Santo Agostinho
Sermão 130
“O
Senhor criou e redimiu os seus servos”
Ele é o pão
descido do céu; porém, é um pão que refaz sem desfazer-se, um pão que pode se
sumir, mas não se consumir. Este pão estava simbolizado pelo maná. Por isso foi
escrito: Deu-lhes um trigo celeste; e o
homem comeu o pão dos anjos. E quem a não ser Cristo é o pão do céu? Mas
para que o homem comesse o pão dos anjos, se fez homem o Senhor dos anjos. Se
ele não tivesse se feito homem não teríamos sua carne, não comeríamos o pão do
altar. Apressemo-nos a tomar posse da herança, da qual tão magnífica prenda
recebemos.
Meus irmãos:
desejemos a vida de Cristo, pois temos o dom da morte de Cristo. Como não nos
dará seus bens aquele que padeceu nossos males? Nesta terra, neste mundo
malvado, o que é que abunda senão o nascer, o fadigar-se e o morrer? Examinai
as realidades humanas e convencei-me, se é que estou equivocado. Considerai,
homens todos, e vede se existe neste mundo algo além de nascer, fadigar-se e
morrer. Esta é a mercadoria típica de nossa terá, é isto o que aqui abunda. E
por tais mercadorias desceu o divino Mercador.
E uma vez que
todo mercador dá e recebe: dá o que tem e recebe o que não tem - quando compra
algo, paga o preço estipulado e recebe o produto comprado -, também Cristo, neste
mercado do mundo, dá e recebe. E o que recebe? Aquilo que aqui sobeja: nascer,
fadigar-se e morrer. E o que deu? Renascer, ressuscitar e eternamente reinar. Ó
bom Mercador, compra-nos! Mas por que digo compra-nos, se o que devemos fazer é
dar-lhe graças por ter-nos comprado?
Ele nos entrega
o nosso próprio preço: bebemos teu sangue; entrega-nos o nosso próprio preço. O
Evangelho que lemos é a ata de nossa aquisição. Somos teus servos, somos
criatura tua; fizeste-nos, redimiste-nos. Comprar um servo está ao alcance de
qualquer um, mas criá-los não. Pois bem: o Senhor criou e redimiu aos seus
servos.
Os criou para
que fossem; os redimiu para que cativos não fossem. Tínhamos caído nas mãos do
príncipe deste mundo, que seduziu a Adão e o fez escravo. E começou a
possuir-nos como sua herança. Mas veio nosso Redentor e foi vencido o sedutor.
E o que nosso Redentor fez com o nosso escravizador? Para pagar o nosso preço
armou a cilada de sua cruz, pondo nela como isca seu próprio sangue. Sangue que
o sedutor pode verter, mas que não mereceu beber.
E por ter
derramado o sangue de quem não era devedor, foi obrigado a restituir os
devedores. Derramou o sangue do Inocente, foi obrigado a deixar em paz aos
culpáveis. Pois na realidade o Salvador derramou seu sangue para apagar os
nossos pecados. A carta de obrigação com o que o diabo nos retinha foi
cancelada pelo sangue do Redentor. Então, o amemos, porque é doce. Degustai e vede como é bom o Senhor.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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