segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Ângelus: XXIV Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 11 de setembro de 2022

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho da Liturgia de hoje (Lc 15,1-32) apresenta-nos as três parábolas da misericórdia; chamam-se assim porque mostram o coração misericordioso de Deus. Jesus as narra em resposta às murmurações dos fariseus e dos escribas, que dizem: «Este acolhe os pecadores e come com eles» (v. 2). Escandalizavam-se porque Jesus estava entre os pecadores. Se para eles isto é religiosamente escandaloso, Jesus, acolhendo os pecadores e comendo com eles, revela-nos que Deus é exatamente assim: Deus não exclui ninguém, deseja todos no seu banquete, porque Ele ama todos como filhos, todos, sem excluir ninguém, todos. As três parábolas, então, resumem o coração do Evangelho: Deus é Pai e vem procurar-nos cada vez que nos perdemos.

Na verdade, os protagonistas das parábolas, representando Deus, são um pastor que procura a ovelha perdida, uma mulher que encontra a moeda perdida, e o pai do filho pródigo. Reflitamos sobre um aspecto comum a estes três protagonistas. No fundo, os três têm um aspecto em comum, que poderíamos definir como: a inquietação pela falta - falta a ovelha, falta a moeda, falta o filho -, os três nestas parábolas estão inquietos porque lhes falta algo. Afinal, os três, se fizessem alguns cálculos, poderiam estar tranquilos: ao pastor falta uma ovelha, mas tem outras noventa e nove - “Que se perca...”; a mulher, uma moeda, mas tem outras nove; e também o Pai tem outro filho, obediente, a quem se dedicar: por que pensar naquele que partiu para uma vida dissoluta? Em vez disso, nos seus corações - o do pastor, o da mulher e o do pai - há a preocupação pelo que falta: a ovelha, a moeda, o filho que foi embora. Quem ama preocupa-se por quem falta, sente saudade de quem está ausente, procura aquele que se perdeu, espera por aquele que se afastou. Pois deseja que ninguém se perca.

Irmãos e irmãs, Deus é assim: Ele não está “tranquilo” se nos afastarmos d’Ele, sofre, estremece no íntimo; e põe-se em movimento para ir à nossa procura, até nos reconduzir aos seus braços. O Senhor não calcula as perdas e os riscos, tem um coração de pai e de mãe, e sofre pela falta dos filhos amados. “Mas por que sofre se este filho é um desventurado, foi embora?”. Sofre, sofre. Deus sofre pela nossa distância, e quando nos desviamos, espera o nosso regresso. Lembremo-nos: Deus está sempre à nossa espera de braços abertos, seja qual for a situação na vida em que estamos perdidos. Como diz um salmo, Ele não dorme, Ele vela sempre sobre nós (cf. Sl 120,4-5).

Olhemos agora para nós mesmos e perguntemo-nos: imitamos o Senhor nisto? Temos a inquietação da falta? Sentimos saudade daqueles que estão ausentes, daqueles que se afastaram da vida cristã? Carregamos esta inquietação interior, ou permanecemos serenos e sem perturbações entre nós? Em outras palavras, quem falta nas nossas comunidades, será que nos falta realmente, ou estamos fingindo e não nos comovemos no coração? Quem falta na minha vida, falta concretamente? Ou estamos bem entre nós, tranquilos e felizes nos nossos grupos - “frequento um grupo apostólico muito bom...” -, sem nutrir compaixão por aqueles que estão longe? Não se trata apenas de estarmos “abertos aos outros”, é o Evangelho! O pastor da parábola não disse: “Já tenho noventa e nove ovelhas, quem me faz ir à procura da perdida e desperdiçar o meu tempo?”. Em vez disso, ele foi. Reflitamos então sobre as nossas relações: rezo por quem não crê, por quem está distante, por quem está amargurado? Atraímos os distantes através do estilo de Deus, que é a proximidade, a compaixão e a ternura? O Pai pede-nos que estejamos atentos aos filhos dos quais sente falta. Pensemos em uma pessoa que conhecemos, que está próxima de nós, e que talvez nunca tenha ouvido alguém dizer-lhe: “Sabes? Tu és importante para Deus”. “Mas eu estou em uma situação irregular, fiz esta coisa má, e outra ainda...” - “És importante para Deus”, dizei-o, “não O procuras, mas Ele procura-te”.

Deixemo-nos inquietar - que sejamos homens e mulheres de coração inquieto - deixemo-nos inquietar com estas perguntas e rezemos a Nossa Senhora, Mãe que nunca se cansa de nos procurar e de cuidar de nós, seus filhos.

Jesus, o Bom Pastor à procura da ovelha perdida

Fonte: Santa Sé.

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