Santo Agostinho
Sermão 229
“Interrogando
a Pedro, o Senhor interroga a todos nós”
Quando ouves o
Senhor dizer: Pedro, tu me amas?,
considera esta pergunta como um espelho e procura ver-te refletido nele. E para
que saibas que Pedro era figura da Igreja, recorda aquele texto do Evangelho: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a
minha Igreja, e o poder do inferno não a derrotará. Te darei as chaves do Reino
dos céus. Recebe as chaves um só homem. E quais sejam estas chaves do Reino
dos céus, o explicou o próprio Cristo: O
que atares na terra ficará atado no céu, e o que desatares na terra ficará
desatado no céu. Se somente a Pedro foi dito, somente Pedro o fez; morreu
Pedro e se foi: Quem ata? Quem desata? Me atreverei a dizê-lo: Estas chaves
também nós as temos. Mas o que estou dizendo? Que nós atamos? Que nós
desatamos? Atais também vós. Porque é atado quem se separa de vossa comunidade,
e ao separar-se de vossa comunidade fica atado por vós. E quando se reconcilia
é desatado por vós, porque também vós intercedeis a Deus por ele.
Realmente, todos
amamos a Cristo, somos seus membros; e quando Ele confia sua grei aos pastores,
todo o colégio dos pastores passa a formar parte do corpo do único pastor. E
para que compreendais como todo o colégio de pastores se integra no corpo do único Pastor, refleti: certamente
Pedro é pastor e plenamente pastor; Paulo é pastor e pastor no sentido pleno da palavra; João é pastor,
Tiago é pastor, André é pastor, os demais apóstolos são realmente pastores.
Então, como se verificará aquilo de que: Haverá
um só rebanho e um só pastor?
Contudo, se é
certo aquilo de que haverá um só rebanho, um só pastor, é que todo o imenso
número de pastores se reduz ao corpo do único Pastor. Mas nele estais também
vós, pois sois membros seus.
Estes são
aqueles membros que oprimiam aquele Saulo, primeiro perseguidor, em seguida
pregador, fazendo ameaças de morte, diferindo a fé. Jesus deu uma só palavra a
ele com todo seu furor. Que palavra? Saulo,
Saulo, por que me persegues? O que ele podia fazer ao que estava sentado no
céu? Que dano poderia fazer-lhe as ameaças? Que dano poderia fazer-lhe os
gritos? Nada disto poderia mais afetar-lhe, e apesar disso clamava: Por que me persegues? Quando dizia: Por que me persegues? Declarava que nós
somos seus membros. Assim, o amor de Cristo, a quem amamos em vós, o amor de
Cristo a quem também vós amais em nós, nos conduzirá, entre tentações, fadigas,
suores, misérias e gemidos, ali aonde não há cansaço algum, nem miséria, nem
gemidos, nem suspiros, nem moléstia; aonde ninguém nasce, nem morre; aonde
ninguém teme as cóleras do poderoso, porque se adere à face do Todo Poderoso.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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