Continuando as postagens sobre “Dez aspectos da renovação litúrgica do Concílio Vaticano II”, publicada pelo site Vatican News, trazemos
aqui dois textos sobre a centralidade do Mistério Pascal na Liturgia:
No nosso espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio
Vaticano II, vamos continuar a falar sobre a reforma litúrgica, abordando na
edição de hoje o tema “Mistério Pascal na renovação litúrgica”
Temos dedicado uma série de programas à renovação litúrgica
trazida pelo Concílio Vaticano II. Em particular, neste tempo pascal, dedicamos
nossos dois últimos programas à valorização da Vigília Pascal. Nesta
quarta-feira da segunda semana da Páscoa, Padre Gerson Schmidt nos propõe uma
reflexão sobre o tema “O mistério Pascal na Renovação Litúrgica”:
“Na oportunidade anterior, falamos da Vigília Pascal. Hoje,
falamos do ponto mais relevante da liturgia. É o ponto-alvo, o target, o centro de tudo: o Mistério
Pascal. O Mistério Pascal não está contido somente na Santa Missa, mas em todas
as liturgias, em todos os sacramentos e sacramentais.
Diz assim o Catecismo da Igreja Católica a respeito do
Mistério Pascal: “Para os fiéis bem-dispostos, quase todo acontecimento da vida
é santificado pela graça divina que flui do mistério pascal da paixão, morte e
ressurreição de Cristo, do qual todos os sacramentos e sacramentais adquirem
sua eficácia” (CIC, 1670).
Como o sol atrai para sua órbita todos os astros, o Mistério
Pascal atrai todas as ações litúrgicas e toda a vida da Igreja. É do mistério
pascal que todas as atividades da Igreja recebem sua eficácia. Todos os
acontecimentos da nossa vida recebem efusão da vitória de Cristo sobre a morte.
No número 61 da Sacrosanctum
Concilium, diz assim: “A liturgia dos sacramentos e dos sacramentais
permite que a graça divina, que promana do mistério pascal da paixão, morte e
ressurreição de Cristo, do qual recebem a sua eficácia todos os sacramentos e
sacramentais, santifique todos os acontecimentos da vida dos fiéis que os recebem
com a devida disposição”.
No número 05 da SC reza assim: (...) Esta obra da redenção humana e da
perfeita glorificação de Deus, que tem o seu prelúdio nas maravilhas divinas
operadas no povo do Antigo Testamento, completou-a o Cristo Senhor,
especialmente pelo mistério pascal de sua sagrada paixão, ressurreição dos
mortos e gloriosa ascensão; por este mistério, Cristo “morrendo, destruiu a
nossa morte e, ressurgindo, deu-nos a vida” (Anáfora da Páscoa). Pois, do lado
de Cristo agonizante sobre a cruz nasceu “o admirável sacramento de toda a
Igreja”.
Interessante essa frase que repetimos: do lado de Cristo
agonizante sobre a cruz nasceu “o admirável sacramento de toda a Igreja”. De
fato, a Igreja nasce do lado aberto de Cristo. Somos filhos do coração
traspassado de Cristo, que morto, ressuscita glorioso para nossa santificação.
Os liturgistas Ione Buyst e Dom Manoel João Francisco
comentam que na época do Concílio foi uma grande novidade usar o termo
“Mistério Pascal” como conceito fundamental para a Eucaristia. Muitos padres
conciliares estranharam essa expressão, pois até então somente a paixão e morte
de Jesus eram consideradas “memórias” da graça da salvação. A eucaristia era
entendida simplesmente como sacrifício expiatório, um memorial. Não se podia
entender essa linguagem da Missa como atualização concreta para nós hoje do
Mistério da Paixão, morte e ressurreição de Cristo".
No nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio
Vaticano II, vamos continuar a falar sobre a renovação litúrgica trazida pelo
evento conciliar.
Até Pentecostes vivemos o Tempo Pascal, isto é, o período do
Ano litúrgico que segue 50 dias após o Domingo de Páscoa. A palavra
"Aleluia" é usada no final das antífonas, temos o Círio Pascal em
todas as missas, fala-se da ressurreição e da vida eterna, do batismo, cantamos
o Glória.
