São Macário, o Grande
Sermão 28 (atribuído)
Ai
da alma na qual não habita Cristo!
Assim como Deus
em outro tempo, irritado contra os judeus, entregou Jerusalém à afronta de seus
inimigos e seus adversários os submeteram, de maneira que já não restaram nela
nem festas nem sacrifícios, assim também agora, encolerizado contra a alma que
viola os seus mandatos, a entrega em poder dos mesmos inimigos que a seduziram
até torna-la feia.
E da mesma forma
que uma casa, se não habita nela seu dono, se cobre de trevas, de ignomínia e
de afronta, e fica toda cheia de sujeira e imundície, assim também a alma,
privada do seu Senhor e da presença alegre de seus anjos, fica repleta das
trevas do pecado, da fealdade das paixões e de todo o tipo de desonra.
Ai do caminho
pelo qual ninguém passa, e no qual não se ouve nenhuma voz humana, porque se
torna asilo de animais! Ai da alma pela qual o Senhor não caminha, nem afugenta
dela com a sua voz as bestas espirituais da maldade! Ai da casa na qual não
habita o seu dono! Ai da terra privada de colono que a cultive! Ai do barco
privado de piloto, porque, acometido pelas ondas e tempestades do mar, acaba
por naufragar! Ai da alma que não traz em si o verdadeiro piloto, Cristo, porque,
colocada em um cruel mar de trevas, sacudida pelas ondas de suas paixões e
atacada pelos espíritos malignos como por uma tempestade de inverno, acabará
naufragando!
Ai da alma
privada do cultivo dedicado de Cristo, que é aquele que faz produzir os bons frutos
do Espírito, porque, encontrando-se abandonada, cheia de espinhos e de
abrolhos, em vez de produzir fruto, acaba na fogueira! Ai da alma na qual não
habita Cristo, seu Senhor, porque ao encontrar-se abandonada e cheia dos mais
odores de suas paixões, torna-se hospedagem de todos os vícios!
Assim como o
colono, quando se dispõe a cultivar a terra, necessita dos instrumentos e
vestes apropriados, assim também Cristo, o rei celestial e verdadeiro
agricultor, ao visitar a humanidade desolada pelo pecado, tendo-se revestido de
um corpo humano e levando a cruz como instrumento, cultivou a alma abandonada,
arrancou dela os espinhos e abrolhos dos maus espíritos, extraiu a cizânia do
pecado e lançou ao fogo toda a erva má; e, tendo-a assim trabalhado incansavelmente
com o madeiro da cruz, plantou nela o belíssimo horto do Espírito: horto que
produz para Deus, seu Senhor, um fruto agradável e suavíssimo.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 229-230. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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