sábado, 4 de janeiro de 2020

Homilia: Solenidade da Epifania do Senhor

Santo Hilário de Poitiers
Tratado sobre o Salmo 66
Ó Deus, que os povos te louvem!

Que Deus resplandeça sua face sobre nós e tenha piedade de nós. Nós necessitamos da bênção de Deus para que sua face nos ilumine, para que a luz de seu conhecimento irradie-se sobre nossos corações obscurecidos, para que o espírito de sua majestade dissipe a obscuridade de nosso entendimento, e assim possamos gloriar-nos, dizendo: Brilhe sobre nós, Senhor, a luz de vossa face. Esta iluminação de sua face sobre nós é dom de sua misericórdia, misericórdia esta que iniciou sua obra em nós com a remissão dos pecados. As palavras que seguem depois nos esclarecem o porquê se pede a iluminação da face de Deus sobre nós.
Para que conheçamos na terra os teus caminhos e em todos os povos a tua salvação. Segundo a correta versão grega, pedimos para ser iluminados pela face de Deus para que seja conhecido na terra o seu caminho, que é o ensinamento da vida religiosa: por ela, de fato, caminha-se até Deus. E o ensinamento da vida religiosa é Cristo. Nos Evangelhos, Ele mesmo se identifica com esse ensinamento ao dizer: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. E novamente: Ninguém vai ao Pai a não ser por mim.
Que Jesus seja o Salvador, basta analisar o significado do vocábulo para percebê-lo, pois em hebraico Jesus significa “Salvador”. A confirmação desta afirmação a temos no que diz o anjo ao falar com José sobre Maria: Dará à luz um filho, e lhe porás por nome Jesus, porque Ele salvará seu povo de seus pecados. Portanto, o anjo afirma que a razão pela qual se deve nomeá-lo de Jesus é porque Ele está chamado a ser o Salvador do povo. Os Apóstolos se confessam incapazes de pregar a mensagem evangélica se não são iluminados, se não irradiam um pouco do esplendor da face do Senhor. Pois, segundo o Evangelho, também eles são luz do mundo.
Porém, o Senhor é a luz verdadeira que ilumina Apóstolos e profetas para que também eles possam ser luz. A toda esta pregação profética e apostólica deve seguir o louvor dos povos e a alegria pela remissão dos pecados; e não somente pela remissão dos pecados, mas também pela certeza de que o mesmo que perdoou os pecados julgará os povos com equidade, e conduzirá pelo caminho da vida todas as nações da terra que, abandonando o erro da idolatria, são instruídas no conhecimento de Deus. Por isso acrescenta o salmista: Ó Deus, que te louvem as nações, que todos os povos te louvem, porque reges o mundo com justiça e governas as nações da terra.
A expressão “que os povos te louvem” parece designar os crentes ou os que no futuro crerão procedentes das doze tribos de Israel, enquanto que as palavras “que todos os povos te louvem” não exclui povo algum. O texto “cantam de alegria as nações, porque rege o mundo com justiça e governa as nações da terra” indica como causa da alegria a esperança do juízo eterno e o ingresso das nações no caminho da vida.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 48-49. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Basílio para esta Solenidade clicando aqui.

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