Santo Ambrósio
Carta 26
“Observa
os mistérios de Deus e a clemência de Cristo”
Os doutores da
Lei e os fariseus trouxeram ao Senhor Jesus uma mulher surpreendida em
adultério. E a trouxeram para pôr-lhe à prova: de forma que se a absolvia,
entraria em conflito com a Lei; e se a condenava, teria atraiçoado a economia
da Encarnação, visto que tinha vindo para perdoar os pecados de todos.
Apresentando-a,
disseram-lhe: Surpreendemos a esta mulher
em flagrante adultério. A lei de Moisés nos ordena apedrejar as adúlteras: e
tu, o que dizes?
Enquanto diziam
isso, Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo no chão. E como ficaram
esperando uma resposta, ergueu-se e disse: O
que está sem pecado, que atire a primeira pedra. Cabe sentença mais divina:
Que castigue o pecado quem está isento de pecado? Realmente, como poderiam
suportar a quem condena os delitos alheios, enquanto defende os próprios? Não
se condena mais a si mesmo, quem em outro reprova o que ele mesmo comete?
Disse isto, e
continuou escrevendo no chão. O que escrevia? Provavelmente isto: Por que olhas a palha que está no olho do
teu irmão, e não vês a trave que está no teu? Escrevia no chão com o dedo,
com o mesmo dedo que tinha escrito a Lei. Os pecadores serão inscritos no pó,
os justos no céu, como disse aos discípulos: Estai alegres porque os vossos nomes estão escritos no céu.
Eles, ao ouvi-lo, foram retirando-se um a
um, começando pelos mais velhos, e sentando-se, refletiam sobre si mesmos. E Jesus ficou sozinho, e a mulher no meio,
de pé. Bem disse o evangelista que foram se retirando, os que não queriam
estar com Cristo. Fora está a letra, dentro os mistérios. Os que viviam à
sombra da Lei, sem poder ver o Sol de justiça, buscavam nas Sagradas Escrituras
coisas comparáveis mais às folhas das árvores do que aos seus frutos.
Finalmente,
tendo-se retirado os doutores e os fariseus, Jesus ficou sozinho, e a mulher no
meio, de pé. Jesus, que se dispunha a perdoar o pecado, fica sozinho, como ele
mesmo disse: Está para chegar a hora, ou
melhor, já chegou, em que vos dispersareis cada qual para seu lado, e a mim me
deixareis sozinho. Pois não foi um delegado ou núncio, mas o Senhor em
pessoa, o que salvou o seu povo. Fica só, pois nenhum homem pode ter em comum
com Cristo o poder de perdoar os pecados. Este poder é exclusivo de Cristo, que
tira o pecado do mundo. E certamente mereceu ser absolvida a mulher que –
enquanto os judeus se retiravam – permaneceu sozinha com Jesus.
Erguendo-se Jesus, disse à mulher: Onde estão
teus acusadores? Ninguém te apedrejou? Ela respondeu: Ninguém, Senhor. E Jesus
disse: Eu também não te condeno. Vai e, de agora em diante, não peques mais.
Observa os mistérios de Deus e a clemência de Cristo. Quando a mulher é
acusada, Jesus se inclina, e se levanta quando desaparece o acusador, e isto
porque não quer condenar a ninguém, mas absolver a todos. O que significa,
pois: Vai e, de agora em diante, não
peques mais? Desde o momento em que Cristo te redimiu, que a graça corrija
o que a punição não conseguiria emendar, mas apenas castigar.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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