“Em verdade Eu te
digo: ainda hoje estarás Comigo no Paraíso” (Lc 23,43).
Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas
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Paixão
segundo Lucas XVII: Lc 23,39-43
Um dos malfeitores
crucificados O insultava, dizendo: “Tu não és o Cristo? Salva-Te a Ti mesmo e a
nós!” Mas o outro o repreendeu, dizendo: “Nem sequer temes a Deus, Tu que
sofres a mesma condenação? Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que
merecemos; mas Ele não fez nada de mal”. E acrescentou: “Jesus, lembra-Te de
mim, quando entrares no Teu Reinado”. Jesus lhe respondeu: “Em verdade Eu te
digo: ainda hoje estarás Comigo no Paraíso” (Lc 23,39-43).
Ladrão esperto, que rouba até à última hora: rouba o Coração
de Cristo, rouba o Reino dos Céus! Primeiro, reconhece-se pecador: não procura
mascarar seu crime. Sabe que Jesus é inocente, reconhece que Jesus não fez nada
de mal. Depois, confessa seu pecado: “Estamos
recebendo o que merecemos!” E, exatamente da consciência do próprio pecado,
nasce o bendito e humilde pedido de misericórdia: “Jesus, lembra-Te de mim, quando entrares no Teu Reinado”. Escuta,
então, as palavras mais consoladoras que alguém poderia ouvir na hora da morte:
“Ainda hoje estarás Comigo no Paraíso!”
Hoje estarás Comigo e, onde Eu estiver, aí está o teu paraíso, a alegria sem
fim! Estar com Jesus, d’Ele não se separar nem na vida nem na morte: eis a
maior esperança e a maior honra para o cristão!
Crucificação - Duccio di Buoninsegna |
- Senhor, que na hora de minha morte, naquela hora tremenda,
de solidão total, eu possa também ouvir estas palavras: “Ainda hoje, estarás
Comigo, pois que nem a vida nem a morte podem separar-te do Meu amor!” Mas,
para isso, eu Te peço humildemente: “Jesus,
lembra-Te de mim quando vieres no Teu Reino!”.
Nós Vos adoramos,
Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz
remistes o mundo!
Paixão
segundo Lucas XVIII: Lc 23,44-49
Já era mais ou menos
meio-dia e uma escuridão cobriu toda a terra até as três horas da tarde, pois o
sol parou de brilhar. A cortina do Santuário rasgou-se pelo meio, e Jesus deu
um forte grito: “Pai, em Tuas mãos entrego o Meu espírito”. Dizendo isso,
expirou. O oficial do exército romano viu o que acontecera e glorificou a Deus,
dizendo: “De fato! Este homem era justo!” E as multidões, que tinham acorrido
para assistir, viram o que havia acontecido e voltaram para casa, batendo no
peito. Todos os conhecidos de Jesus, bem como as mulheres que O acompanhavam
desde a Galileia, ficaram à distância, olhando essas coisas (Lc 23,44-49).
Ao meio-dia, ao sol a pino, tudo se fez escuro. Escuro de
uma escuridão diferente, aquela do coração, aquela de uma história humana
marcada pelo pecado a ponto de tornar-se absurda! Era meio-dia e tudo estava
escuro, porque o Sol que não tem ocaso encontrava-Se envolto nas trevas da dor,
da irrisão, da morte! “É a vossa hora e o
poder das trevas!” - Quão grandes, quão densas as nossas trevas!
