São Gregório Magno
Sermão 38 sobre os Evangelhos
O
que devemos entender por veste nupcial, senão a caridade?
O que significa,
irmãos, a veste nupcial? Não podemos dizer que signifique o batismo, nem a fé, porque
quem pode entrar sem eles nestas bodas? Portanto, o que devemos entender por
veste nupcial, senão a caridade? Entra, pois, nas bodas, mas não leva a veste
nupcial, aquele que pertencendo à Igreja Católica tem fé, mas lhe falta a
caridade.
Com fundamento
se chama caridade a veste nupcial, visto que nosso Criador a teve quando foi
para as bodas desposar-se com a Igreja. De fato, somente o amor de Deus pode
fazer que seu Filho Unigênito una a si as almas dos eleitos. Por isso dizia São
João: Deus tanto amou o mundo que lhe deu
o seu Filho primogênito. Logo, aquele que veio aos homens por caridade deu
a conhecer que a veste nupcial não era outra coisa que a própria caridade.
Portanto, todo aquele que recebeu o batismo e crê em Deus, entrou nas bodas,
porém não vai com a veste nupcial se não conserva o dom da caridade.
E na verdade,
meus irmãos, se alguém é convidado para uma boda, procura trocar de veste, e
manifesta que se alegra com o esposo e a esposa pela dignidade de seu traje, e
se envergonharia de aparecer entre os convidados com uma veste insignificante.
Nós assistimos as bodas divinas, e, contudo, resistimos a trocar a veste do
coração. Os anjos se regozijam quando os escolhidos são levados ao céu. Pois,
como apreciamos estas festas espirituais, nós que não temos a veste nupcial,
isto é, a caridade, que é a única que nos torna belos diante dos olhos do
Senhor?
Porque muitos são os chamados, mas poucos os
escolhidos. Terrível é, caríssimos, o que acabamos de ouvir. Considerai que
todos nós, chamados pela fé, assistimos as bodas do rei celestial, todos cremos
e confessamos o mistério de sua encarnação, todos participamos do banquete do
Verbo divino, porém no dia futuro do juízo o rei entrará. Sabemos que fomos
chamados, mas ignoramos se pertencemos ao grupo dos escolhidos.
É preciso,
portanto, que todos nos humilhemos, tanto mais que ignoramos se estaremos entre
os escolhidos. Existem alguns que nunca deram início às boas obras; outros
começaram a realizar o bem, mas não persistiram neste caminho. Há quem quase
toda a vida foi mau, porém ao final se afasta de seus erros pela dor de uma
verdadeira penitência; mas há, pelo contrário, quem parece viver uma vida
santa, porém até o fim de seus dias cai no erro da maldade. Outros começam bem
e terminam melhores; outros, pelo contrário, desde a juventude se precipitam no
abismo dos vícios e terminam agindo do mesmo modo, piores cada vez mais.
Tema, por isso,
cada um, já que ignora o que lhe resta, pois não deve esquecer; pelo contrário,
deve repetir continuamente as palavras do Evangelho: Muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 231-233. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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