"Do lado de Cristo agonizante sobre a Cruz - afirma a Sacrosanctum Concilium - nasceu o
admirável sacramento de toda a Igreja". Somos filhos do coração
traspassado de Cristo, que morto, ressuscita glorioso para a nossa santificação.
Assim, o Mistério Pascal, é o centro de tudo, de toda a liturgia, como vimos em
nosso último programa.
Na edição desta quarta-feira, padre Gerson Schmidt -
sacerdote incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre - dá continuidade a este
tema, nos trazendo a reflexão: "O Mistério Pascal atualiza-se no
agora":
"Pe. Pedro Mosén Farnés foi um dos grandes liturgistas
e expoentes do Concílio Vaticano II para trazer a renovação litúrgica proposta
na Sacrosanctum Concilium – a
Constituição pilar de toda a valorização e renovação dos sacramentos, o mais
importante documento litúrgico de todos os tempos (Pedro Farnés faleceu em 24
de março de 2017, em Barcelona, com 91 anos de idade). Apontou diversas vezes
que no centro de toda a liturgia está a Páscoa, a vigília Pascal por excelência
e a Eucaristia é entendida como Mistério Pascal. O esplendor da Liturgia
centrou-se no centro - o Mistério Pascal.
Em cada liturgia, entro nesse dinâmica renovadora dos
sacramentos, que não são ritos exteriores e eu um mero expectador, da mesma
forma como vou a um cinema. Posso até me envolver emocionalmente, mas sei que
apenas sou um assistente, um mero expectador de um espetáculo até bonito e
atraente, mas que não me envolve e não me transforma.
Na liturgia, o Mistério Pascal me ressuscita. Por isso, a Constituição Dogmática Lumen Gentium, no número 03, fala dessa
atualização na liturgia do Mistério Pascal em nossas vidas: “todas as vezes que
se celebra no altar o sacrifício da cruz, pela qual Cristo, nossa páscoa, foi
imolado, atualiza-se a obra da nossa redenção” (LG 03).
O Catecismo da Igreja Católica, renovado na perspectiva
conciliar, fala que o mistério Pascal não é coisa do passado simplesmente, mas
iluminador do hoje:
“Na liturgia da Igreja, Cristo significa e realiza
principalmente seu mistério pascal. Durante sua vida terrestre, Jesus anunciava
seu Mistério pascal por seu ensinamento e o antecipava por seus atos. Quando
chegou sua hora, viveu o único evento da história que não passa: Jesus morre, é
sepultado, ressuscita dentre os mortos e está sentado à direita do Pai “uma vez
por todas” (Rm 6,10; Hb 7,27; 9,12). É um evento real, acontecido em nossa
história, mas é único: todos os outros eventos da história acontecem uma vez e
depois passam, engolidos pelo passado. O Mistério pascal de Cristo, ao
contrário, não pode ficar somente no passado, já que por sua morte destruiu a
morte, e tudo o que Cristo é, fez e sofreu por todos os homens participa da
eternidade divina, e por isso abraça todos os tempos e nele se mantém presente.
O evento da cruz e da ressurreição permanece e atrai tudo para a vida” (CIC,
1085)
Sobre essa atualização do Mistério da fé em nossas vidas, no
agora de nossa história, o catecismo ainda é mais enfático, falando de uma
Páscoa mística que não tem ocaso, que perdura ao longo de toda a história:
“Quando celebra o mistério de Cristo, há uma palavra que
marca a oração da Igreja: hoje!, fazendo eco à oração que seu Senhor lhe
ensinou e o apelo do Espírito Santo'. Este “hoje” do Deus vivo em que O homem é
chamado a entrar é “a hora”; da Páscoa de Jesus que atravessa e leva toda a
história: A vida estendeu-se sobre todos os seres, e todos ficam repletos de
uma generosa luz; o Oriente dos orientes invadiu o universo, e aquele que era
“antes da estrela da manhã” e antes dos astros, imortal e imenso, o grande
Cristo brilha sobre todos os seres mais que o sol! É por isso que, para nós que
cremos nele, se instaura um dia de luz, longo, eterno, que não se apaga: a
páscoa mística' (CIC, 1165)".
[1] Palavra técnica inglesa que significa ponto-alvo, a finalidade, a meta a ser atingida.
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