“Jesus dizia: Pai,
perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34).
Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas
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Paixão segundo Lucas
XV: Lc 23,23-32
Enquanto levavam
Jesus, pegaram um certo Simão, de Cirene, que voltava do campo, e impuseram-lhe
a cruz para carregá-la atrás de Jesus. Seguia-O uma grande multidão do povo e
de mulheres que batiam no peito e choravam por Ele. Jesus, porém, voltou-Se e
disse: “Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim! Chorai por vós mesmas e por
vossos filhos! Porque dias virão em que se dirá: ‘Felizes as mulheres que nunca
tiveram filhos, os ventres que nunca deram à luz e os seios que nunca
amamentaram’. Então começarão a pedir às montanhas: ‘Cai sobre nós! e às
colinas: ‘Escondei-nos!’ Porque, se fazem assim com a árvore verde, o que não farão
com a árvore seca?” Levavam também outros dois malfeitores para serem mortos
junto com Jesus (Lc 23,23-32).
Três grupos de personagens aparecem aqui. Cada um com algo a
nos dizer...
Caminho do Calvário - Duccio di Buoninsegna |
Primeiro, Simão de Cirene, obrigado pelos soldados romanos a
carregar a Cruz. Um absurdo, um ato de truculência. Mas Roma permitia que se
obrigasse, desde que não fosse a um cidadão romano... E aquele homem de Cirene,
sem saber, completava em si as dores do Salvador; sem nem imaginar, tornou-se
ícone do que deve ser cada um de nós: aquele que leva com Jesus a Cruz, aquele
que vai com Jesus até o Calvário. Esse Cireneu não conhecia Jesus e, ao que
parece, ali converteu-se. Não, não é uma suposição piedosa, esta minha! Há um
indício precioso, comovente. São Marcos quando fala do Cireneu, afirma que ele
era o pai de Alexandre e Rufo (Mc 15,21).
Observe, meu irmão, que o evangelista supõe que esses dois irmãos eram
conhecidos na Comunidade cristã: eram cristãos. Sim, os filhos do Cireneu
tornaram-se discípulos do Condenado, do Homem de dores. Não terá o velho Simão
abraçado a fé? Marcos escreveu pelo ano 63 da nossa era, cerca de 34 anos após
estes acontecimentos... Eu fico pensando no orgulho de Alexandre e Rufo no meio
da Comunidade cristã: “Olha lá aqueles dois! O pai deles ajudou o Senhor a
levar a Cruz! O pai deles, o velho Simão, tocou no sangue do Salvador, juntou
seu suor ao suor do Filho de Deus, repartiu com Ele o peso da Cruz”.
- Dá-nos, Jesus, a honra que deste ao Cireneu, de levar
contigo a Cruz nas cruzes da vida e nas cruzes dos irmãos, nos quais estás
presente!
O segundo grupo: as mulheres. Sempre elas: mais sensíveis,
mais intuitivas, mais humanas... Quantas execuções os romanos faziam por dia em
Jerusalém? Quantos condenados elas já tinham visto passar por aquele caminho?
E, no entanto, ainda choram, ainda se comovem, ainda lamentam! Ah, se
lamentássemos, sem nos acostumar, pelos pecados do mundo, pela injustiça, pela
violência, pelos nossos meninos de rua, pelo descaso para com os pobres, pela
destruição metódica das famílias... Elas permanecem gente, elas continuam
sensíveis! E Jesus, esquecendo-Se de Si, as consola com uma consolação
tremenda: “Filhas de Jerusalém, chorai por vós, que dais à luz pecadores num
mundo de pecado! Eis: se o mundo faz isto Comigo, que sou o lenho verde, cheio
de vida, o que não fará com vossos filhos? Vai enchê-los de drogas, de uma vida
fútil, de imoralidade, de mil artefatos eletrônicos que preenchem o tempo e
esvaziam o coração... Não choreis por Mim, que sei de onde vim e para onde vou,
que não estou só porque o Pai está Comigo! Chorai por vós, chorai por vossos
filhos!”
Depois, um terceiro grupo, discretamente apresentado: os
dois malfeitores. Lucas é claro: aqueles dois lá não eram inocentes nem boa
gente: eram malfeitores! O nosso Jesus querido é igualado a eles, é nivelado
com eles!
- Quão baixo descestes, ó meu Redentor, para nos salvar! Bem
que esses dois malfeitores nos representam bem! Eles somos nós, que tantas
vezes fazemos o mal aos Teus olhos! Jesus humilhado, Jesus rejeitado, Jesus ridicularizado,
Jesus moralmente espezinhado, pelas Tuas dores físicas e morais, cura nossas
feridas, tem piedade de nós!
Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos
bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz remistes o mundo!
Paixão segundo Lucas XVI:
Lc 23,33-38
Quando chegaram ao
lugar chamado “Calvário”, ali crucificaram Jesus e os malfeitores: um à Sua
direita e outro à sua esquerda. Jesus dizia: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem
o que fazem!”. Depois fizeram um sorteio, repartindo entre si as roupas de
Jesus. O povo permanecia lá, olhando. E até os chefes zombavam, dizendo: “A
outros Ele salvou. Salve-Se a Si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o
Escolhido!”. Os soldados também caçoavam d’Ele; aproximavam-se, ofereciam-Lhe
vinagre, e diziam: “Se és o rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo!”. Acima Dele
havia um letreiro: “Este é o Rei dos Judeus” (Lc 23,33-38).
