São Gregório Nazianzeno
Sermão 37 sobre São Mateus
Este
é um grande mistério
Alguns fariseus se aproximaram de Jesus e
lhe perguntaram para pô-lo a prova: É lícito ao homem divorciar-se da sua
mulher por qualquer motivo? Novamente os fariseus o colocam à prova,
novamente aqueles que leem a lei não entendem a lei, novamente aqueles que se
dizem intérpretes da lei necessitam de outros mestres. Não bastava com que os
saduceus lhe tivessem estendido uma cilada a propósito da ressurreição, que os
doutores lhe interrogassem sobre a perfeição, os herodianos a propósito do
imposto, e outros sobre as credenciais de seu poder. Todavia há quem quer
sondá-lo a respeito do matrimônio, a ele que não é suscetível de ser tentado, a
ele que instituiu o matrimônio, a ele que criou todo este gênero humano a
partir de uma primeira causa.
E ele,
respondendo-lhes, lhes disse: Não lestes
que o Criador no princípio os criou homem e mulher? Entendo que este
problema que me tendes proposto - disse - diz respeito à estima e à honra da
castidade, e requer uma resposta humana e justa. Pois observo que sobre esta
questão existem muitos malpredispostos e que lisonjeiam ideias injustas e
incoerentes.
Por que, que
razão existe para usar de coação contra a mulher, enquanto se é indulgente com
o marido ao qual se deixa em liberdade? Realmente, se uma mulher houvesse
consentido em desonrar o tálamo nupcial, ficaria obrigada a expiar seu
adultério, penalizando-a legalmente com duríssimas sanções; por que, pois, o
marido que tivesse violado com o adultério a fidelidade prometida à sua mulher,
fica absolvido de toda condenação? Eu não posso de jeito nenhum dar a minha
aprovação a esta lei; estou em completa discordância com esta tradição.
Aqueles que sancionaram
esta lei eram homens, e por isso foi promulgada contra a mulher; e como
colocaram aos filhos sob o pátrio poder, deixaram ao sexo frágil na ignorância
e no abandono. Onde está, portanto, a equidade da lei? Um é o Criador do homem
e da mulher, ambos foram formados do mesmo barro, uma mesma é a imagem, única a
lei, única é a morte, a mesma ressurreição. Todos fomos procriados a partir de
um homem e de uma mulher: um e idêntico é o dever que têm os filhos para com os
seus progenitores.
Com que cara
exiges, pois, uma honestidade com a qual tu não correspondes? Como pedes o que
não dás? Como podes estabelecer uma lei desigual para um corpo dotado de igual
honra? Se te fixas na culpabilidade, pecou a mulher, mas também Adão pecou: a
serpente enganou a ambos, induzindo-os ao pecado. Não pode dizer-se que um era
mais fraco e o outro mais forte. Preferes insistir na bondade? Cristo salvou a
ambos com sua Paixão. Ou será que se encarnou somente pelo homem? Também para a
mulher proporcionou a salvação mediante a sua Morte.
Porém, me dirás
que Cristo é proclamado descendente da estirpe de Davi e talvez concluirás
disto que aos homens lhes corresponde o primado de honra. Eu sei, porém, não é
menos certo que nasceu da Virgem, o que é válido igualmente para as mulheres. Serão, portanto - diz -, os dois uma só carne. Por isso, a carne,
que é uma só, tenha igual valor.
Contudo, São
Paulo - inclusive com o seu exemplo - concede à castidade caráter de lei. E o
que é que diz e em que se fundamenta? Este
é um grande mistério: refiro-me a Cristo e à Igreja. É bonito para uma
mulher reverenciar Cristo em seu marido; é igualmente bonito para o marido não
menosprezar a Igreja em sua mulher. Que a
mulher - diz - respeite ao marido,
como a Cristo. Por outro lado, que o marido dê à sua esposa alimento e
calor, como Cristo faz com a Igreja.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 478-480. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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