sexta-feira, 20 de março de 2015

Homilia do Papa na Celebração Penitencial

CELEBRAÇÃO DA PENITÊNCIA
RITO PARA A RECONCILIAÇÃO DE PENITENTES COM A CONFISSÃO E A ABSOLVIÇÃO INDIVIDUAL
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica Vaticana
Sexta-feira, 13 de Março de 2015

Também este ano, na vigília do quarto Domingo da Quaresma, nos reunimos para celebrar a liturgia penitencial. Unimo-nos a tantos cristãos que, em todas as partes do mundo, acolheram o convite a viver este momento como sinal da bondade do Senhor. De fato, o Sacramento da Reconciliação permite recorrer confiantemente ao Pai para ter a certeza de seu perdão. Ele é verdadeiramente “rico de misericórdia” e a estende com abundância àqueles que recorrem a Ele com coração sincero.
Em todo caso, estar aqui para fazer a experiência de seu amor é, em primeiro lugar, fruto da sua graça. Como nos recordou o apóstolo Paulo, Deus jamais cessa de mostrar ao longo dos séculos a riqueza da sua misericórdia. A transformação do coração que nos leva a confessar os nossos pecados é “dom de Deus”, é “obra sua” (cfr Ef 2,8-10). Ser tocados com ternura por sua mão e plasmados pela sua graça permite-nos, portanto, aproximar-nos do sacerdote sem temor pelas nossas culpas, mas com a certeza de ser por ele acolhidos em nome de Deus, e compreendido apesar de nossas misérias. Saindo do confessionário, sentiremos a sua força que dá novamente a vida e restitui o entusiasmo da fé.
O Evangelho que ouvimos (cfr Lc 7, 36-50) nos abre um caminho de esperança e de conforto. É bom sentir sobre nós o mesmo olhar de compaixão de Jesus, assim como o percebeu a mulher pecadora na casa do fariseu. Neste trecho duas palavras retornam com insistência: amor e juízo.
Há o amor da mulher pecadora que se humilha diante do Senhor; mas antes ainda há o amor misericordioso de Jesus por ela, que a impele a aproximar-se. Seu choro de arrependimento e de alegria lava os pés do Mestre, e seus cabelos os enxugam com gratidão; os beijos são expressão de seu afeto puro; e o unguento perfumado derramado com abundância atesta como Ele é precioso a seus olhos. Cada gesto desta mulher fala de amor e expressa seu desejo de ter uma certeza inquebrantável em sua vida: a de ter sido perdoada. E Jesus lhe dá essa certeza: acolhendo-a demonstra-lhe o amor de Deus por ela, justamente por ela! O amor é o perdão são simultâneos: Deus lhe perdoa muito, tudo, porque “muito amou” (Lc 7,47); e ela adora Jesus porque sente que n’Ele há misericórdia e não condenação. Graças a Jesus, seus muitos pecados Deus os deixa para trás, não os recorda mais (cfr Is 43,25). Para ela, então, tem início uma nova estação; renasceu no amor para uma vida nova.
Esta mulher verdadeiramente encontrou o Senhor. No silêncio, abriu-lhe o coração; na dor, mostrou-lhe o arrependimento por seus pecados; com seu choro, apelou à misericórdia divina para receber o perdão. Para ela não haverá nenhum juízo a não ser o que vem de Deus, e este é o juízo da misericórdia. O protagonista deste encontro é certamente o amor que vai além da justiça.
Simão o fariseu, pelo contrário, não consegue encontrar o caminho do amor. Permanece parado na soleira da formalidade. Não é capaz de dar o passo sucessivo para ir ao encontro de Jesus que lhe traz a salvação. Simão limitou-se a convidar Jesus para o almoço, mas não o acolheu verdadeiramente. Em seus pensamentos invoca somente a justiça, e assim fazendo, erra. Seu juízo sobre a mulher o distancia da verdade e não lhe permite nem mesmo compreender quem é o seu hóspede. Deteve-se na superfície, não foi capaz de olhar para o coração. Diante da parábola de Jesus e da pergunta sobre qual servo amou mais, o fariseu responde corretamente: “Aquele ao qual perdoou mais”. E Jesus observa: “você julgou bem” (Lc 7,43). Somente quando o juízo de Simão é dirigido ao amor, então ele acerta.
O chamado de Jesus leva cada um de nós a jamais deter-se na superfície das coisas, sobretudo quando temos diante de nós uma pessoa. Somos chamados a olhar além, a nos voltar para o coração para ver de quanta generosidade  cada um de nós é capaz. Ninguém pode ser excluído da misericórdia de Deus; todos conhecem o caminho para ter acesso a ela e a Igreja é a casa que todos acolhe e a ninguém rejeita. Suas portas permanecem escancaradas, a fim de que aqueles que foram tocados pela graça possam encontrar a certeza do perdão. Maior é o pecado e maior deve ser o amor que a Igreja expressa para com aqueles que se convertem.
Caros irmãos e irmãs, pensei muitas vezes sobre como a Igreja possa tornar mais evidente a sua missão de ser testemunha da misericórdia. É um caminho que se inicia com uma conversão espiritual. Por isso decidi convocar um Jubileu extraordinário centralizado na misericórdia de Deus. Será um Ano Santo da Misericórdia. Queremos vivê-lo à luz da palavra do Senhor: “Sede misericordiosos como o vosso Pai” (cfr Lc 6,36).
Este Ano Santo terá início na próxima solenidade da Imaculada Conceição e se concluirá em 20 de novembro de 2016, Domingo de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do universo e rosto vivo da misericórdia do Pai. Confio a organização deste Jubileu ao Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, a fim de que possa animá-lo como uma nova etapa do caminho da Igreja em sua missão de levar a toda pessoa o Evangelho da misericórdia.
Estou certo de que toda a Igreja poderá encontrar neste Jubileu a alegria para redescobrir e tornar fecunda a misericórdia de Deus, com a qual todos somos chamados a dar consolação a todo homem e toda mulher de nosso tempo. Desde já o confiamos à Mãe da Misericórdia, a fim de que volte para nós o seu olhar e vele sobre nosso caminho.


Fonte: News.va 

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