Visita à Paróquia Romana de Santa Maria Mãe do Redentor a Tor Bella Monaca
Homilia do Papa Francisco
Domingo, 08 de março de 2015
Neste trecho do Evangelho que ouvimos (Jo 2,13-25) há duas coisas que me
surpreendem: uma imagem e uma palavra.
A imagem é a de Jesus com o chicote na mão que afugenta todos os que se
aproveitavam do Templo para fazer negócios. Estes comerciantes que vendiam os
animais para os sacrifícios, trocavam moedas... Havia o sagrado - o templo
sagrado - e fora esta sujidade. É esta a imagem. E Jesus pega no chicote e vai
em frente, para limpar um pouco o Templo.
E a frase, a palavra, é aquela que diz que muitas pessoas acreditavam
nele, uma frase terrível: «Mas Ele, Jesus, não confiava neles, porque conhecia
todos e não precisava que alguém desse testemunho acerca do homem. Com efeito,
Ele conhecia o que há no homem» (Jo 2,24-25).
Nós não podemos enganar Jesus: Ele conhece o nosso íntimo. Não tinha
confiança. Ele, Jesus, não confiava. E esta pode ser uma boa pergunta no centro
da Quaresma: Pode Jesus ter confiança em mim? Pode Jesus confiar em mim, ou
tenho duas caras? Mostro-me católico, próximo da Igreja, e depois vivo como um
pagão? «Mas Jesus não sabe, ninguém vai contar-lhe». Ele sabe. «Ele não
precisava que alguém desse testemunho; com efeito, conhece o que há no homem».
Jesus conhece tudo o que está dentro do nosso coração: nós não podemos enganar
Jesus. Não podemos, diante dele, fazer de contas que somos santos, e fechar os
olhos, fazer assim, e depois levar uma vida que não é como Ele quer. E Ele
sabe-o. Todos sabemos o nome que Jesus dava às pessoas com duas caras:
hipócritas.
Hoje, far-nos-á bem entrar no nosso coração e olhar para Jesus.
Dizer-lhe: «Senhor, repara, há coisas boas, mas há também coisas más. Jesus,
confias em mim? Sou pecador...». Isto não assusta Jesus. Se tu lhe dizes: «Sou
um pecador», não se assusta. A Ele, o que o afasta, é ter duas caras:
mostrar-se justo para cobrir o pecado escondido. «Mas vou à igreja, todos os
domingos, e eu...». Sim, podemos dizer tudo isto. Mas se o teu coração não é
justo, se tu não fizeres justiça, se não amares aqueles que precisam do amor,
se não viveres segundo o espírito das Bem-Aventuranças, não és católico. És
hipócrita. Primeiro: Pode Jesus confiar em mim? Perguntemos-lhe na oração:
Senhor, confias em mim?
Segundo, o gesto. Quando entramos no nosso coração, encontramos coisas
erradas, que não estão certas, como Jesus encontrou no Templo aquela imundície
do comércio, dos negociantes. Também dentro de nós há sujidades, pecados de
egoísmo, soberba, orgulho, cupidez, inveja, ciúmes... tantos pecados!
Podemos também continuar o diálogo com Jesus: «Jesus, confias em mim?
Quero que confies em mim. Então eu abro-te a porta, limpa a minha alma». E
peçamos ao Senhor que, assim como foi limpar o Templo, venha limpar a alma. E
imaginamos que Ele vem com um chicote de cordas... Não, com ele não limpa a
alma! Vós sabeis qual é o chicote de Jesus para limpar a nossa alma? A
misericórdia. Abri o coração à misericórdia de Jesus! Dizei: «Jesus, olha
quanta sujidade! Vem, limpa. Limpa com a tua misericórdia, com as tuas doces
palavras; limpa com as tuas carícias». E se abrirmos o nosso coração à
misericórdia de Jesus, para que limpe o nosso coração, a nossa alma, Jesus
confiará em nós.
Fonte: Santa Sé.
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