sexta-feira, 1 de abril de 2022

Dom Henrique Soares da Costa: Paixão segundo Lucas 15-16

“Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34).

Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas

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Paixão segundo Lucas XV: Lc 23,23-32

Enquanto levavam Jesus, pegaram um certo Simão, de Cirene, que voltava do campo, e impuseram-lhe a cruz para carregá-la atrás de Jesus. Seguia-O uma grande multidão do povo e de mulheres que batiam no peito e choravam por Ele. Jesus, porém, voltou-Se e disse: “Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos! Porque dias virão em que se dirá: ‘Felizes as mulheres que nunca tiveram filhos, os ventres que nunca deram à luz e os seios que nunca amamentaram’. Então começarão a pedir às montanhas: ‘Cai sobre nós! e às colinas: ‘Escondei-nos!’ Porque, se fazem assim com a árvore verde, o que não farão com a árvore seca?” Levavam também outros dois malfeitores para serem mortos junto com Jesus (Lc 23,23-32).

Três grupos de personagens aparecem aqui. Cada um com algo a nos dizer...

Caminho do Calvário - Duccio di Buoninsegna

Primeiro, Simão de Cirene, obrigado pelos soldados romanos a carregar a Cruz. Um absurdo, um ato de truculência. Mas Roma permitia que se obrigasse, desde que não fosse a um cidadão romano... E aquele homem de Cirene, sem saber, completava em si as dores do Salvador; sem nem imaginar, tornou-se ícone do que deve ser cada um de nós: aquele que leva com Jesus a Cruz, aquele que vai com Jesus até o Calvário. Esse Cireneu não conhecia Jesus e, ao que parece, ali converteu-se. Não, não é uma suposição piedosa, esta minha! Há um indício precioso, comovente. São Marcos quando fala do Cireneu, afirma que ele era o pai de Alexandre e Rufo (Mc 15,21). Observe, meu irmão, que o evangelista supõe que esses dois irmãos eram conhecidos na Comunidade cristã: eram cristãos. Sim, os filhos do Cireneu tornaram-se discípulos do Condenado, do Homem de dores. Não terá o velho Simão abraçado a fé? Marcos escreveu pelo ano 63 da nossa era, cerca de 34 anos após estes acontecimentos... Eu fico pensando no orgulho de Alexandre e Rufo no meio da Comunidade cristã: “Olha lá aqueles dois! O pai deles ajudou o Senhor a levar a Cruz! O pai deles, o velho Simão, tocou no sangue do Salvador, juntou seu suor ao suor do Filho de Deus, repartiu com Ele o peso da Cruz”.

- Dá-nos, Jesus, a honra que deste ao Cireneu, de levar contigo a Cruz nas cruzes da vida e nas cruzes dos irmãos, nos quais estás presente!

O segundo grupo: as mulheres. Sempre elas: mais sensíveis, mais intuitivas, mais humanas... Quantas execuções os romanos faziam por dia em Jerusalém? Quantos condenados elas já tinham visto passar por aquele caminho? E, no entanto, ainda choram, ainda se comovem, ainda lamentam! Ah, se lamentássemos, sem nos acostumar, pelos pecados do mundo, pela injustiça, pela violência, pelos nossos meninos de rua, pelo descaso para com os pobres, pela destruição metódica das famílias... Elas permanecem gente, elas continuam sensíveis! E Jesus, esquecendo-Se de Si, as consola com uma consolação tremenda: “Filhas de Jerusalém, chorai por vós, que dais à luz pecadores num mundo de pecado! Eis: se o mundo faz isto Comigo, que sou o lenho verde, cheio de vida, o que não fará com vossos filhos? Vai enchê-los de drogas, de uma vida fútil, de imoralidade, de mil artefatos eletrônicos que preenchem o tempo e esvaziam o coração... Não choreis por Mim, que sei de onde vim e para onde vou, que não estou só porque o Pai está Comigo! Chorai por vós, chorai por vossos filhos!”

Depois, um terceiro grupo, discretamente apresentado: os dois malfeitores. Lucas é claro: aqueles dois lá não eram inocentes nem boa gente: eram malfeitores! O nosso Jesus querido é igualado a eles, é nivelado com eles!

- Quão baixo descestes, ó meu Redentor, para nos salvar! Bem que esses dois malfeitores nos representam bem! Eles somos nós, que tantas vezes fazemos o mal aos Teus olhos! Jesus humilhado, Jesus rejeitado, Jesus ridicularizado, Jesus moralmente espezinhado, pelas Tuas dores físicas e morais, cura nossas feridas, tem piedade de nós!

Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz remistes o mundo!

Paixão segundo Lucas XVI: Lc 23,33-38

Quando chegaram ao lugar chamado “Calvário”, ali crucificaram Jesus e os malfeitores: um à Sua direita e outro à sua esquerda. Jesus dizia: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!”. Depois fizeram um sorteio, repartindo entre si as roupas de Jesus. O povo permanecia lá, olhando. E até os chefes zombavam, dizendo: “A outros Ele salvou. Salve-Se a Si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido!”. Os soldados também caçoavam d’Ele; aproximavam-se, ofereciam-Lhe vinagre, e diziam: “Se és o rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo!”. Acima Dele havia um letreiro: “Este é o Rei dos Judeus” (Lc 23,33-38).