O véu do Templo, aquele que separava o Santo dos Santos,
rasgou-se pelo meio! Fato cheio de significado! Uma vez por ano o Sumo
Sacerdote entrava no Santo dos Santos, atravessando o véu. Entrava com o sangue
de um cordeiro para implorar o perdão pelo Povo de Israel. Tudo aquilo era uma
profecia, uma imagem! Agora o verdadeiro Sumo Sacerdote, o nosso Jesus, iria
entrar no Santuário dos Céus e não com o sangue de cordeiros, mas com o Seu próprio
sangue e uma vez por todas, por toda a eternidade, para apresentá-lo ao Pai
como perdão pela humanidade toda! Nunca esqueçamos: o Sacrifício da Cruz é um
ato religioso, é um ato de culto, é um sacrifício sagrado, é a imolação do
Cordeiro puro e santo que tira o pecado do mundo! E este Sacrifício bendito, o
Senhor deixou para sempre no coração de Sua Igreja: toda vez que celebramos a
santa Eucaristia, torna-se presente sobre o Altar a imolação do Senhor,
torna-Se presente o Cordeiro morto e ressuscitado, entregue ao Pai para a Vida
do mundo, como Sacrifício vivo e santo, único e irrepetível, mas sempre
presente no coração da Igreja como louvor, ação de graças, expiação e salvação!
Que nunca duvidemos, como fazem alguns sem fé, mesmo dentro da Igreja - dentro
ao menos teoricamente -, a Eucaristia é o próprio Sacrifício de Cristo, único e
irrepetível, oferecido continuamente pela salvação nossa e do mundo inteiro! A
Eucaristia não é uma simples ceia, não é uma festa! É um Sacrifício incruento e
santo no qual o Filho Eterno torna presente a Sua oferta ao Pai na força do
Santo Espírito. Este Sacrifício é celebrado ritualmente na forma de um Banquete
sagrado, de modo que o Altar da oferta é também Mesa da comunhão! Esta é a
nossa fé. Só esta!
E Jesus morreu! Saiu deste mundo rezando como neste mundo
entrou! Ao entrar no mundo, ao vir ao seio da Virgem, Ele mesmo dissera: “Tu não quiseste sacrifício, Tu formaste-Me
um corpo! Eu venho, ó Pai, para fazer a Tua vontade!” (Sl 39,7-9; Hb 10,5-7). E
agora, aquele sim é consumado: Seu corpo, formado pelo Pai no seio de Maria, é
ofertado na Cruz: “Eu Me entrego totalmente nas Tuas mãos, ó Pai, entrego-Te o
Espírito Santo no qual Tu Me geraste no ventre da Virgem e que sobre Mim
derramaste no Jordão! Entrego-Me a Ti, espero em Ti! Sei que Tu não Me deixarás
nas sombras da morte!”. Afirmar que Jesus entrou e saiu do mundo rezando é
dizer que toda a Sua existência foi uma oração, foi vida vivida diante do Pai e
para o Pai. Ele nunca viveu para Si, nunca Se poupou: tudo quanto foi, fez e
disse, fê-lo para o Pai! Este deve ser o nosso modo de viver: viver na presença
de Deus, viver conscientes de que Dele viemos e para Ele vamos; nunca viver
fechados em nós e para nós! Só isto é viver de verdade, é viver na forma de
Cristo!
São Lucas, ao narrar a Morte de Jesus, faz um jogo de
palavras e de ideias: tudo estava escuro. Era treva. A Luz morrera. E, no
entanto, “o oficial do exército romano
viu...”, “as multidões, que tinham
acorrido para assistir, viram...”, “todos
os conhecidos de Jesus, bem como as mulheres que O acompanhavam desde a Galileia,
ficaram à distância, olhando...”. É como se a Morte do Senhor dissipasse a
trevas daqueles corações: o oficial pagão viu, mesmo na treva, as multidões de
judeus também viram e bateram no peito, as mulheres discípulas conseguiram
olhar, mesmo na treva...
- Jesus, que Tua morte nos dê Vida, que Tua Paixão nos
alivie, que a treva da Morte em que entraste nos dê luz, a luz da verdade que
enche de sentido a existência! Queremos ficar Contigo, Senhor, e, tendo
contemplado a Tua santíssima Paixão, ficaremos na vigilância, à espera da Tua
bendita Ressurreição!
Nós Vos adoramos,
Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz
remistes o mundo!
Dom Henrique venera a Cruz |
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