Papa
Francisco
Ângelus
Domingo, 21 de agosto de 2016
Bom dia, estimados irmãos e irmãs!
O Evangelho de hoje (Lc 13,22-30) exorta-nos a meditar sobre o tema da
salvação. O evangelista Lucas narra que Jesus está em viagem rumo a Jerusalém,
e durante o percurso aproxima-se uma pessoa que lhe faz a seguinte pergunta:
«Senhor, são poucos os homens que se salvam?» (v. 23). Jesus
não dá uma resposta direta, mas desvia o debate para outro plano, com uma
linguagem sugestiva, que no início os discípulos talvez não tenham entendido:
«Procurai entrar pela porta estreita; porque, digo-vos, muitos procurarão entrar
e não conseguirão» (v. 24). Mediante a imagem da porta, Ele quer levar os seus
ouvintes a entender que não se trata de uma questão de número - quantos se
salvarão - não importa saber quantos, mas é importante que todos saibam qual é
o caminho que leva à salvação.
Este percurso prevê que atravessemos uma porta. Mas onde está a porta?
Como é a porta? Quem é a porta? O próprio Jesus é a porta, como Ele mesmo diz
no Evangelho de João: «Eu sou a porta» (Jo 10,9). Ele guia-nos
para a comunhão com o Pai, onde encontramos amor, compreensão e amparo. Mas
podemos interrogar-nos por que motivo esta porta é estreita? Por que diz Ele
que ela é estreita? Trata-se de uma porta estreita, não porque é opressiva, mas
porque exige que limitemos e contenhamos o nosso orgulho e o nosso medo, para
nos abrirmos a Ele com coração humilde e confiante, reconhecendo-nos pecadores,
necessitados do seu perdão. Por isso é estreita: para conter o nosso orgulho,
que nos incha. A porta da misericórdia de Deus é estreita, mas permanece sempre
escancarada para todos! Deus não tem preferências, mas acolhe sempre todos, sem
distinções. Uma porta estreita para restringir o nosso orgulho e o nosso medo,
uma porta aberta de par em par, porque Deus nos recebe sem distinções. E a
salvação que Ele nos concede é um fluxo incessante de misericórdia, que derruba
qualquer barreira e abre surpreendentes perspectivas de luz e de paz. Porta
estreita, mas sempre escancarada: não vos esqueçais disto!
Hoje Jesus dirige-nos, mais uma vez, um convite urgente a ir ao seu
encontro, a passar pela porta da vida plena, reconciliada e feliz. Ele espera
cada um de nós, independentemente de qualquer pecado que tenhamos cometido,
para nos abraçar e para nos conceder o seu perdão. Só Ele pode transformar o
nosso coração, somente Ele pode dar sentido pleno à nossa existência,
oferecendo-nos a verdadeira alegria. Entrando pela porta de Jesus, pela porta
da fé e do Evangelho, podemos sair das atitudes mundanas, dos maus hábitos, dos
egoísmos e dos fechamentos. Quando existe o contato com o amor e a misericórdia
de Deus, verifica-se a mudança autêntica. E a nossa vida é iluminada pela luz
do Espírito Santo: uma luz inextinguível!
Gostaria de vos fazer uma proposta. Pensemos agora, em silêncio por um
instante, naquilo que temos dentro de nós e que nos impede de atravessar a
porta: o meu orgulho, a minha soberba, os meus pecados. E depois pensemos na
outra porta, naquela porta aberta de par em par, da misericórdia de Deus, que
do outro lado nos espera para nos conceder o perdão.
O Senhor oferece-nos muitas ocasiões para nos salvar e nos fazer passar
pela porta da salvação. Esta porta é uma ocasião que não deve ser desperdiçada:
não podemos proferir discursos acadêmicos sobre a salvação, como aquela pessoa
que se dirigiu a Jesus, mas devemos aproveitar as ocasiões de salvação. Porque em um determinado momento «o Senhor entrará e fechará a porta» (v. 25), como nos
recordou o Evangelho. Mas se Deus é bom e nos ama, por que razão a certa
altura fechará a porta? Porque a nossa vida não é um videogame, nem uma
telenovela; a nossa vida é séria, e o objetivo a alcançar é importante: a
salvação eterna.
À Virgem Maria, Porta do Céu, peçamos que nos ajude a
aproveitar as ocasiões que o Senhor nos oferece para passar pela porta da fé e
assim entrar em um caminho largo: é a vereda da salvação, capaz de acolher todos
aqueles que se deixam envolver pelo amor. É o amor que nos salva, o amor que já
na terra constitui a fonte de bem-aventuranças de quantos, na mansidão, na
paciência e na justiça, se esquecem de si mesmos e se oferecem aos outros,
especialmente aos mais frágeis.
Fonte: Santa Sé.
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