Jesus entre os malfeitores, Jesus, homem entre os homens: Aquele que não tem pecado, Deus O tratou como pecado, como vítima pelo pecado, por nossa causa, para que fôssemos tornados justiça de Deus! Quem é Este, entre dois ladrões pecadores? É o Inocente que tomou a forma de Servo, a forma humana, é o Puro que entrou na fila dos pecadores, às margens do Jordão, para ser batizado por João no batismo de pecadores... Este é Aquele que tomou sobre Si as nossas dores e carregou-Se com as nossas iniquidades, Aquele, cujo castigo nos dá a paz e cujas feridas nos curaram!

Agora, Seu trono é a Cruz (“O Senhor Deus Lhe dará o trono de Davi, Seu Pai...”), agora, Ele está às portas da morte (“... e o seu Reino não terá fim”), Sua coroa é de espinhos, Seu manto é uma púrpura ridícula, Seu cetro é uma cana...

- Jesus, quanto somos capazes de Te desfigurar, ainda hoje! Quanto somos capazes de Te deformar e Te ridicularizar! Todos os anos, pelo Natal e a Páscoa, os meios de comunicação do Ocidente apresentam matérias para desacreditar o Cristianismo, para jogar no ridículo e na ignomínia os que são Teus! Todos os anos! A fraqueza de vários dos Teus discípulos, as manchas e pecados dos filhos da Igreja, são divulgadas, metodicamente, para gritar que morreste, para desmoralizar o Teu Evangelho, para esvaziar a força da Tu graça. Não se fala do bem que é feito, de tantas vidas a Ti consagradas, dos pés de tantos pobres do mundo, que os Teus discípulos, em Teu nome, lavam... Não! É preciso desmoralizar, desacreditar, ridicularizar! Que presente de Semana Santa, que surpresa de Páscoa! Dá-nos força para estar Contigo, para nunca Te deixar! Obrigado, Jesus amado, pela graça de participar da Tua Cruz e experimentar o que Tu sofreste: mentira, irrisão, armadilhas maldosas, difamação, calúnia, ridicularização. Perdoa, Senhor, os pecados dos filhos da Tua amada Igreja! Perdoa os ministros da tua Igreja que vivem indignamente! Por nossa causa, tantas vezes, o Teu Nome santíssimo é blasfemado! Queremos estar Contigo, queremos escutar aquela palavra tão consoladora: “Fostes vós que permanecestes Comigo em todas as Minhas tribulações!”.

E Jesus, mesmo num drama tão medonho, numa situação tão triste, vítima da maldade humana, vítima das piores escuridões de nosso coração, ainda assim, conserva Seu Coração puro, Seu Coração todo amor ao Pai e aos homens: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!” - Coração do meu Salvador, fornalha ardente de amor divino, fonte inexaurível de ternura, de misericórdia, de piedade! Dá-nos, Senhor a força de amar sempre, a força de nunca opor mal ao mal, ódio ao ódio! Recorda-nos sempre que a única força que pode vencer o ódio, o pecado, a mentira e a morte é o amor, este amor que nos revelaste e que agora Te faz rezar pelos que Te odeiam e, hoje como ontem, Te crucificam!

O povo permanecia lá, olhando...”. O povo olha, indiferente, somente assistindo, como a um teatro, enquanto Tu és esmagado! E, no entanto, esse povo são os judeus amados por Ti, o Povo da Primeira Aliança, o Povo escolhido e tão insensível, de cerviz tão dura... E por este Povo Tu dás a vida... Esse Povo também somos nós, é toda humanidade, tantas vezes tão indiferente ao Teu amor, aos Teus apelos, à Tua misericórdia! Perdão, Senhor! Perdão! Tua Cruz revela todo amor que Tu és e toda miséria que nós somos! Perdão!

A outros Ele salvou. Salve-Se a Si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido!Os soldados também caçoavam d’Ele; aproximavam-se, ofereciam-Lhe vinagre, e diziam: Se és o rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo!” - Eis a voz de Satanás: “Salva-Te a Ti mesmo! Desce da Cruz! Prova que és o Cristo!” É a lógica do mundo: impor-se escapando da cruz, convencer pela mídia, pelo show, pela força da propaganda, pela mentira mil vezes repetida com ares de verdade e convicção... Mas, este não é o Teu caminho, Senhor santíssimo! Tu mesmo disseste: “Quem quiser salvar a própria vida vai perdê-la; quem perdê-la por Mim, vai encontrá-la!”. Que caminho tão difícil, Jesus, esse que nos propões! E, no entanto, é o único caminho! Tu não Te salvarás a Ti mesmo, Tu irás até o fim na Tua entrega de amor! Ajuda-nos a ir contigo e com todos aqueles que por Teu Nome são pisados, como agora aqueles que procuram ser fieis à fé católica e apostólica! Senhor, és amor! Senhor, és perdão! Senhor, és entrega da própria vida! Ajuda-nos a ficar Contigo e a Te seguir! Amém.

Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz remistes o mundo!

Dom Henrique venera a Cruz

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