Viagem Apostólica do Papa
Francisco à Colômbia
(6-11 de setembro de 2017)
Santa Missa
Homilia do Santo Padre
Parque Simón Bolívar, Bogotá
Quinta-feira, 7 de setembro de 2017
O
evangelista recorda que a chamada dos primeiros discípulos teve lugar nas
margens do lago de Genesaré, onde as pessoas se reuniam para ouvir uma voz
capaz de as orientar e iluminar; e é também o lugar onde os pescadores concluem
a sua jornada fatigante, durante a qual buscam o sustento para levar uma vida
sem penúrias, uma vida digna e feliz. É a única vez, em todo o evangelho de
Lucas, que Jesus prega junto do chamado mar da Galileia. No mar aberto,
confundem-se a esperada fecundidade do trabalho com a frustração pela
inutilidade dos esforços vãos. E, segundo uma antiga interpretação cristã, o
mar também representa a vastidão onde convivem todos os povos. Finalmente, pela
sua agitação e obscuridade, evoca tudo aquilo que ameaça a existência humana e
que tem o poder de a destruir.
Usamos
expressões semelhantes para definir multidões: uma maré humana, um mar de
gente. Naquele dia, Jesus tem atrás d’Ele o mar e, à sua frente, uma multidão
que O seguiu ao ver como Ele Se comove perante o sofrimento humano... e as suas
palavras justas, profundas, seguras. Todos vêm ouvi-Lo; a Palavra de Jesus tem
algo de especial que não deixa ninguém indiferente. A sua Palavra tem o poder
de converter os corações, mudar planos e projetos. É uma Palavra corroborada
pela ação, não são conclusões redigidas no escritório, expressões frias e
distantes do sofrimento das pessoas; por isso, é uma Palavra que serve tanto
para a segurança da margem como para a fragilidade do mar.
Esta
querida cidade, Bogotá, e este belo país, a Colômbia, têm muito destes cenários
humanos apresentados pelo Evangelho. Aqui vivem multidões que anseiam por uma
palavra de vida, que ilumine com a sua luz todos os esforços e mostre o sentido
e a beleza da existência humana. Estas multidões de homens e mulheres, crianças
e idosos habitam uma terra de fertilidade inimaginável, que poderia dar frutos
para todos. Mas também aqui, como noutras partes do mundo, há densas trevas que
ameaçam e destroem a vida: as trevas da injustiça e da desigualdade social; as
trevas corrutoras dos interesses pessoais ou de grupo, que consomem, egoísta e
desaforadamente, o que se destina para o bem-estar de todos; as trevas da falta
de respeito pela vida humana que diariamente ceifa a existência de tantos
inocentes, cujo sangue brada ao céu; as trevas da sede de vingança e do ódio
que mancha com sangue humano as mãos de quem faz justiça por sua conta; as
trevas de quem se torna insensível ao sofrimento de tantas vítimas. Todas estas
trevas, as dissipa e destrói Jesus com o seu mandato na barca de Pedro: «Faz-te
ao largo» (Lc 5,4).
Nós
podemos enredar-nos em discussões intermináveis, somar tentativas fracassadas e
fazer um elenco de esforços que acabaram em nada; mas, como Pedro, sabemos o
que significa a experiência de trabalhar sem resultado algum. Esta nação também
sabe disso, quando nos inícios, durante um período de seis anos, teve dezesseis
Presidentes e pagou caro as suas divisões (a «patria boba», pátria tonta);
também a Igreja na Colômbia sabe de trabalhos pastorais vãos e infrutuosos...,
mas, como Pedro, também somos capazes de confiar no Mestre, cuja Palavra
suscita fecundidade mesmo onde a inospitalidade das trevas humanas torna
infrutíferos muitos esforços e fadigas. Pedro é o homem que acolhe, decidido, o
convite de Jesus, que deixa tudo e O segue para se transformar num novo
pescador, cuja missão é levar os seus irmãos ao Reino de Deus, onde a vida se
torna plena e feliz.
Mas o
mandato de lançar as redes não é dirigido apenas a Simão Pedro; a ele,
coube-lhe fazer-se ao largo, como aqueles que na vossa pátria foram os
primeiros a ver o que era mais urgente fazer, aqueles que tomaram iniciativas
de paz, de vida. Lançar as redes implica responsabilidade. Em Bogotá e na
Colômbia, peregrina uma comunidade imensa, que é chamada a tornar-se uma rede
vigorosa que congregue a todos na unidade, trabalhando na defesa e cuidado da
vida humana, particularmente quando é mais frágil e vulnerável: no seio
materno, na infância, na velhice, nas condições de invalidez, e nas situações
de marginalização social. Também as multidões que vivem em Bogotá e na Colômbia
podem tornar-se verdadeiras comunidades vivas, justas e fraternas, se escutarem
e acolherem a Palavra de Deus. Nestas multidões evangelizadas, hão de surgir
muitos homens e mulheres tornados discípulos que, com um coração
verdadeiramente livre, sigam a Jesus; homens e mulheres capazes de amar a vida
em todas as suas fases, de a respeitar e promover.
E, como
fizeram os apóstolos, é necessário chamar uns pelos outros, fazermos sinais
como os pescadores, voltar a considerar-nos irmãos, companheiros de estrada,
sócios desta empresa comum que é a pátria. Bogotá e a Colômbia são
simultaneamente margem, lago, mar aberto, cidade por onde Jesus passou e passa
para oferecer a sua presença e a sua palavra fecunda, para nos fazer sair das
trevas e conduzir-nos para a luz e a vida. Chamar os outros, chamar a todos
para que ninguém seja deixado ao arbítrio das tempestades; fazer entrar na
barca todas as famílias – estas são santuários da vida; colocar o bem comum
acima dos interesses mesquinhos ou particulares, ocupar-se dos mais frágeis
promovendo os seus direitos.
Pedro
experimenta a sua pequenez, experimenta a grandeza da Palavra e da ação de
Jesus; Pedro sabe das suas fraquezas, das suas hesitações..., como o sabemos
nós também, como o sabe a história de violência e divisão do vosso povo que nem
sempre nos encontrou disponíveis para compartilhar a barca, as tempestades, os
infortúnios. Mas Jesus, como a Simão, convida-nos a fazer-nos ao largo,
impele-nos a compartilhar o risco (não tenhais medo de arriscar juntos!),
convida-nos a deixar os nossos egoísmos e a segui-Lo; convida-nos a perder
medos que não vêm de Deus, os temores que nos paralisam e atrasam a urgência
de ser construtores da paz, promotores da vida.
«Fazei-vos ao largo»: disse Jesus. E os discípulos fizeram sinais aos outros para se reunirem todos na barca. Possa acontecer o mesmo a este povo!
«Fazei-vos ao largo»: disse Jesus. E os discípulos fizeram sinais aos outros para se reunirem todos na barca. Possa acontecer o mesmo a este povo!
Fonte: Santa Sé
Nenhum comentário:
Postar um comentário