Jesus entre os malfeitores, Jesus, homem entre os homens:
Aquele que não tem pecado, Deus O tratou como pecado, como vítima pelo pecado, por
nossa causa, para que fôssemos tornados justiça de Deus! Quem é Este, entre
dois ladrões pecadores? É o Inocente que tomou a forma de Servo, a forma
humana, é o Puro que entrou na fila dos pecadores, às margens do Jordão, para
ser batizado por João no batismo de pecadores... Este é Aquele que tomou sobre
Si as nossas dores e carregou-Se com as nossas iniquidades, Aquele, cujo
castigo nos dá a paz e cujas feridas nos curaram!
Agora, Seu trono é a Cruz (“O Senhor Deus Lhe dará o trono de Davi, Seu Pai...”), agora, Ele
está às portas da morte (“... e o seu
Reino não terá fim”), Sua coroa é de espinhos, Seu manto é uma púrpura ridícula,
Seu cetro é uma cana...
- Jesus, quanto somos capazes de Te desfigurar, ainda hoje!
Quanto somos capazes de Te deformar e Te ridicularizar! Todos os anos, pelo
Natal e a Páscoa, os meios de comunicação do Ocidente apresentam matérias para
desacreditar o Cristianismo, para jogar no ridículo e na ignomínia os que são
Teus! Todos os anos! A fraqueza de vários dos Teus discípulos, as manchas e
pecados dos filhos da Igreja, são divulgadas, metodicamente, para gritar que
morreste, para desmoralizar o Teu Evangelho, para esvaziar a força da Tu graça.
Não se fala do bem que é feito, de tantas vidas a Ti consagradas, dos pés de
tantos pobres do mundo, que os Teus discípulos, em Teu nome, lavam... Não! É
preciso desmoralizar, desacreditar, ridicularizar! Que presente de Semana
Santa, que surpresa de Páscoa! Dá-nos força para estar Contigo, para nunca Te
deixar! Obrigado, Jesus amado, pela graça de participar da Tua Cruz e
experimentar o que Tu sofreste: mentira, irrisão, armadilhas maldosas,
difamação, calúnia, ridicularização. Perdoa, Senhor, os pecados dos filhos da
Tua amada Igreja! Perdoa os ministros da tua Igreja que vivem indignamente! Por
nossa causa, tantas vezes, o Teu Nome santíssimo é blasfemado! Queremos estar
Contigo, queremos escutar aquela palavra tão consoladora: “Fostes vós que permanecestes Comigo em todas as Minhas tribulações!”.
E Jesus, mesmo num drama tão medonho, numa situação tão
triste, vítima da maldade humana, vítima das piores escuridões de nosso
coração, ainda assim, conserva Seu Coração puro, Seu Coração todo amor ao Pai e
aos homens: “Pai, perdoa-lhes! Eles não
sabem o que fazem!” - Coração do meu Salvador, fornalha ardente de amor
divino, fonte inexaurível de ternura, de misericórdia, de piedade! Dá-nos,
Senhor a força de amar sempre, a força de nunca opor mal ao mal, ódio ao ódio!
Recorda-nos sempre que a única força que pode vencer o ódio, o pecado, a mentira
e a morte é o amor, este amor que nos revelaste e que agora Te faz rezar pelos
que Te odeiam e, hoje como ontem, Te crucificam!
“O povo permanecia lá,
olhando...”. O povo olha, indiferente, somente assistindo, como a um
teatro, enquanto Tu és esmagado! E, no entanto, esse povo são os judeus amados
por Ti, o Povo da Primeira Aliança, o Povo escolhido e tão insensível, de
cerviz tão dura... E por este Povo Tu dás a vida... Esse Povo também somos nós,
é toda humanidade, tantas vezes tão indiferente ao Teu amor, aos Teus apelos, à
Tua misericórdia! Perdão, Senhor! Perdão! Tua Cruz revela todo amor que Tu és e
toda miséria que nós somos! Perdão!
“A outros Ele salvou.
Salve-Se a Si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido!” Os soldados também caçoavam d’Ele;
aproximavam-se, ofereciam-Lhe vinagre, e diziam: “Se és o rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo!” - Eis a voz de
Satanás: “Salva-Te a Ti mesmo! Desce da
Cruz! Prova que és o Cristo!” É a lógica do mundo: impor-se escapando da
cruz, convencer pela mídia, pelo show, pela força da propaganda, pela mentira
mil vezes repetida com ares de verdade e convicção... Mas, este não é o Teu
caminho, Senhor santíssimo! Tu mesmo disseste: “Quem quiser salvar a própria vida vai perdê-la; quem perdê-la por Mim,
vai encontrá-la!”. Que caminho tão difícil, Jesus, esse que nos propões! E,
no entanto, é o único caminho! Tu não Te salvarás a Ti mesmo, Tu irás até o fim
na Tua entrega de amor! Ajuda-nos a ir contigo e com todos aqueles que por Teu
Nome são pisados, como agora aqueles que procuram ser fieis à fé católica e
apostólica! Senhor, és amor! Senhor, és perdão! Senhor, és entrega da própria
vida! Ajuda-nos a ficar Contigo e a Te seguir! Amém.
Nós Vos adoramos,
Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz
remistes o mundo!
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