual é o fundamento da nossa fé? Um ato de misericórdia com o qual Jesus nos uniu a si. E a vida cristã é a resposta a este amor, é como a história de dois namorados. Deus e o homem encontram-se, procuram-se, acham-se, celebram-se e amam-se: exatamente como o amado e a amada no Cântico dos Cânticos. Todo o resto vem como consequência desta relação. A Igreja é a família de Jesus sobre a qual derrama o seu amor; é este amor que a Igreja conserva e deseja doar a todos.
No contexto da Aliança compreende-se também a observação de Nossa Senhora: «Já não têm vinho» (v. 3). Como é possível celebrar as núpcias e festejar se falta o que os profetas indicam como um elemento típico do banquete messiânico (cf. Am 9,13-14; Gl 2,24; Is 25,6)? A água é necessária para viver, mas o vinho exprime a abundância do banquete e a alegria da festa. É uma festa de casamento na qual falta o vinho; os noivos envergonham-se disto. Mas imaginai terminar uma festa de casamento bebendo chá; seria uma vergonha. O vinho é necessário para a festa. Transformando em vinho a água das ânforas utilizadas «para a purificação ritual dos judeus» (v. 6), Jesus realiza um sinal eloquente: transforma a Lei de Moisés em Evangelho, portador de alegria. Como disse o próprio João noutro excerto: «A Lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo» (1,17).
As palavras que Maria dirige aos servos coroam o quadro esponsal de Caná: «Fazei o que ele vos disser» (v. 5). É curioso: são as suas últimas palavras narradas pelos Evangelhos. São a sua herança que entregou a todos nós. Também hoje Nossa Senhora diz a todos nós: «Fazei o que ele - Jesus - vos disser». Eis a herança que nos deixou: é bonito! Trata-se de uma expressão que evoca a fórmula de fé utilizada pelo povo de Israel no Sinai em resposta às promessas da aliança: «Faremos tudo o que o Senhor disser!» (Ex 19,8). E com efeito em Caná os servos obedeceram. «Jesus ordena-lhes: Enchei as ânforas de água. Eles encheram-nas até cima. Tirai agora, disse-lhes Jesus, e levai ao chefe dos serventes. E levaram» (vv. 7-8). Nestas núpcias, foi deveras estabelecida uma Nova Aliança e aos servos do Senhor, isto é a toda a Igreja, foi confiada a nova missão: «Fazei o que ele vos disser!». Servir o Senhor significa ouvir e praticar a sua Palavra. Foi a recomendação simples mas essencial da Mãe de Jesus e é o programa de vida do cristão. Para cada um de nós, beber da ânfora equivale a confiar-nos à Palavra de Deus para sentir a sua eficácia na vida. Então, juntamente com o chefe dos serventes que experimentou a água que se transformou em vinho, que também nós possamos exclamar: «Guardaste o vinho melhor até agora» (v. 10). Sim, o Senhor continua a reservar aquele vinho bom para a nossa salvação, assim como continua a brotar do lado trespassado do Senhor.
A conclusão da narração soa como uma sentença: «Este foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o em Caná da Galileia. Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele» (v. 11). As bodas de Caná representam muito mais do que a simples narração do primeiro milagre de Jesus. Como um relicário, Ele conserva o segredo da sua pessoa e a finalidade da sua vinda: o esperado Esposo dá início às núpcias que se realizam no Mistério pascal. Nestas bodas Jesus une a si os seus discípulos com uma Aliança nova e definitiva. Em Caná os discípulos de Jesus tornam-se a sua família e em Caná nasce a fé da Igreja. Para aquelas bodas todos somos convidados, a fim de que o vinho novo já não venha a faltar!


Fonte: Santa Sé

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